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O mês de Agosto é o tempo ideal para que na Comunicação Social e os veraneantes à roda da mesa de café discutam o premente problema do “idadismo” dentro das empresas, ou seja, o preconceito e as consequentes manigâncias e malfeitorias de que os mais velhos são capazes de perpetrar contra os jovens, vítimas de discriminação em função da idade, impedidos duma salutar progressão na carreira. Segundo a investigadora da FFMS Susana Schmitz, “o idadismo pode constituir um obstáculo à retenção de talento, levar a que os trabalhadores mais jovens não se sintam valorizados” que alerta para a necessidade das empresas criarem mecanismos para quebrar estereótipos, tão funestos quanto o racismo ou o sexismo. Ouvi esta manhã na Rádio Observador, palavra d’ honra...
Assim como assim, neste mês de batizados nas aldeias eu prefiro trazer à colação deste blog a decadência sinalizada pela multiplicação de nomes próprios absolutamente inéditos como Bekoloya, Karen, Priscilla, Jéssica, Ticiane, Vivienne, Heltrício, Kévim, Jovânio, Kellys, Suellen, Aarica, Abimaela, Basiru, Daizara, Elisângela, Silivondela, Deocliciano, uma criatividade capaz de pasmar o mais experimentado padre ou notário. Por mim, evito adjectivar tanta imaginação. A minha teoria, partilhada à mesa do café em gozo de férias, é a de que os abençoados progenitores dessas crianças, intuindo a raridade estatística que é por estes dias trazer uma nova vida ao mundo, o afirmam pela originalidade do nome. Talvez se pretenda deste modo declarar os filhos como únicos, tesouros absolutamente singulares como se fossem de geração espontânea. Ou um fenómeno do hiperindividualismo a que a História no Ocidente hedonista nos conduziu e produz.
Quanto à originalidade de cada criatura, oriundo duma família cristã, cedo compreendi como cada um acontece único na história, que “até os fios de cabelo da vossa cabeça estão todos contados. Não temais!“ (Lucas 12 – 7), mas que, sendo filhos únicos de Deus só nos realizamos em face dos outros e da história comum que nos cabe fazer parte e construir com os dons de cada um. Somos todos herdeiros e deixamos legado. Talvez por isso os meus nomes próprios tenham sido várias vezes repetidos por várias gerações atrás.
Curiosamente, na minha ascendência tanto materna quanto paterna, as criancinhas eram baptizadas com nomes herdados dos avós ou dos padrinhos, sinalizando a continuidade do sangue, como se quisessem atribuir a cada novo Ser um lugar numa corrente construtora de uma história feita de pertenças e dependências. Como antigamente se tinham muitos filhos, havia sempre lugar a alguma improvisação nos nomes dum ou doutro, mas quase sempre em homenagem a um determinado santo, ou personagem histórica, quase sempre bíblica, que fosse inspiradora de heroicidade e erudição. Nessas famílias seguiam-se regras bastante claras de atribuição do nome ao primogénito em que se incluía o nome da devoção familiar e dos seus santos patronos. Por exemplo, no caso da família da minha mãe, o nome do filho mais velho, em seis gerações, variou exclusiva e intercaladamente entre José Joaquim e João António, facto que reflecte uma circular geometria harmónica, que subsiste até aos dias de hoje, com o significado da continuidade de uma história cujo simbolismo ultrapassa a contingência do individuo circunstancial no tempo.
Se os novos e estrambólicos nomes próprios forem apenas isso, inéditos, espera-se que deixem pegadas de memória. Só aprendemos a construir o futuro com memória, dos erros e sucessos. É disso que é feita uma Família, uma Comunidade, uma Nação. Daí que espera-se que cada nome conte uma história e que conte para a História.
Na fotografia: o meu filho e sobrinhos em férias numa terriola do interior de Portugal. Todos vamos para velhos...
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