Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Ritual cristão da Imposição das Cinzas (Quarta-feira de cinzas)
O nosso calendário apresenta alguns exemplos de festas e comemorações que se mantêm em dias de trabalho. Tirando o fenómeno recentemente importado do S. Valentim cuja intensa exploração comercial o promove, outras celebrações há em que não sendo feriados ou como tal tendo sido extintos, se mantiveram, sustentados pela devoção religiosa ou simples tradição popular: destaco o Dia de Reis, a Quarta-feira de Cinzas e o dia de S. Martinho. Neste último caso, apesar da fascinante lenda que perpetuou esse grande herói da Igreja, é mais pela ligação popular ao calendário agrícola que a festa hoje persiste transversalmente na cidade e no campo, ocasião para se provar o vinho novo acompanhado com castanhas assadas. O dia dos Reis, importante feriado nas celebrações do Natal cristão em Espanha, apesar de dia de trabalho em Portugal, mantém-se tradição nos lares Portugueses, festejada com o popular bolo de frutos secos que relembra os magos do oriente que despojados seguiram a estrela até ao presépio de Belém. A celebração litúrgica (a Epifania) transitou para o Domingo seguinte. Quanto à Quarta-feira de Cinzas, uma espreitadela nas missas do dia confirmará como é significativa a adesão dos fiéis a esta celebração que marca o início da estação espiritual mais importante do cristianismo... o tempo da Quaresma, rumo à Páscoa.
Na certeza que a sua sobrevivência será directamente proporcional à implantação popular, resta saber o que advirá das festividades cujos feriados o governo promete extinguir. Pela minha parte, auguro boas perspectivas para as festas da Assunção de Nossa Senhora que decorrem por toda a província em pleno tempo de férias, e sorte proporcionalmente inversa ao culto do fatídico 5.10 na Praça do Município, cuja liturgia já nem a nomenklatura do regime comove. A tudo o mais, fica por saber como sobreveviremos como povo.
Álvaro Santos Pereira veio ontem "anunciar" que Governo vai propor aos parceiros sociais a eliminação do 5 de Outubro e do 1.º de Dezembro. A procissão voltou ao adro, esta notícia podia ler-se há três meses e o 5 de Outibro jamais deveria ser comemorado. Mas é assim que se mantêm as hostes radicais de esquerda entretidas a rasgar as vestes em indignações de substituição. Suspeito que tudo isto não passa de uma triste manobra de diversão, enquanto se protelam as urgentes reformas ao sistema.
Imagem daqui
Que ingénuos acreditaram que se ia deixar de festejar (fazer festa) com a virulenta e sanguinária revolução do 5 de Outubro, pela simples cedência do 1º de Dezembro, dia da Restauração da Independência Nacional?
Eis a razão profunda do nosso atraso: a casta caquéctica e facciosa, que com mais ou menos secretismo e às vezes descaramento controla o País há demasiado tempo. Mas o mais grave é o fenómeno que se encontra do outro lado da barricada: aí revela-se a apatia e complacência (ou cobardia) daqueles que penhoram valores fundacionais da nossa nacionalidade por um prato de lentilhas, umas telenovelas ou reality shows no quentinho da sua medíocre existência. Como diz o meu amigo Jorge Lima, a fractura não é hoje entre esquerda e direita. É entre patriotas e vendidos. Ou entre cultos e ignaros. Entre gente com espinha e oportunistas plebiscitados.
A ser verdadeira a notícia publicada hoje no Correio da Manhã de que, além da eliminação acordada com a Igreja dos feriados Assunção de Maria e Corpo de Deus, o governo propõe o fim dos feriados de 5 de Outubro e do 1º de Dezembro, tal aparenta ser uma medida que visa reciprocidade, no contraponto de duas sensibilidades políticas marcadas na nossa cultura; no fundo para assim calar as hostes com uma espécie de lei de talião: nem “tradicionalistas” nem “progressistas” (e desculpem-me estes equívocos chavões) se ficam a rir. Esta solução aparentemente equitativa esconde um grave engano, já que, sendo consensual que a revolução de 5 de Outubro dividiu profundamente o país, é inegável que a restauração da independência uniu os portugueses em torno dum projecto de independência e soberania, hoje mais do que nunca ameaçado. A decisão de acabar com o dia da Restauração encerra um enorme simbolismo: quem é que por estes dias quer saber verdadeiramente dessa coisa extravagante chamada soberania, ou ainda desse capricho da “independência”
“A igreja naturalmente pode conversar sobre este assunto (discutir com o Governo a extinção ou a deslocação de feriados religiosos), (...). Naturalmente partindo do pressuposto que o Governo diminui um ou alguns feriados civis" declarou afirmou o padre Manuel Morujão ao Público.
