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Paris, 24 de Julho de 1891
"Meu querido Joaquim Pedro [Oliveira Martins]
Tu conheces, creio eu, o que são, em Portugal, os Compêndios da Instrução Primária. Compilaçõezinhas papalvas, quando não são agressivamente estúpidas, impressas em papel pardo e vendidas ao pobre Pater Familias pelo preço de Tratados de Biblioteca.
(...) Foi de várias conversações com o Delagrave que me nasceu a ideia de tentar com ele (…) o meu plano de uma Biblioteca de Instrução Primária para Portugal (…). Organizamos pelos melhores e mais novos métodos de França, Inglaterra e Alemanha uma Biblioteca de Gramáticas, Geografias, História Geral, Aritmética, Instrução Cívica, etc - e a casa Delagrave imprime, ilustra, orna de mapas essa Biblioteca, com incomparável excelência, e vende-a às Escolas, pela terça ou quarta parte do preço porque hoje o Pater Familias paga os compêndios do seu menino.
(...) Não entro em detalhes, nem a estreiteza de uma carta os comporta. Digo-te só, Joaquim Pedro, queres um milhão? Joaquim Pedro, queres ser abençoado por todos os pais e mães do teu País? Queres estas duas delícias - a benção e o bago? Tens simplesmente a recolher-te, durante todo um dia, ao fundo de ti mesmo, e aí, torturando o génio, achar a fórmula, o meio genial, o truc supremo, para conseguir que o Governo imponha às Escolas e aos mestres a nova Biblioteca! Isto é, trata-se de resolver este árduo problema: havendo dois livros, um abominável e que custe 300 reis e outro admirável e que custe 100 reis, levar um Governo Português a escolher, para uso das suas escolas, aquele que é bom e barato. Eu por mim tenho pensado - e ainda não achei a fórmula. Só me acode teimosamente o pedir um monopólio para a nossa Biblioteca. (...) Trata pois de estudar a questão a valer. Podemos fazer uma fortuna - fazendo um serviço patriótico. Raras vezes se encontram negócios nestas condições de alta moralidade. E eu, pelo menos, não posso deixar de fazer tudo, tudo, para adquirir um honesto ganho, com o que o meu País ganhe também".
(…) Abraço forte do teu
José Maria" [Eça de Queiroz]
* in Cartas de Eça de Queiroz, Editorial Aviz, 1945, a propósito deste post, que diz que o Observatório dos Recursos Educativos (ORE) produziu um estudo em que alerta para os riscos do sistema de empréstimo de livros escolares, pois provocaria uma recessão no mercado dos manuais escolares e "uma fragilização das empresas portuguesas e a ocupação massiva do espaço editorial pelos grupos estrangeiros". O grupo Porto Editora é a principal empresa portuguesa a operar nesse mercado, com quotas de mercado de 49,91%, 65,32% e 75,11%, respectivamente para o 1.º, 5.º e 10.º anos de escolaridade. No site do Observatório pode ler-se "o ORE conta com o apoio da Porto Editora".
O pai de uma criança de quatro anos apresentou queixa no Ministério da Educação contra um jardim de infância da Ericeira porque uma educadora alterou o final da música infantil "atirei o pau ao gato", cantando no final "batata frita/ viva o Benfica".
Por causa dessas e de outras falcatruas patrocinadas pelos professores ou pelo ministério, eu já pensei instruir os meus filhos em casa até aos secundário, mas diz que é ilegal.
Como educador de quatro crianças, encontro amiúde uma tão premente quanto velha questão com a qual fui de novo confrontado há dias ao ajudar a minha filha num trabalho de História do 6º ano sobre a Revolução Francesa: acontece que passam governos de direita e de esquerda, passam anos e décadas depois do PREC e nós conformados que se continue a ensinar às criancinhas a disciplina de História sob a óptica do Materialismo Histórico. Acontece que dá muito trabalho desmontar da cabeça duma criança a perspectiva do passado maniqueísta, repleta de juízos explícitos sobre uma Nobreza opressora, um Clero interesseiro, uma Burguesia gananciosa e o povo oprimido, vítima de tudo o mais. Ensina-se aos miúdos que a História da humanidade é um campo de batalha entre classes sociais (tornadas entidades corpóreas auto-conscientes), entre opressores e oprimidos, uma ascendente sucessão de acontecimentos, cujo desenlace é a vitória dos bons contra os maus, consubstanciada na modernidade dos dias de hoje.
