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No passado Domingo na Quinta das Conchas ao Lumiar decorreu durante o dia a "Festa da Família", uma jornada com actividades diversas organizada pelo Patriarcado de Lisboa que contou com a participação de vários movimentos católicos e culminou numa missa campal presidida pelo Cardeal Patriarca que reuniu centenas famílias e onde se abençoou cerca de 200 casais que celebravam este ano 10, 25, 50 e 60 anos de casamento.
Estranha é a invisibilidade mediática deste acontecimento, pela sua relevância e grandiosidade, tanto mais numa conjuntura em que tanta falta faz evidenciar a fecundidade do perene modelo de família cristã que todos sabemos vai rareando e cedendo à hegemonia da cultura individualista e hedonista. Desconfio que estamos (alegremente) a cavar a sepultura da nossa civilização.
Fotografia daqui
Feliz coincidência é o Chefe da Casa Real Portuguesa ter nascido a 15 de Maio, data em que veio a ser instituído o Dia Internacional da Família, uma efeméride que ganha importância num tempo de desagregação e decadência deste testado modelo de organização social que os Duques de Bragança tão bem dignificam. Ao Senhor Dom Duarte de Bragança aqui presto a minha homenagem e profunda gratidão pela incansável dedicação a Portugal e aos portugueses ao longo de toda sua vida. Muitos parabéns e longa vida, são os meus sinceros votos.
Foto daqui
É em modo de conversa de café que me imiscuo nesta civilizada discussão entre a Maria João Marques e a Daniela Silva no blogue Insurgente sobre a virtude das famílias numerosas com origem neste artigo do Henrique Raposo. Para tal, parto duma percepção que intuo com clareza, que resulta num profundo cepticismo nas famigeradas políticas de incentivo à natalidade. Não creio que mais ou menos substanciais apoios fiscais ou outras medidas de discriminação positiva para os casais com mais filhos, para além de intrinsecamente justos, produzam significativas alterações a uma realidade com tão profundas raízes culturais. Tal como não é possível imobilizar a marcha de um longo e pesado comboio em cinquenta metros, vai demorar muito tempo a travar o inverno demográfico que vai alastrando pelo ocidente judaico-cristão.
Irónico é como a “revolução demográfica” (enorme aumento da natalidade e longevidade) ocorrida na Europa entre os Séc. XVIII e XIX com origem no desenvolvimento da agricultura, numa melhor alimentação e nos avanços da medicina, tenham confluído no desenvolvimento socioeconómico e científico que por sua vez proporcionaram nos anos sessenta do século passado a descoberta da pilula contraceptiva. Esse prodígio da ciência vem resultar numa travagem a fundo no baby boom do pós-guerra e é, no final de contas, a génese da crise demográfica com que nos debatemos por estes dias e se confunde com a decadência do nosso modelo de sociedade. Paralelamente, este fenómeno é o culminar dum longo e continuado processo de emancipação feminina, em que a mulher vê finalmente a sua sexualidade “liberta” do cativeiro da maternidade, do estatuto de mãe, que nos nossos tempos perde progressivamente prestígio, adquirindo até uma conotação negativa entre as elites dominantes. Ora o problema é que, com a água do banho, literalmente despejou-se o bebé pela janela fora da nossa civilização.
É por essa via que nos vemos chegados ao modelo cultural marcadamente estéril da actualidade, da cosmopolita e próspera família monoparental e do filho único, integrado numa cultura hedonista e securitária em que qualquer prenúncio de imprevisibilidade é ameaça, e nesse sentido vai ganhando contornos eugenistas. Somos todos mais felizes?
Perante o atrás descrito, estou convicto que para a solução da crise demográfica urge uma revolução cultural, no seu sentido etimológico de retorno ao ponto de partida: a valores que recuperem os ancestrais modelos de organização familiar e a consequente devolução do prestígio da maternidade como realização do Amor pleno, inteiro. A defesa duma ecologia que devolva o apreço pelos sinais da natureza, mas desta vez humana, dos seus ciclos e impulsos biológicos, naturais e legítimos; enfim que exalte a dignidade e honorabilidade de uma família grande em generosidade.
