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A bolha

por João Távora, em 20.02.24

ricardo Costa.jpg

Confesso-vos que quase não assisti aos debates, terei testemunhado pequenas partes de um ou de outro, do qual depressa me desliguei, não só porque ando sempre muito ocupado, mas para poupar a minha tensão arterial - ou simplesmente por respeito à “Psicologia da natureza”, um conceito que aprendi com a minha Tia quase nonagenária. Ao contrário dos virtuosos guerrilheiros das redes sociais, para acompanhar e avaliar as prestações, socorri-me dos resumos e das diferentes orquestras de comentadores nos canais de notícias, a quem me atrevo a agradecer o trabalho sujo a que me pouparam. Acontece que, com esta medida profilática, quero atingir a longevidade da minha Tia. Não me posso enervar.

Portanto, ao fim de duas semanas de debates, tenho muito mais a dizer dos comentadores que dos candidatos a primeiro-ministro. Ou não, que isso não existe em Portugal; elegemos os nossos representantes num parlamento, que durante talvez uma legislatura, darão suporte a um executivo que administrará o nosso fado. Talvez por isso, e porque os comentadores são fundamentais nesse processo, sempre a zurzir opiniões escritas e faladas, indicando-nos os pontos cardeais do “estado da arte” da nossa (des)fortuna, os acho tão decisivos para o nosso destino comum e merecem a minha homenagem. Sem ironia. Eles representam grosso modo, a Ágora da nossa Polis, sintetizam os nossos preconceitos e medos, as nossas virtudes e defeitos, o atraso e o progresso das nossas vidas. Os influencers encartados, uns políticos outros jornalistas (uma distinção nem sempre óbvia). Claro que, dentre os jornalistas, prefiro ouvir aqueles mais perspicazes e profundos, que tiveram tempo para ler livros, conheçam a nossa História (vê-se logo quando estão limitados aos livros do secundário) que se esforçam por ser mais independentes da última moda, em dizer alguma coisa original, que não se dilua na espuma dos dias.

Ora, acontece que, se o nosso sistema partidário aparenta finalmente, após 50 anos sob o fim do Estado Novo, capacidade para acolher um partido nos moldes do outro extremo do espectro, o mesmo não acontece com o comentário televisivo, o que é uma pena pouco democrática. A irracionalidade patenteada por demasiados jornalistas na análise dos debates com o Ventura causaram-me vergonha alheia, e pergunto-me se perceberam que se limitaram a ser os idiotas úteis do Chega e de cada vez mais gente desfavorecida pelos donos do regime, revoltada porque não tem voz.

Sobre o debate*

por João Távora, em 10.09.15

Foi um suplício assistir àquela seca e confesso que houve momentos em que mudei de canal. É extraordinário como o Passos Coelho não conseguiu desmontar com uma frase, nem é preciso mais, a "obra" do Costa na Câmara de Lisboa. A Câmara de Lisboa é a entidade mais subsidiada do país, só tem de fazer obras, pagar a funcionários, e quando se lhe acaba o dinheiro vai pedir ao Governo. Alguma vez isso é modelo para o país? Portugal não funciona assim, muito menos agora com as regras do Tratado Orçamental. O Costa diminuiu a dívida da Câmara devido a uma receita extraordinária, ainda por cima por uma decisão do Governo, não foi mérito da gestão socialista da Câmara. Então a esquerda anda a atacar o Governo com as privatizações e o Primeiro-ministro deixa passar esta? Só se lembrou da venda dos terrenos do aeroporto no final do debate e mesmo assim deixou o Costa ficar com a última palavra.

Foram várias as vezes que dei um murro no sofá de frustração porque o Costa não levou a resposta que devia. O PS é um partido unipessoal que vive da imagem do seu líder e da construção mediática em torno da sua "obra" na Câmara de Lisboa. A sua imagem passa incólume à forma como tratou António José Seguro e como agora despreza José Sócrates (não que isso me interesse, porque estão os dois bem um para o outro), apesar de ter tido o seu apoio e financiamento para chegar à liderança do PS. Isto diz muito da personalidade de António Costa. Já nem falo no Costa Ministro da Justiça, nomeadamente na sua intervenção no processo Casa Pia e nas alterações à Lei na sequência desse processo, ou na sua megalomania como Ministro da Administração Interna, entregando à GNR lanchas rápidas para vigilância marítima, obrigando o país a gastar ainda mais dinheiro devida à duplicação de meios (felizmente que não teve tempo de fazer mais asneiras...).

