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Os últimos dias foram um inegável desastre para a reputação do Governo de Passos Coelho. Soaram patéticas as declarações de Paulo Portas ontem sobre a pretensa xenofobia ao Norte por causa da designação de Álvaro castelo Branco como administrador da empresa Águas de Portugal. Ao mesmo tempo, o 1º Ministro veio a terreiro negar peremptoriamente qualquer interferência directa ou indirecta do Governo nas recentes nomeações para a EDP. Mesmo que tal seja um facto ninguém acredita: acontece que numa conjuntura dramática como a que estamos a viver não basta ser sério, tem que se parecer sério, sob o perigo de delapidar ainda mais a depauperada confiança no regime e acicatar o ressentimento social.
Está na altura do total pragmatismo e da tolerância zero a quaisquer equívocos: o corte radical às nomeações. Será “pecado” ser militante de um partido do governo para assumir responsabilidades em empresas e projectos com ligações ao Estado? Se calhar nas actuais circunstâncias é. Por um bem maior: para salvaguarda da tarefa titânica que o governo enfrenta e a fragilizada estabilidade social, neste estado de emergência em que vivemos. Por Portugal.
Enquanto não forem “tecnicamente” possíveis despedimentos na função pública, pouca coisa será possível fazer para domesticar o monstro que verdadeiramente consome os recursos financeiros do nosso país subjugado pela dívida. Por isso é com alguma apreensão que leio aqui que o governo pondera atender à proposta de António José Seguro de sustentar em 2012 um dos subsídios aos funcionários do Estado, coisa que se resolve com mil milhões de euros que logo se vê onde se os vai buscar, que isso da receita fiscal já deu o que tinha a dar.
A aberração paternalista dos “subsídios” de Natal e de Férias, um vício há muito inculcado nos portugueses como panaceia da baixa média salarial, carece de urgente terapêutica de desabituação. Até porque sabemos bem como isso das “médias” promove equívocos grosseiros, como a velha história do meio frango por habitante, que ilude a realidade dos que verdadeiramente comem e dos que não comem frangos. Além do mais, o 13º e 14º meses constituem a maior parte das vezes um quebra-cabeças para as tesourarias das empresas, porque não crescem o dobro das alfaces nem se pesca o dobro dos peixes, não se limpa o dobro do lixo ou se fazem o dobro das camas nem se vendem o dobro dos jornais por ser Natal ou tempo de praia.
A ser verdade que o governo equaciona desembolsar mil milhões de euros da senhora Merkel com os seus funcionários, seria bom que os facultasse em doze avos, ou seja na forma de vulgar actualização salarial, por forma a serem geridos pelos próprios, não em função dos eventos do calendário mas das suas concretas prioridades.
A ausência estrategica, à vez, do primeiro-ministro e ministro das finanças dum debate da importância como o de hoje em S. Bento, a "casa da democracia" ou "da soberania" como lhe chamou Paulo Portas, não significa certamente uma vontade de corresponderem aos reptos de Sampaio e Alegre ao diálogo e dar prioridade ao interesse nacional. Depois do manifesto desrespeito pelos partidos e chefe do Estado, hoje foi a altura de Sócrates e Teixeira dos Santos demonstrarem o seu inequívoco desprezo pelo parlamento. Gente ordinária e indigna, esta.
As medidas de austeridade, a campanha presidencial, o caso BPN, há algum tempo evidenciam um fenómeno esquizofrenia no partido do governo, que se vem afirmando simultaneamente como de oposição: as tropas socialistas, de Ana Gomes que se insurge contra os Negócios Estrangeiros de Amado, a Alegre que apoiado pelo governo apoia a Greve Geral e reclama a inconstitucionalidade da cobrança de taxas moderadoras da minsitra Ana Jorge, passando pelas vozes mais improváveis que se insurgem contra o escândalo do BPN, como se a decisão da sua nacionalização não pertencesse ao executivo, ou os notáveis que hoje reclamam contra a suposta "agenda liberal" da União Europeia e que há bem pouco tempo nos Jerónimos se acotovelavam íntimos de Durão Barroso & Cia. Afinal toda esta cacofonia levanta uma nuvem de fumo que espelha bem o pântano em que o país se atolou e se teme aprenda a sentir-se bem.