Nesse sentido urge uma radical e continuada acção de Relações Públicas que contrabalance a estigma vigente, que esta pequena história é exemplo: após o nascimento do seu quinto filho uma parente minha foi abordada na maternidade pela enfermeira de serviço que ao constatar o seu histórico de maternidade, desabafou em tom de desdém qualquer coisa como “Nossa, isso é coisa de negro”.
Estas linhas não servem para fazer qualquer juízo sobre os princípios ou circunstâncias que presidem as escolhas de cada indivíduo ou casal – se assim fosse elas constituíam em certa medida um exercício de autocrítica. Por certo que o facto de ter muitos, poucos ou nenhuns filhos não qualifica à partida uma mulher ou um casal. O problema é que até a corroboração dessa neutralidade está longe de vigorar na estética vigente. Por tudo isto, nos nossos tempos são de bem-dizer e abençoar as famílias grandes, Maria João.
Ilustração: José Abrantes - direitos reservados
A crónica desta semana de Rui Ramos no Expresso toca na ferida, foca aquele que é o grande pesadelo das sociedades democráticas liberais, que em Portugal se revela de forma bem severa: a crise na família tradicional, fórmula experimentada para o sucesso individual e civilizacional. O tema, como refere o autor, não é de fácil abordagem, mas é urgente a ousadia de o abordar sem tabus, e sob outro pretexto que não da sustentabilidade das pensões e da empregabilidade dos professores.
Observemos os factos: Os dados do INE indicam que o número casamentos tem diminuído 8% ao ano (12% no caso dos casamentos católicos), e que os divórcios têm registado um crescimento anual de 3% por cento. A ser assim, em 2012 haverá em Portugal 27 400 casamentos, contra os 49 178 de 2004 e 30 150 divórcios, ao invés dos 23 348 verificados em 2004. Da constatação da crise na família tradicional, contrapõe-se que desta dinâmica de "emancipação individual" brotaram conceitos alternativos de família, sempre exaltados pela nomenklatura do politicamente correcto. O problema é que esses modelos emergentes da “revolução cultural” se revelam totalmente estéreis, eu diria decadentes: Em 2012 em Portugal, o número de nascimentos caiu para menos de 90 mil, o valor mais baixo dos últimos 60 anos - 1982 foi o último ano em que houve substituição de gerações. Nesse sentido repito uma nota que aqui deixei há dias: a origem do decréscimo de nascimentos é de índole cultural e não se inverte com estímulos financieros do Estado. Por isso é que sou forçado a concordar com Tiago Cavaco citado por Rui Ramos na sua coluna: “constituir família é a suprema forma de rebeldia”. E os cristãos praticantes são a “real contracultura”.
Título roubado do tema musical de Tiago Cavaco Faz Filhos, do seu mais recente álbum.
Depois do Natal vem o Domingo da Família… Da Sagrada Família. Será a família uma coisa sagrada? Hoje fala-se de famílias alternativas. Sociólogos e psicólogos falam-nos de famílias monoparentais, co-parentais, sem filhos, com filhos de outros… Em tudo isso ondes estará o Sagrado? O Sagrado é o Amor, o que equilibra e faz crescer: é o que humaniza. O mundo precisa de espaços sagrados e de relações sagradas: deseja famílias que o sejam. O resto parece, mas disfarça mal a violência que esconde.
Vasco Pinto Magalhães, s.j
Não há soluções há caminhos - Tenacitas
Martim Avillez Figueiredo na sua crónica de hoje do Expresso traz à estampa o interessante debate sobre a importância da família, no lugar do “indivíduo” como alvo alternativo das políticas sociais. Aludindo a teses do académico dinamarquês Gota Esping-Anderson e da democrata americana Isabel Sawhill, ele refere como as pessoas podem ser ajudadas através da melhoria do background familiar, e como afinal é esse o pilar que falta privilegiar nas modernas políticas sociais. É aí, defende, onde melhor “circulam os apoios, suavizando assim o estigma dos subsídios e assegurando uma rede de solidariedade entre pessoas que se conhecem” num sistema orgânico de auto-regulação.