A demagogia e a aldrabice ficaram patentes na forma como descreve os efeitos da austeridade imposta pelos credores, omitindo porque é que Portugal ficou sem dinheiro e a Troika tutelou Portugal durante três anos. Além disso, todo o programa socialista é um exercício bacoco efectuado por economistas supostamente competentes, evidenciando o vazio que é o PS neste momento. Tal não é nada de diferente em relação ao que Guterres havia feito com os Estados Gerais, e depois foi o que se viu.

Não gostei da falta de intensidade e da dispersão do Primeiro-ministro. A mensagem tem de ser clara e concisa. O adversário não pode ficar sem resposta, os "moderadores" que se lixem. A esquerda está a usar as perguntas nos debates para fazer acusações e depois o Passos e o Portas têm de se ficar e só responder para o futuro? Não pode ser. Já na terça-feira com a bloquista foi a mesma coisa. Ela não apresentava medidas, só fazia acusações e queixinhas, e quando chegava a vez do Portas a "moderadora" queria que este só falasse no futuro e não pudesse rebatar a outra.

Não é possível construir o futuro sem entender o passado e por isso não se pode deixar o PS passar por entre os pingos da chuva na matéria da dívida, do Euro ou da integração europeia. Não se pode mudar tantas vezes de posição como o PS mudou. Não se pode ser pró-Syriza num dia e no outro já nem conhecer os gregos (não admira que o Costa faça o mesmo ao Sócrates...), não se pode ser europeísta quando a Europa nos financia o modo de vida e passar a ser "nacionalista" quando as regras ficam mais apertadas, não nos podemos queixar do "protectorado" quando temos de reduzir a dívida e já não nos importarmos quando nos obrigam a receber refugiados sem qualquer critério. Os hipócritas e os cínicos podem. O PS pode, à cara podre, por isso é que não merece confiança nenhuma.

 

* De um comentador anónimo, retirado daqui

Ganhar e perder

por João Távora, em 10.09.15

Acredito mais na Ana Sá Lopes que considera que Costa só ganhou a segunda parte do debate do que em Marcelo que acha que ele ganhou a primeira. Ganhar, perder... e afinal alguém acredita que o prémio seja coisa de monta?

O "partis pris" de Marcelo

por João Távora, em 10.09.15

O comentador há muito que defende a teoria de que, num país maioritariamente de esquerda, só tem possibilidades de ganhar as presidenciais em contraponto a um governo socialista. Aquela cabeça "republicana" não pára. 

Debate António Costa vs Pedro Passos Coelho (LUSA)

Depende se damos primado à forma se ao conteúdo.

Na forma, Pedro Passos Coelho foi melhor na primeira parte do que António Costa. Mais seguro, mais claro, mais inteligente. Na segunda parte António Costa foi melhor. Sobretudo por causa do tema dos cortes de pensões. Passos respondeu com o plafonamento encapotado do programa do PS, mas como plafonamento é um palavrão, as pessoas só ouviram que Passos ia cortar 600 milhões nas pensões.

Na forma Costa vinha com o ponto fraco "lesados do BES" e Passos tinha o passado da governação de Sócrates, de que António Costa fez parte, para a troca.

Mas a forma não é o conteúdo, e no conteúdo Pedro Passos Coelho é melhor que António Costa.

Vejamos, no tema sobre a Segurança Social, António Costa, por contraponto a Passos, recusou o corte de 600 milhões nas pensões. : “Não aceitamos qualquer corte nas pensões e não achamos que a sustentabilidade dependa desse corte”. Passos diz que foi estabelecida a meta dos 600 milhões para solucionar o problema de sustentabilidade da segurança social.

Passos que diz que “nós não propusemos um corte de 600 milhões nas pensões" explica que: "A TSU não cobre o valor das pensões que são pagas todos os anos, o que significa que o que temos feito ao longo dos anos é usar impostos para suportar os défices do sistema de pensões”. Passos lembra ainda um estudo que mostra que nos próximos 75 anos “teremos uma dívida implícita enorme”, diz, acrescentando que as pessoas só podem ter confiança na Segurança Social no futuro se “corrigirmos esta situação”.