Infelizmente ou felizmente a coisa não funciona assim e percebe-se que seja considerado perverso pelos pedagogos do regime revelar às criancinhas certas “fontes”, factos e pensamentos que denunciem a prevalência de um relativismo casuístico na História.
De facto como referia há umas semanas Filipe Paiva Cardoso, no jornal i custa a aceitar que o nosso país não tenha a força para reclamar o lugar de topo na história da civilização, quando, quase cento e cinquenta anos antes da Tomada da Bastilha, exibe num seu documento fundacional, a legitimação democrática de D. João IV, no assento das cortes de Lisboa em 1641, algo como “[...] sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins [vida, liberdade e felicidade], cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la” – e “Nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela [nação] não emane expressamente”.
De resto, quase duzentos anos depois de outorgada Carta Constitucional, nesta república modernaça e democrática por acaso hipotecada aos estrangeiros, alguém acredita que a igualdade do cidadão perante a lei já tenha passado das intenções à realidade? E sabiam V. exas que, ao contrário do que acontecia na Idade Média a que eles chamam “das Trevas”, hoje neste País é possível adquirir-se um relógio por 5.000.000 euros ou um Yacht por 500.000.000,00 de euros, enquanto uma família dos subúrbios de Lisboa vive com 500,00 euros por mês, e uma outra em África sobrevive com um por dia? Querem impingir uma linha condutora a isto tudo? Haja paciência!
A cultura é uma arma contra o preconceito, contra a preguiça, contra a desonestidade e contra a falta de sentido crítico próprio. Mas a aposta na cultura não é abrir um "museuseco" aqui e ali, ou organizar eventos de moda, não é gerir guerrinhas de comadres nos teatros.
Investir na cultura é pôr as crianças desde a pré-primária a aprender a distinguir Mozart de Beethoven, a aprender história de arte desde a primária, é proporcionar o gosto pela literatura, é criar sentido crítico, incentivar a criatividade e a expressão artística, ensinar que a estética é um devir. No fundo é ensinar o gosto pelo belo.
Portanto uma difícil tarefa.
Não é possível apostar na cultura sem a associar à educação.
O escritor Francisco José Viegas, que é o responsável pela editora Quetzal e colunista do Correio da Manhã, vai ser o próximo secretário de Estado da Cultura. Tal como tinha sido anunciado por Pedro Passos Coelho durante a campanha eleitoral, essa área deixa de ter ministério, ficando sob a alçada directa do primeiro-ministro.
A escola não educa, ensina, (...) é esse o seu fim. Ponto. A escola não é uma instituição de acolhimento, é um estabelecimento de ensino. Se os meninos não querem ser ensinados, não querem aprender e não deixam que os outros sejam ensinados, devem ser obrigados através de regras, sanções e incentivos. através de um programa, de um plano. Se mesmo assim continuam a não querer e a não respeitar, devem sair pela porta onde entraram. Azar. (...)
Inês Teotónio Pereira daqui
Já por diversas vezes reparei quando venho na bicha da auto-estrada do Estoril para Lisboa nos muitos condutores que, para ultrapassarem uns quantos automóveis, metem para dentro da bomba de gasolina de Carcavelos onde aceleram a fundo naqueles cerca de duzentos metros. Igual patranha é frequente ali ao lado na Marginal, por altura dos semáforos da Parede em direcção a Lisboa, onde os chicos espertos contornam o cruzamento, guinando em direcção ao parque de estacionamento da praia, para apanhar a estrada uns metros à frente no perigoso entroncamento.
São estes e muitos outros exemplos da arreigada grosseria indígena que me levam a descrer profundamente na maturidade dos portugueses em geral e no futuro de Portugal em particular. Afinal é desta cruel realidade sociológica que emergem os diversos poderes que passamos a vida a verberar. Afinal, mais do que termos aquilo que merecemos, somos aquilo que somos. Uns inabaláveis burgessos.
É perfeitamente aceitável que uma sociedade imponha que os seus jovens tenham um determinado grau de educação. Os jovens não são independentes, as suas vidas dependem da vontade das suas famílias e se existe um consenso quanto à importância dos estudos, então todos os jovens devem tê-los, tal como têm alimentação.
O Pedro Picoito tem muita razão ao opor-se a uma Educação Sexual obrigatória.