Supondo que sobrevivia às instaladas tendências libertárias, receio que este pertinente debate tenha chegado tarde demais. Tenho muitas dúvidas de que a família na sua concepção tradicional, de comunidade solidária, necessariamente hierarquizada, simultaneamente tolerante e reguladora, acolhedora mas circunscrita, sobreviva à voracidade da adolescentocracia predominante. Porque uma família, mesmo sem a rigidez de outrora, nunca pode ser “relativa” e volúvel à precariedade das paixões momentâneas individuais. A família, sendo um espaço promotor de liberdade, cobra caro as infidelidades e é exigente nas contrapartidas. Acontece que limitados que são os recursos materiais e afectivos disponibilizados ao grupo, a salvaguarda da sua coesão obriga os seus membros ou candidatos a desafiantes rituais de entrada e à repressão de veleidades hedonistas, que afinal constituem a ameaça a um irreversível processo da extinção.
O Benfica apresentou ontem no jogo com o Trabzonspor, pela primeira vez na sua história, uma equipa sem um único jogador português. O facto em si é de pouca monta face aos desafios que o País enfrenta, mas definitivamente constitui um terrível sinal dos tempos, além duma radical reviravolta no Clube, se tivermos em conta o extremo nacionalismo que ele ostentava orgulhosamente nos anos 70.
Sobre o tema da internacionalização das equipas e selecções, há dias o Daniel Oliveira opinava na sua coluna do jornal Record que a questão não o incomodava. A coisa percebe-se do ponto de vista do pensamento dominante, com raízes na interpretação da História sob a perspectiva da Luta de Classes numa dinâmica “internacionalista”… ou simplesmente “desconstrutiva”.
Indo ao fulcro da questão, pela parte que me toca, continuo a atribuir grande importância ao conceito de Nação, por estes dias uma maldição inflamada por um tarado Norueguês. Pela simples razão de que entendo o Homem como um Ser essencialmente gregário, e cuja civilidade emerge duma lógica fundada numa diversidade hierarquizada de associações interactivas, complementares e concorrentes. Como aqui defendi em tempos, considero como núcleo fundamental desta dinâmica a família alargada, que quando alicerçada em sólidos valores constitui o garante duma diversidade estética e cultural da sociedade: cada uma possuidora do seu legado de informação transgeracional, a família resulta num insubstituível microcosmos, plataforma insubstituível de mediação dos seus elementos com a Polis e com o Mundo, sem a qual os cidadãos se tornam mais vulneráveis, qual papel em branco fácil de ser preenchido e doutrinado por qualquer sinistro poder exógeno.
Com todos os seus defeitos, as diversas formas de organização comunitária das pessoas, constituem em si e entre si, pelos factores e carismas que os constituem, elementos que promovem a autodefesa, promoção e competitividade dos grupos. Não é por acaso que a Cidade, Vila ou Aldeia de origem é usualmente considerada com orgulho na apresentação das pessoas. Tal como uma família desfeita ou Nação desvirtuada dos seus valores, gentes e costumes, uma equipa de futebol sem referências da comunidade em que se insere está fragilizada, tornada um bando mercenário, numa lógica mercantil, sempre assim exposta à desagregação. A cor de uma camisola, ou duma bandeira sem consubstanciação numa determinada (definida) cultura ou carisma, é definitivamente fraca inspiração para a superação dos indivíduos, logo do grupo e dos seus apoiantes, tornados órfãos da sua razão de ser. Estas fragilidades, parece-me, influenciam a decadência das Nações.