Privatizar parte da receita da segurança social e entregá-la à gestão privada é um erro para António Costa, diga-se de passagem sem razão nenhuma. Costa diz ainda que a parte da gestão privada é igual à gestão especulativa do BES. O que é um disparate. Pois não foi em fundos mutualistas que os lesados do BES perderam o dinheiro. António Costa precisa de um estágio na PIMCO.

Mais tarde, o socialista Jorge Coelho, na Quadratura do Círculo, diz que com o plafonamento a segurança social pode rebentar. Ora eu diria ela pode rebentar mesmo sem plafonamento.

O que é exactamente o plafonamento? Trata-se de criar um limite salarial, a partir do qual os portugueses no activo deixam de estar obrigados a descontar para o sistema público de Segurança Social, como acontece agora.O remanescente seria aplicado em sistemas de capitalização (ou seja, de investimento), fossem eles públicos ou privados. Ambas as parcelas ajudariam a determinar o valor da pensão futura. A coligação prevê isto: “A introdução, para as gerações mais novas, de um limite superior para efeitos de contribuição, que em contrapartida também determinará um valor máximo para a futura pensão. Dentro desse limite, a contribuição deve obrigatoriamente destinar-se ao sistema público e, a partir desse limite, garantir a liberdade de escolha entre o sistema público e sistemas mutualistas ou privados. Esta reforma, que deve ser analisada em sede de concertação social e objecto de um consenso alargado, deve ser feita em condições de crescimento económico sustentado”.

António Costa diz, preto no branco, que é preciso medidas para garantir a sua sustentabilidade; Passos aproveita para dizer que o PS tem medidas que passam “muito mais” que 600 milhões. Diz vão custar mais 5,5 milhões em quatro anos. “Assim espero que nos possamos entender”, num convite a um entendimento futuro nesta área. Recorde-se que o primeiro-ministro tem dito que "A introdução de uma medida para a sustentabilidade da Segurança Social, cujo impacto está estimado em 600 milhões de euros, tem de merecer um amplo consenso social e político",

Costa diz que esses 600 milhões não vêm do corte de pensões. O PS critica o plafonamento da coligação, Passos rebate que a proposta do PS é um plafonamento encapotado. Um plafonamento parece que é vertical e o outro é horizontal.

Passos diz que o "PS não assume que o que propõe é um plafonamento – quer um estímulo à procura, quer pôr as pessoas a descontar menos para a SS para terem mais dinheiro para consumir – “é uma política José Sócrates” – e quer por isso pôr as pessoas a descontar menos quatro pontos percentuais (TSU). “Mas isso custa no seu programa mais de 5.4 mil milhões de euros à Segurança Social”. Passos diz ainda que o PS “espera convencer Bruxelas de que isto é uma reforma estrutural". 

Sobre a dívida: “De 2005 a 2008 a divida portuguesa passou de 96 biliões de euros para 195 biliões, e desde que eu fui PM, a divida cresceu apenas 20 pontos percentuais, ou seja, menos de metade do que durante 6 anos de governo do PS”. Touché para Passos.

Passos pede a António Costa que olhe para a situação por que o país passou comparando com outras situações semelhantes de outros países – Irlanda e Grécia: “o nível de riqueza destruída foi superior ao de Portugal”.

António Costa responde com a sua experiência na Câmara a diferença para o actual Governo: “Sei bem o que é herdar uma dívida grande. A diferença é que eu reduzi 40% a dívida que recebi e o Dr. Passos Coelho aumentou em 19% a que recebeu”.

Sobre a Câmara de Lisboa – e redução da dívida: Passos lembra que “parte dessa redução foi com o dinheiro que a gente lhe deu com os terrenos do aeroporto”. By the way, mais uma privatização (a da ANA) criticada pelo líder socialista. Ele é contra, mas lá que lhe deu jeito deu.

A questão de António Costa que passou o tempo a usar o chavão de que o Governo foi além da troika (trazendo até Vítor Gaspar para o debate) é um absoluto fait divers. Em muitas questões Portugal ficou muito aquém da troika. Passos não respondeu isto e se o tivesse feito tinha posto no lugar esta demagógica sentença de António Costa.

Passos Coelho teve bem nesta resposta à critica de que não há números no programa da coligação. Evidentemente que a coligação tem as medidas muito mais quantificadas que o PS, em virtude de ser governo e ter de gerir com números, isto é, com a realidade: "Os números estão bem quantificados no programa de estabilidade que o Governo apresentou à Comissão Europeia”. Passos diz que vai agora responder à questão mais importante, “desmistificando” a ideia de que a austeridade é virtuosa. “Eu não tenho uma espécie de entendimento perverso de que gosto de aplicar austeridade ao país, ou de que austeridade e diminuição de rendimento são medidas virtuosas – os países que o fizeram, fizeram porque precisavam, deixemos-nos de brincadeiras”, diz Passos.

