Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Os territórios
A melhor coisa que podia ter acontecido à Sérvia era perder o Kosovo, a região mais atrasada do país, onde Belgrado apenas possuía soberania formal.
Sei que a ideia é difícil de aceitar e, sobretudo, colide com a opinião quase unânime dos que se pronunciaram em blogues ou jornais. Para muitos, a independência foi mal gerida, vem aí uma guerra, os radicais triunfam. Talvez, mas a Sérvia não tem solução para esta sua perda, excepto a de se fechar num irredutível chauvinismo que não a levará a lado nenhum. A política internacional não se constrói sobre o princípio da equidade.
Se a Sérvia perdeu a sua soberania sobre aquele território, só havia dois caminhos possíveis: formalizar o facto consumado ou devolver o Kosovo aos sérvios. Qual dos dois era menos absurdo?
Os territórios, hoje, não fazem o sentido que faziam antigamente, sobretudo quando estão ligados à ideia de orgulho. No passado, representavam acumulação de recursos escassos. Hoje, o mercantilismo não se pratica e uma região pobre é um fardo. Aliás, o patriotismo é um conceito usado desde o século XIX, teve a sua utilidade, mas tornou-se numa péssima ferramenta para o século XXI, admitindo que estamos na era da globalização.
Há exemplos do que quero dizer, mas gosto deste: em meados do século XIX, no auge de uma onda patriótica da elite, os filólogos húngaros decidiram magiarizar a sua língua. Recuperaram elementos esquecidos, do húngaro bárbaro antigo, e eliminaram palavras e regras latinas, eslavas e germânicas que pululavam na língua do povo. O resultado floresceu nas escolas primárias, mas partes da população nunca aceitaram a língua, demasiado diferente e complexa. Os húngaro-falantes tornaram-se minoritários na sua metade do império e o húngaro ficou associado ao poder da minoria, exacerbando as distinções sociais. Esta bola de neve culminou com um falhanço imperial e a perda de dois terços do território, incluindo extensa parte que hoje é o norte da Sérvia. Mas, lá está: a História nunca foi sobre equidade.
Os que criticam a independência do Kosovo lembram que pode haver outros casos: a Catalunha, por exemplo. Mas estas análises esquecem que a questão catalã é típica do século XXI e tem sobretudo a ver com impostos e com o facto de uma região mais rica de um país não querer pagar tanto para regiões mais pobres.
Para um português é difícil perceber os tribalismos da Europa Central e os custos do chauvinismo patriótico. Vivemos num país que gosta de se embrulhar na bandeira, mas onde nunca existiu o “inimigo interno”. Por outro lado, em certas regiões da Europa, basta andarmos numa estrada dez quilómetros e atravessamos aldeias com línguas diferentes e culturas opostas. Os habitantes de uma e outra não se falam, não se casam, não negoceiam entre si.
O peso do passado, cuidadosamente repetido em narrativas radicais, torna difícil a ideia de que os territórios perderam a sua importância. Mas lembram-se do fim da Checoslováquia? E podia mencionar Hong Kong ou Singapura.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Há sempre a internet
[Error: Irreparable invalid markup ('<span [......
> Quem ataca o Jornalismo? A questão é a invers...
Por cá no Rectângulo chamado Portugal :A urgência ...
Acho que não percebeu a substancia do texto...