Acontece que a política não permite espaços vazios, e perante o persistente silêncio de Passos Coelho (lembram-se da crucificação Manuela Ferreira Leite por essa mesma razão?), o discurso anódino de Cavaco Silva, e a direita envergonhada que nos coube em sorte, compete por estes dias ao Partido Socialista fazer a festa, atirar foguetes e apanhar as canas.
Estudo de opinião efetuado pela Eurosondagem, S.A. para o Expresso, SIC e Rádio Renascença, de 06 a 12 de Outubro de 2010 publicado aqui.
As sondagens da Universidade Católica hoje divulgadas constituem uma angustiante "não notícia": apesar do partido socialista em queda elas ostentam ainda uma galhofeira maioria de esquerda, com a abstenção de mais de metade inquiridos, factor que as tornam manifestamente inconclusivas.
Enquanto o poder é tratado como uma batata quente que ninguém quer disputar, tragicamente o que nos sobra para os próximos meses, além do desemprego, do estio e da paria, é uma dramatização da discussão em torno das eleições presidenciais, uma espécie de silly season política, um fogo fátuo para alimentar intrigas e parangonas nos jornais, manter entretidos os gabinetes e suas clientelas, enquanto o país se afunda na pobreza e na desmotivação generalizada.
Chamemos os bois pelos seus nomes: é comprovadamente irrelevante para o sucesso do nosso desgraçado país o nome do próximo inquilino de Belém.
* José Sócrates hoje na Assembleia da República no final do debate.
O primeiro-ministro confessou hoje aos jornalistas, no final do debate quinzenal no Parlamento, que “muitas vezes sinto-me sozinho a puxar pelo País”. Os Portugueses registam este sentimento mas, em grande maioria, entendem dever libertá-lo deste enorme fardo... Não é preciso fazer mais sacrifícios pelo País Sr. Primeiro-Ministro...
Podem consultar aqui a lista dos acontecimentos que devem ser qualificados como sendo de interesse generalizado do público. Futebol, futebol e futebol, bicicletas, andebol e hóquei e mais uns pozinhos de coisas desportivas (que o desporto é bom e faz bem, especialmente vê-lo, mais do que praticá-lo…).
Os obcecados com a bola percebem, finalmente, que o Governo interferir na programação da Comunicação Social é, afinal, uma coisa boa. Os outros ficam a saber que o que vêem na TV não passa de trampa e que apenas existe para preencher os espaços vazios entre “acontecimentos de interesse generalizado do público”.
O XVIII governo aqui
Provavelmente a parte mais interessante da entrevista a José Sócrates foi o momento em que foi apresentado o seguinte gráfico:
Apesar da manifesta falta de clareza causada por um print screen manhoso e uma colagem no paint, consegue-se perceber o conteúdo.
Ora, o que é que este gráfico nos mostra? Mostra que de acordo com o Orçamento de Estado de 2008 tínhamos um encargo em relação às parcerias público-privadas que atingia o seu pico nos 1400 biliões de euros (1 400 000 000 000 €) mais ou menos a meio da legislatura que começa em 2013. Todos os encargos estariam pagos até 2038.
Com o Orçamento de estado para 2009 acontece algo muito interessante. Os encargos até 2013 decrescem de forma consideravel e aumentam exponencialmente a partir dessa data, ficando ainda muito por pagar em 2038.
Qual é o problema disto, perguntaria uma mente distraída. O problema de tudo isto é que sabe-se à partida que o PS de José Sócrates vai ganhar as eleições legislativas deste ano, significando isso a permanência em S. Bento até 2013. Como é fácil de constatar, é muito difícil que um governo se mantenha mais que dois mandatos, por isso, o mais provável é que em 2013 S. Bento passe a ser ocupado por um social-democrata. Ora, esse social-democrata terá um complicado problema orçamental entre mãos, vendo os encargos do Estado com as referidas parcerias público-privadas quase duplicar logo no início da sua legislatura.