Passos volta a lembrar medidas do anterior Governo de Sócrates: cortou salários, baixou pensões, aumentou IVA. “De certeza que não o fez porque gostava”.

Sobre o desemprego, Passos é firme nos números: chegou a estar no patamar dos 18% e “agora está em cerca de 12%”. “O desemprego tem vindo a diminuir e o emprego tem vindo a ser criado – conseguimos criar cerca de 200 mil empregos na economia”. É preciso ver que em recessão, como esteve a economia portuguesa, não há criação de emprego, há aumento do desemprego. Estudar macro-economia para mais explicações. A recessão nasceu quando, ainda no Governo anterior, foi pedida a intervenção da troika porque o país não se conseguia financiar.

Pedro Passos Coelho: Como criamos emprego então? “Quem cria emprego são as empresas, não é o Estado. O nosso programa é claro nesse aspecto”.

Passos esteve bem quando disse que nos 6 anos do PS, a população empregada diminuiu 174 mil e nessa altura a economia não estava em recessão.

Pedro Passos lembra ainda que as “exportações batem recordes” e que o Governo criou condições juntos dos jovens para que a economia fosse “mais competitiva”.

Uma das coisas que não foi dita com suficiente ênfase é que pela primeira vez o saldo primário da dívida (sem juros) foi positivo. 

Passos esteve em alta quando diz que “diminuímos o défice global, que a despesa primária caiu como nunca, e que não é possível fazer cair a despesa sem conseguir poupanças significativas”. “Esse resultado nós conseguimos. E há muita transparência nessa informação, ao contrário do que antes”.

 António Costa esteve bem quando não descartou as responsabilidades do passado socialista.

Passos esteve bem quando diz que o programa do PS baseia na procura e consumo o crescimento económico, uma cópia do programa de Sócrates que levou o país ao excesso de dívida.

Sobre as propostas do PS, para quem não leu, ficou a saber-se pouco mais, mas ficou a saber-se isto: “Eliminamos a taxa do IRS em 2016 e 2017. Iremos rever ao longo da legislatura os escalões do IRS”, sem dizer no entanto se começa essa revisão em 2016. Além disso garante o PS repor a progressividade que deixou de existir com o quociente familiar. “Não são fantasias são compromissos com contas certas”.

Passos é sincero. Voltou a dar essa ideia no frente-a-frente com António Costa, ao assumir que o seu Governo não conseguiu alcançar a meta definida para o Serviço Nacional de Saúde no que toca aos médicos de família. "Aumentámos 700 mil, mas ainda faltam 1,2 milhões."

António Costa é mais demagogo. "Baixaremos as taxas moderadoras, não me comprometo nem com o montante nem com o calendário" Diz o socialista.." Não quero que daqui a quatro anos um sucessor diga de mim o que eu estou a dizer de si... Contra factos não há argumentos. Os números com que me comprometo são os números que estão aqui impressos [toca no programa eleitoral]". 

A melhor resposta de Passos a Costa foi esta, quando este volta pela segunda vez ao que fez na Câmara de Lisboa, procurando dar segurança aos eleitores. A frase “as pessoas sabem que eu prometo menos do que farei” provoca uma reacção de Passos: “Não comento o seu auto-elogio”.

A melhor resposta de António Costa a Pedro Passos Coelho foi: Frase da noite. "sei que gostaria de debater com o Eng. Sócrates. Mas vai ter que debater comigo porque o seu adversário sou eu". Responde bem Passos Coelho: "olhe que não é muito diferente".

No body language Pedro Passos Coelho é melhor. É mais simples e simpático. Penso até que a certa altura o próprio António Costa se rende áquela simpatia cativante. Não fosse a guerra ideológica e até conseguia ter esboçado um sorriso ao adversário. 

De resto sempre senti que António Costa sempre simpatizou especialmente com António Lobo Xavier, da direita católica, na Quadratura do Círculo. António Costa é daqueles socialistas que se atrai pelos antípodas. 