Arriscando escandalizar alguns dos meus correligionários, confesso que concordo com o princípio duma redução de feriados em Portugal. Tal como o Henrique Raposo eu trocaria de caras o 10 de Junho, um resquício salazarista que este regime ainda não teve a coragem para apagar, pelo 1º de Dezembro em que se celebra um decisivo acontecimento histórico nacional. E se fosse eu a mandar, também trocaria o 25 de Abril pelo 24 de Julho ou pelo 25 de Novembro… É assim que, no impedimento duma unanimidade, arrisco afirmar que a proposta de Teresa Venda e Maria do Rosário Carneiro faz algum sentido e parece-me bastante equilibrada: mesmo perdendo o 1º de Dezembro, a racionalidade prevaleceria ao prescindirmos do 5 de Outubro, uma aberração para a qual nunca descobri uma fundamentação sólida - refiro-me à teoria que atribui à data a efeméride da assinatura do Tratado de Zamora que aqui defende o João Campos. De resto, já quanto às festividades religiosas, há algumas delas bastante importantes que hoje em dia não beneficiam de feriado, como é o caso da Quarta-feira de Cinzas e celebração do Lava-Pés na Quinta-feira Santa às quais um bom católico não deve faltar.
Finalmente, discordo da opinião do meu camarada Pedro Quartin Graça ao criticar a perspectiva economicista das deputadas socialistas: esquece-se porventura que nunca como hoje a soberania nacional esteve tão ameaçada, não por falta das celebrações como as do 1º de Dezembro, feriado que poucos lhe conhecem a origem, mas por culpa dum enraizado e mui latino desprezo por um certo pragmatismo que promova mais rentabilidade ao trabalho em Portugal. De qualquer forma, indiscutível é a insustentabilidade dos quase cinquenta dias de folga que gozam os portugueses anualmente. Mas para mudar qualquer coisa seria necessária alguma racionalidade e cedências das partes, o que à boa maneira portuguesa se me afigura impossível. Assim nos afundamos nesta paz podre e morte lenta.
Confesso que não entendo a proposta das deputadas Teresa Venda e Maria do Rosário Carneiro de se cortar nos feriados para poder aumentar o salário mínimo nacional. Ou melhor, perceber percebo, agora não posso é concordar com ela. É que há "coisas" que não têm preço. Uma dessas "coisas" é a comemoração de uma data importante para o País. Quando até essas datas esquecemos é mais um pedaço de memória que se perde. De memória colectiva, aquela que pertence a todos nós, que passa à história. Tal sucederia se a proposta das deputadas independentes pelo PS fosse aprovada: é que entre feriados religiosos e uma das duas principais datas da história de Portugal, a par com o 10 de Junho, o dia 1º de Dezembro, data da Restauração da independência de Portugal, ficaria sem o condigno registo oficial e popular. Seria uma situação inédita à escala mundial aquela que nos é proposta, mais um contributo para a lógica totalmente economicista que tem dominado Portugal e que, recentemente, esteve uma vez mais bem visível aquando da mensagem do Presidente da República sobre a promulgação do casamento "gay". Esta proposta é tanto mais estranha quanto vem de duas destacadas membras do Movimento Humanismo e Democracia, integrantes da bancada parlamentar do Partido socialista. Coisas...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Não há como discordar Felizmente temos blogs com o...
de vez em quando você diz umas coisas acertadas e...
Eu vi a entrevista em directo e fiquei muito incom...
É do mais simples que há: o acesso é verificado co...
Há sempre uma coisa que tenho em mente e que se co...