Um dos direitos que me confere o estatuto de “chefe de família”, é, quando em casa nos encontramos reunidos à mesa, fazer um género de “post”, um relato necessariamente fundamentado, curto e explícito por ocasião de uma efeméride. Preferencialmente o assunto tem que contar com o entusiasmo da mãe, e a técnica de comunicação tem que ser apurada, para não gerar anticorpos nos adolescentes, esclarecendo-os quanto possível, espicaçando a sua curiosidade para os livros – sempre possível inclui referências bibliográficas. Ontem o tema foi o 4 de Dezembro de 1980, Adelino Amaro da Costa e Francisco Sá Carneiro.
De resto, um dado observável é que penhoramos o futuro sempre que não resolvemos o passado.
Foi com um quentinho no peito que hoje estreei no escritório os desajeitados presentes que recebi dos miúdos no Dia do Pai. A coincidência desta data se celebrar no dia de S. José, pai "adoptivo" de Jesus, quanto a mim está carregada dum profundo simbolismo que jamais deveria ser menosprezado. Sob o bombardeio da nossa cultura hedonista e consequente delapidação da família e do tecido social, este dia deveria constituir uma privilegiada ocasião para se reclamar de todos os pais o seu insubstituível papel e responsabilidade na defesa dum núcleo familiar tão saudável quanto irredutível. Numa época em que se festejam com estridência os mais inusitados dias de Tudo O Que Mexe e Mais um Par de Botas, o “do Pai” deveria ser um daqueles para mais a sério ser levado. Quem sabe deveria merecer a dignidade dum feriado, que para não pesar na economia poderia substituir o disparate do 5 de Outubro. Tudo isto porque, para lá das efémeras delícias inerentes ao acasalamento e à paternidade, dos encantadores afectos trocados com os amorosos infantes quando eles são nossos incondicionais, a tarefa vem afinal a constituir a mais desafiante, dura e arriscada missão que um homem pode ambicionar: a criação de seres responsáveis, justos e felizes. Uma empreitada que confere pouco “prestigio” ou carreira, mas que é decididamente prioritária e indeclinável.
Tenho para mim que todos os modelos de adaptação da célula familiar que tenham como objectivo a solidariedade e transmissão de conhecimentos são legítimas, até porque a minha casa não constitui propriamente um modelo linear.
É dentro desta perspectiva que sou um acérrimo defensor da manutenção duma estrutura familiar forte, que vai muito para além da fracção nuclear. É por um projecto assim que me bato, em que a liberdade é promovida em equilíbrio com a responsabilidade duns em relação aos outros e com a sua história. A família quando alicerçada em sólidos valores é o salutar bastião do livre arbítrio do individuo em relação aos grandes movimentos de massificação e de poder. Para a sociedade em geral, a família constitui o garante duma essencial diversidade estética e cultural: possuidora cada uma do seu legado de informação transgeracional, a família alargada é um insubstituível microcosmos, qual espelho e plataforma de mediação dos seus elementos com a comunidade e com o Mundo. Este factor é extremamente útil para um privilegiado desenvolvimento das crianças: as estruturas familiares mais sólidas potenciam uma resistência inteligente à massificação e à submissão dos indivíduos aos grandes poderes como as avassaladoras modas impostas pelo Mercado e... pelos Estados demasiado intrusivos.
É fácil entender porque é que as mais cruéis ditaduras do século XX sempre combateram os modelos tradicionais de família, que de facto tendem a funcionar como autênticas bolhas de oxigénio numa sociedade sufocada pela pressão do controlo.
Finalmente considero uma causa algo obscura o extremo individualismo promovido pelas correntes liberais de costumes, hoje em dia patrocinadas pela generalidade dos poderes políticos. Sem consistentes referências sociológicas e culturais, as pessoas tornam-se vulneráveis, qual papel em branco fácil de ser preenchido e doutrinado por qualquer sinistro poder. Que até pode ser o Estado.
Este texto, entre outras coisas estava em dívida para com a Jonasnuts
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Se o PSD ganhar as eleições com maioria relativa, ...
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