 

Debate

por João Távora, em 10.09.15

É certo que Passos Coelho foi por vezes demasiado palavroso nas justificações - tinha uma duríssima legislatura em avaliação. Mas António Costa esteve demasiado agressivo: acusou Passos Coelho, por exemplo, além de culpado pela austeridade, de ter enganado os lesados do BES. Acho que é contraproducente - as pessoas de boa fé simplesmente não o levam a sério. E depois um debate vale o que vale, não exageremos - os jornalistas de política levam-se demasiado a sério.

back to basics

por João Távora, em 20.05.11


Se este 1º ministro for deposto no dia 5 de Junho, pela 1ª vez numa noite eleitoral eu levantar-me-ei do sofá para ir prá a rua festejar. De resto hoje aconteceu o que melhor poderia acontecer aos portugueses: Sócrates, desgastado, azedo e insolente, perdeu o debate. Vou dormir mais descansado. 

 

Em estéreo

Louçã versus Sócrates

por Maria Teixeira Alves, em 12.05.11

 

Francisco Louçã está na televisão como peixe na água. Nesse aspecto ganha a qualquer um, mesmo a Sócrates. Chega a ter graça na forma como confronta o adversário, usando expressões "vamos aqui ter uma conversinha sobre a segurança social". Evidentemente que Louçã é um demagogo e o programa do Bloco de Esquerda é um guião de uma produção cinematográfica bolchevique. Lembro-me sempre da entrevista que Ricardo Araújo Pereira lhe fez, num desses programas cómicos - "Quando o Bloco de Esquerda elaborou este programa do Governo, não teve medo que a pessoas o fossem ler?"

Mas guerra "aos donos do capital" à parte, Louçã prestou um bom serviço ao país, porque é estudioso e analisa os temas de que vai falar, introduzindo surpresas que deixam o adversário knock-out, como ontem quando confrontou o Sócrates com uma carta enviada pelo Ministro das Finanças à troika, revelando a intenção do governo de reduzir significativamente a taxa social única já em 2012. A redução da TSU que é defendida pelo PSD e criticada pelo PS. Ou seja, o PS tem uma agenda para as eleições e uma agenda secreta para governar o país com o FMI.

Francisco Louçã confrontou Sócrates com o aumento exponencial da dívida pública desde 2005 (desde que Sócrates está no poder). Sócrates voltou a repetir que todos os países aumentaram a dívida, logo é uma crise internacional. Ainda eu estava a pensar, que mesmo que a dívida suba em sintonia (o que não é bem assim, a nossa dívida explodiu a um ritmo maior que a maioria dos países), a verdade é que não é a União Europeia que emite a nossa dívida, portanto, o Governo é que emitiu essa dívida, e para que é que a emitiu? Dizia eu, ainda eu estava a pensar que não se pode culpar a conjuntura por o país pedir crédito a mais, quando Louçã lhe pergunta e "para onde é que foi o dinheiro dessa dívida? Para as auto-estradas, Portugal tem mais que a Alemanha, para as PPP, e zás, lá toca na ferida, para a Mota-Engil [empresa que tem o socialista Jorge Coelho nos seus órgãos sociais] que fez obras para o Estado [deve ter ganho todos os concursos) com uma factura sempre muito acima do orçamentado [e isto que o orçamentado já era suficientemente generoso].

Louçã defendeu a reestruturação da dívida. Sócrates disse que isso significava não pagar parte da dívida. Não é necessariamente assim uma vez que a dilatação de prazos também é uma reestruturação, mas enfim, o líder do PS tem razão quando diz que a reestruturação das dívidas soberanas põe em causa o projecto do euro.

Quando Sócrates voltou ao número da acusação ao adversário de não ter programa eleitoral, Louçã disse-lhe: "não me vai mostrar uma pastinha vazia, ou vai, é que a mesma piada duas vezes já não tem graça".

Debate Portas versus Sócrates

por Maria Teixeira Alves, em 10.05.11

 

Ontem o debate Sócrates versus Portas

 

Foi um debate entre dois homens bons em demagogia. São dois demagogos. As diferenças: Paulo Portas levou mais conteúdo para o debate. Mostrou a evolução da dívida no "reinado" de Sócrates, este desculpou-se com a crise internacional (aqui para nós, a única influência da conjuntura internacional na nossa dívida é o facto de ter sido permitido subi-la acima dos 60% do PIB, nós não tivemos subprime, por isso não foi para 'intervencionar' bancos que nos endividámos, ao contrário dos outros países). Paulo Portas estava bem preparado. Mas peca porque não consegue olhar de frente para o adversário, toca as raias da falta de educação aquilo. Fala a olhar para o lado, ou para baixo. É timidez, provavelmente, mas não é simpático.