Não vou negar evidências: temos demasiadas mães adolescentes, temos ainda muitos mitos e muita falta de informação sobre métodos contraceptivos, transmissão de doenças e sobre as próprias doenças. Isto é tudo verdade. Realidade da mais pura. No entanto, as coisas não são 'b+a=ba' neste caso, como em quase todos os outros casos.
A questão aqui é muito mais profunda, a meu ver, que a simples leccionação desta disciplina. A verdadeira questão que tem de ser discutida é a da imposição dos curricula por parte do Estado. O controlo por parte do colectivo daquilo que os indivíduos aprendem é assombroso. Durante os primeiros nove anos de aprendizagem todos aprendem o mesmo: as mesmas áreas de estudo, os mesmos programas, os mesmos testes, tudo igual. Depois lá se dá alguma liberdade para escolher entre três ou quatro percursos diferentes e apenas com dezoito anos, depois de doze anos de escolaridade, é permitido ao indivíduo escolher aquilo que quer aprender.
O resultado acaba por ser um insucesso quase generalizado pelo simples facto de não sermos todos iguais. Um jovem com um talento especial para as artes é obrigado por decreto a estudar durante nove anos sem que tenha verdadeiramente formação para a sua área de preferência. Isto é apenas um exemplo radical, porque há outros. O próprio ensino da Economia é vergonhoso, porque, das duas uma: ou os miúdos de catorze anos são francamente interessados na matéria e acompanham o assunto "por fora" ou são encaminhados pelas famílias, caso contrário, nenhum jovem chegaria ao décimo ano e escolheria a área de Economia.
A intromissão por parte do Estado nesta matéria tão pessoal é simplesmente desprovida de sentido. Não tem fundamento nem ético nem prático. Muito pelo contrário. Deixásse-se ao critério dos jovens e das famílias os percursos escolares e teríamos excelentes resultados. Até lá, teremos esta "coisa" a que chamamos educação.
Já chegou às livrarias António Raposo - O Professor sem Diploma de Ricardo Santos, um livro que nos explica como foi possível a um falso professor dar aulas durante trinta anos e chegar a ser eleito presidente de um Conselho Directivo.
Em plena discussão sobre a avaliação das carreiras docentes esta edição revela-se bastante oportuna.
Seria aquela em que os estudantes pudessem escolher os seus professores, tal como escolhem os seus explicadores.
Se a probabilidade de um casal se divorciar nos primeiros 20 anos de casamento é de 0,60, qual é a probabilidade que, em seis pares, agora casados, nos próximos 20 anos:
-Nenhum se divorcie
-Todos se divorciem
-Exactamente 2 se divorciem
-Pelo menos dois se divorciem
Maria de Lurdes Rodrigues esteve bem durante a entrevista que deu ontem à RTP. A agressividade despropositada de Judite de Sousa ajudou-a a passar uma imagem mais cordata do que é habitual. Assumiu os erros que mais repetidamente foram apontados ao seu modelo de avaliação e afirmou-se apostada em prosseguir com uma reforma cuja necessidade é do consenso geral.
Seria perfeito não fosse o timing. Agora já é tarde para os sindicatos também recuarem. Reféns da dinâmica que o movimento de professores criou, não querem abdicar da sua pseudo-liderança. Vão continuar sem estratégia definida a fingir de porta-vozes, tendo apenas como referência o ódio irreversível que esta ministra despertou na classe dos professores. Enquanto ela não sair não creio que possa haver acordos para a Educação.
Reparem nesta sequência de declarações de ilustres socialistas de várias tendências, meditem no que significam e prestem atenção a tudo quanto se seguirá nas próximas semanas na área da educação:
"Não retiro nenhuma das críticas que fiz à ministra da Educação. Chocou-me profundamente a sua inflexibilidade."
"Não tenho mais paciência para suportar o quero, posso e mando, a ideia que se pode ter toda a razão contra tudo e contra todos."
Manuel Alegre, na sessão de apresentação da revista Ops! Opinião Socialista (11 de Novembro)
"O papel dos professores tem de ser valorizado, deve ser valorizado, porque eles são indispensáveis à concretização de qualquer projecto educativo."
"O diálogo e a discussão fazem parte do nosso código genético. Governar à esquerda não é só fazer sem discutir, é discutir primeiro para depois fazer bem."
António José Seguro, numa reunião com membros dos conselhos executivos de escolas do distrito de Coimbra (13 de Novembro)
"Parte importante do eleitorado do PS está em ruptura com o partido."
[PS pode perder maioria absoluta nas eleições por causa desta situação?] "Pode."