Premeditado? Contas feitas para arruinar a governação de quem vier a seguir? Tem sido feito com frequência ao longo de vários anos de pretensa democracia, não sei se é o caso, mas a sê-lo, demonstraria uma face quase maquiavélica de toda uma administração: mostraria a ambição do poder pelo poder.
Agora fiquei mesmo preocupado. Pensava eu, e penso ainda, que Teixeira dos Santos era o melhor ministro deste Governo. Vem o Financial Times, como o João muito bem observa no postal abaixo deste, e declara-o o pior ministro da Europa. O que diriam eles se alguma vez tivessem ouvido falar em Jaime Silva ou Manuel Pinho?
Não podemos criticar José Sócrates por violar promessas eleitorais e depois pretender que faça aprovar leis que não propôs ao eleitorado, caríssima Cristina. Os casamentos homossexuais não constavam do programa que os eleitores sufragaram em Fevereiro de 2005: faça-se a justiça ao primeiro-ministro de que, pelo menos nesta matéria, não serve gato por lebre. Bem bastam as promessas que fez e não cumpriu - a realização de um referendo europeu, os 150 mil novos empregos, as SCUT intocáveis e o crescimento económico de 3% ao ano, por exemplo. É por isto que os eleitores o julgarão nas urnas em 2009 - não por ter recusado pôr em prática o programa eleitoral do Bloco de Esquerda.
A última coisa que José Sócrates fará, neste ano que falta para as próximas legislativas, é entrar em conflito com o Presidente da República - cenário que desfaria qualquer hipótese ainda credível de renovar a maioria absoluta. Cavaco Silva deu neste Verão sinais suficientes de que a "cooperação estratégica" tem limites, na óptica de Belém. Foi assim na lei do divórcio, no estatuto dos Açores e na vaga de crimes que mereceu uma palavra de alerta da sua parte. O disparatado remoque do ministro Rui Pereira à demora da publicação da lei orgânica da GNR na Presidência da República - e a pronta reacção de Cavaco, em comunicado - indicam que o ministro da Administração Interna, um dos maiores coleccionadores de cargos da actual classe política, tem os dias contados neste pelouro. Aguarda-o um destino semelhante ao do infausto Correia de Campos mal deixou de estar nas boas graças de Belém. Sócrates não dorme em serviço: cada ponto nas sondagens conta.
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Reprise governamental. Do Rui Vasco Neto, no Sete Vidas Como os Gatos
Por menos que isto, Cavaco Silva demitiu um ministro. E fez muito bem.
Reagindo (tarde e a más horas) à agressão aos juízes de Santa Maria da Feira que chocou o País, o ministro da Justiça não conseguiu melhor que isto: "Em muitos países do mundo existem incidentes desta natureza e em número bastante mais elevado." É capaz de ter razão: consta que no Zimbábue as coisas são piores...
Cada vez me convenço mais que Sócrates terá de fazer uma remodelação governamental, seguindo o exemplo de Zapatero, que substituiu quatro ministros a seis meses das legislativas de 9 de Março. É quase uma questão de sobrevivência política: nem a sua boa estrela consegue já protegê-lo de tantos dislates que os Pinhos, os Linos, os Costas e os Silvas vão propagando em doses imoderadas.
Depois de Mário Lino, também Jaime Silva se transforma em ministro virtual. Com este treino, quando deixar de ser primeiro-ministro, José Sócrates ainda vai dirigir o Regimento de Sapadores Bombeiros.
Depois dos médicos, dos professores e dos sindicalistas em geral, os militares. Com medidas impensáveis num regime democrático. Este Governo não acerta uma. Resta-lhe a sorte de continuar sem oposição à direita. Mas a sorte não dura sempre.
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