Sócrates, ao contrário olha de frente, como bom manipulador, tem um olhar hitleriano, fixo, ensaiado. Olha nos olhos ainda que esteja a dizer a maior das banalidades e mesmo quando repete clichés à exaustão. Como aquele do PEC IV ter sido chumbado e de agora a oposição estar de acordo com as medidas de austeridade da troika, que segundo o Sócrates são as mesmas (só segundo ele). Paulo Portas acabou por chegar ao cerne da questão mas rodeia muito, leva muito tempo a divagar sobre as contradições do seu opositor (em tom cantado). O que Paulo Portas tinha de dizer: O PEC IV não chegava porque não trazia dinheiro para Portugal a juros baixos. Uma coisa é austeridade com soluções de recuperação da economia, outra coisa é austeridade num país que continua a  ir ao mercado a endividar-se a 10%. A crise política foi precisa, porque senão o Sócrates cheio de orgulho num "país moderno" (não sei qual será, este não é com certeza) ia continuar a criar medidas de austeridade sem que isso baixasse os juros. O FMI acabaria por vir, numa altura em que já teríamos um IVA a 25%, já não haveria 13º e 14º mês, não haveria nada para cortar, e continuaríamos sem as medidas estruturais que são necessárias aplicar. E que a troika, bem ou mal, apontou.

Sócrates defendeu bem a necessidade de continuar o TGV Lisboa Madrid. Por causa de o spread ser baixo e de isso ser uma oportunidade única. Por ser importante para o país a ligação a Madrid por uma via alternativa ao avião. Esta foi talvez a única ideia de jeito que Sócrates defendeu.

De resto passou o debate a dizer que o PEC IV era igual às medidas da troika. O que é mentira.

O truque de Sócrates é não deixar ninguém falar, irromper com ideias que quer transmitir, ignorando as perguntas da jornalista. O mesmo truque foi repetido por Pedro Silva Pereira na RTP 1, contra o Catroga (que é incomparavelmente mais autêntico e sério, menos fabricado pelos gurus da imagem televisiva).

Nem o "Luís fico bem assim" lhe valeu!

por João Távora, em 10.05.11

Pela primeira vez, que eu me lembre, José Sócrates perdeu um debate eleitoral. Foi esta noite, nos estúdios da TVI, perante um Paulo Portas em boa forma que lhe disse o essencial, olhos nos olhos: este primeiro-ministro "vive na estratosfera". Vive num país só dele, que nega a realidade quotidiana dos portugueses: a dívida pública duplicou em seis anos, há hoje quase 700 mil pessoas sem emprego, o "estado social" tornou-se uma figura de retórica, Portugal viu-se forçado a estender a mão à caridade internacional. (...) Pedro Correia, no Albergue Espanhol

Lembrete

por João Távora, em 02.03.11

 

Logo à Noite Pedro Lomba e Miguel Morgado estarão no primeiro Jantar Debate "Conversas Reais" a debater o Semi-presiedencialismo à portuguesa no Restaurante Maritaca na Av. 24 de Julho. Eu lá estarei.

Sócrates define termos e condições

por José Aguiar, em 19.08.09

Dois frente-a-frente com Manuela Ferreira Leite e um debate a 5. A repartir pelas 3 televisões. Sugere que um dos debates se faça a partir do Porto e disponibiliza dirigentes nacionais para debates sectoriais.

 

As continhas estão feitas e a fórmula definida. Ao aceitar apenas dois frente-a-frente, ambos com Ferreira Leite, Sócrates reforça a ideia de que a escolha dos eleitores se confina aos dois. Com os “outros”, argumentar-se-á, já debateu muito no Parlamento durante estes últimos 4 anos e meio. Caso o primeiro embate televisivo com a líder do PSD corra menos bem, sempre haverá um second round.
Um debate com os partidos representados no hemiciclo cumpre os mínimos democráticos e não deverá deixar a ERC incomodada por aí além (embora já poucos a levem a sério e a nenhum eleitor interessem debates com todos os partidos concorrentes, acho que 12 no total).
Irá Manuela Ferreira Leite, contudo, elevar a parada e fazer mesmo por debater com os restantes? Duvido, mas caso o faça: Chapeau!


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