António Costa, Quadratura do Círculo, SIC Notícias (13 de Novembro)
"Seria bom que começássemos a pensar na possibilidade de haver uma comissão independente inspirada no modelo inglês, um grupo de sábios, pessoas que fossem aceites de ambos os lados, [para introduzir] um pouco de independência e de razoabilidade a um conflito que, já se percebeu, está prisioneiro de muitas paixões."
António Vitorino, Notas Soltas, RTP (17 de Novembro)
"Não se pode fazer a avaliação sem um profundo envolvimento dos professores."
Carlos Zorrinho, Vice Versa, RTP N (19 de Novembro)
A ministra que relativizava o problema da violência escolar, afirmando que estava circunscrita a algumas (poucas) escolas, depois de ter levado com ovos e tomates recuou. Mas agora enfrenta as chatices de quem recua em ambiente escolar. Se tentar reagir, apanha. Se ceder ainda mais, apanha.
...é claro que farão um grande favor à ministra.
Acredito que ao longo de 30 anos os vários ministros que passaram pela Educação tentaram honestamente arrumar a casa. Mas sempre constou que o monstro em que se estava a tornar o Ministério da Educação era ingovernável e que negociar verdadeiras reformas com os sindicatos dos professores era impossível.
Não sendo isto uma novidade, qualquer governante que decida abraçar esta pasta tem uma de duas saídas: ou parte derrotado e ao fim de meia dúzia de tentativas sérias para organizar o caos desiste, ou então prepara-se para se tornar num dos ministros mais impopulares do governo. Maria de Lurdes Rodrigues optou pela segunda via, o que só lhe fica bem. Acusam-na de arrogância, mas eu creio que em rigor se trata de obstinação e se há coisa que eu não posso criticar num ministro é essa atitude quando acredita no que está a fazer.
O problema é quando da obstinação se passa ao autismo. A ministra da Educação não pode continuar a tapar os ouvidos quando lhe gritam que não é possível prosseguir com uma reforma educativa contra os professores. Mesmo acreditando estar coberta de razão tem que desistir deste braço de ferro que já está a comprometer o natural funcionamento das escolas.
E já agora também ajudava que abandonasse a obsessão pelas estatísticas, certamente um compromisso político que ela tem com a chefia de governo, a mesma que não hesitará em fazê-la cair se tal se revelar conveniente para os próximos resultados eleitorais.
É que quem gosta de hastear as bandeiras da credibilidade e verticalidade não pode dar-se aoluxo de compactuar com esse género de trapalhadas. Desde logo porque perde superioridade moral para meter na ordem seja quem for.
Muito se fala dos maus alunos, objecto de todos os esforços e atenções. Com um olho nas estatísticas e outro nas correntes pedagógicas mais progressistas, estes meninos-problema têm sido tratados com pinças. São eles a razão de ser de um sistema de avaliação que já aboliu todos os conceitos que os possam traumatizar ou estigmatizar impedindo-os de entrar gloriosamente nas contas do Estado como casos de “sucesso”.
No entanto os bons alunos, quais párias neste universo escolar, são diariamente confrontados por um lado com a benevolência dispensada aos seus colegas menos aplicados e por outro, com a exigência em relação ao seu desempenho.
Em circunstâncias normais faz sentido exigir mais dos melhores. Mas no actual contexto regatear as notas dos mais capazes e premiar, por norma, o baixo aproveitamento dos maus alunos revela-se de uma injustiça intolerável aos olhos dos que são habitualmente prejudicados neste sistema de dois pesos e duas medidas.
A tentação, como se pode imaginar, é para estes miúdos desinvestirem no estudo. Afinal para quê queimar as pestanas se as suas notas pouco diferem das dos cábulas da turma?
Pouco discutido, este é um dos efeitos mais perversos da, chamemos-lhe, demeritocracia. Não há nada mais destrutivo, desmotivador e frustrante.
Sendo hoje a taxa de retenção escolar a mais baixa desde sempre, a de chumbos-de-vida aumenta em sentido inverso – em duas linhas Luís Novaes Tito disse tudo, mas vale a pena ler o resto.
Confesso, no íntimo sinto um enorme gozo ao constatar que nem à custa da inqualificável batota do Ministério da Educação, que ordenou que se baixasse o nível de exigência dos exames nacionais de Matemática do secundário para conseguir boas estatísticas para apresentar a Bruxelas, foi possível sair do vermelho.
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