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Parece que a contragosto de boa parte dos cientistas sociais e da oposição em geral, o número de suicídios não aumentou com os efeitos da crise em Portugal. Ainda fica por provar que os confrontos no Parque Eduardo VII nos festejos do Benfica sejam directa ou indirectamente da responsabilidade do resgate assinado pelo governo Sócrates (no tempo em que éramos todos felizes).
Hoje chegam notícias que o desemprego atingiu em Abril o valor mais baixo desde Agosto de 2011. Afinal os portugueses, depois da coça, em vez de pegar fogo à cidade ou suicidarem-se, estão a virar-se. Uma chatice, a traiçoeira realidade.
Ainda assim a questão base parece-me que reside na equívoca arquitectura regime. Cavaco usou a margem que possui e passa duma visão minimal dos poderes do Chefe de Estado para a oposta: traído pelas disputas entre Portas e Passos Coelho e sem consideração pelo parlamento eleito assumiu o risco de gerir a agenda politica. Apesar dos portugueses alimentarem simpatias por homens providenciais receio bem que a coragem revelada resulte afinal numa trágica imprudência. De resto, perante este cenário, pouco compensadora é a severa lição dada a Paulo Portas a quem definitivamente lhe escapa a História.
É verdadeiramente aterradora a ideia (sim, porque não passa de uma ideia) de que o grande Leviatã tenha agentes infiltrados nas lojas a espreitar atrás do meu ombro. Agora que me dá gozo receber factura sem ter de suplicar, dá; lá isso, dá.
Quanto ao mais, suspeito que Francisco José Viegas já se deve ter arrependido cem vezes do desabafo que ontem publicou. Nunca iremos saber, mas eu prefiro pensar assim.
De uma coisa eu estou certo: a defesa deste Orçamento de Estado por Vítor Gaspar tem exactamente o mesmo fundamento da aprovação por Paulo Portas: razões patrióticas. Vistas as coisas ao contrário: este odioso Orçamento de Estado é assumidamente um infortúnio, tanto para Gaspar quanto para Portas. E como faz falta por estes dias de tormenta, quem se chegue à frente com um discurso de verdade, coerente e mobilizador - política, enfim.
De resto sabemos bem quem são normalmente os primeiros a abandonar o barco adornado.
Foto filtro Instagram
Estou convencido que o orçamento de Estado aprovado ontem, provavelmente o maior assalto fiscal perpetrado contra as nossas comunidades, foi pouco mais ou menos aquele que era possível tendo em conta o acordo e as premências estabelecidas para o resgate financeiro negociado com a Troika por José Sócrates.
Mas o que ressalta para mim de mais grave nisto tudo é o irremediável descrédito alcançado por uma promissora geração de jovens políticos. O que foi aprovado ontem não foi só um orçamento inqualificável que reforça de forma sufocante o peso dum Estado mastodôntico: ontem foi ateada uma enorme e incontrolável fogueira em que arde o que restava da reputação dos políticos e das esperanças dos portugueses. Justificações haverá muitas certamente, não há é perdão. Quem disse que a vida era justa?
Em 2011 estávamos neste ponto
O pecado de Isabel Jonet é a sua dicção, digamos, a maneira como mexe as mãos e pisca os olhos: é a sua condição social de «privilegiada», como agora se diz, o que, segundo a acefalia reinante, a desqualifica para qualquer intervenção pública. Mesmo sendo Isabel Jonet uma pessoa com um currículo a todos os títulos inatacável no trabalho de campo de combate à pobreza, qualquer consideração que faça sobre os mais «desfavorecidos» será considerado um «insulto», à imagem daquilo que se passou com Alexandre Soares dos Santos, por exemplo (já agora, como está a correr esse boicote ao Pingo Doce?). O dado preocupante nesta história é este (não é o «boicote» ao Banco Alimentar, que será feito por catorze pessoas com contas Twitter): a radicalização das várias sensibilidades sociais e políticas que conduzirão, tragicamente, a uma situação onde será impossível qualquer tipo de consenso sobre aquilo que o país tem de fazer.
Isabel Jonet teve a imprudência de constatar profilacticamente que os portugueses vivem acima das suas possibilidades e na fatal contingência dum processo de empobrecimento (se quiserem chamem-lhe "ajustamento", que dói menos). Este facto tão chocante trata-se de uma inevitabilidade, bem mais radical trágica se não cumprimos os compromissos assumidos. Eu por mim prefiro viver olhos nos olhos com a realidade, uma atitude nem sempre fácil mas que me poupa alguns dissabores.
João Távora
Não é tempo do CDS lançar o País numa profunda crise política de consequências imprevisíveis. Não, não é desse modo que o partido vai recuperar a confiança do seu eleitorado, antes pelo contrário. Um conservador que se preze, assume com determinação a responsabilidade dos seus actos e escolhas (erros inclusivé) até às últimas consequências.
Desde a morte de Sá Carneiro que se provou e tornou a provar que um primeiro-ministro que não aparecesse ao público como o inequívoco responsável pela vitória da maioria não conseguia, por mais que se esforçasse, adquirir a autoridade para governar o seu partido, o Estado e o país. A fraqueza original de Balsemão e Santana Lopes veio daí. Mas ninguém se lembra. E não se lembrará até ao dia em que o cidadão anónimo fizer ao "salvador" que se prepara esta pergunta simples: "Quem é que o elegeu?" Perante o espectáculo vergonhoso do nosso melancólico mandarinato, resta uma única conclusão: a crise chegou à República.
Vasco Pulido Valente hoje no Público
Nem a proletarização das redacções, nem o tempo de férias, nem a histriónica bloguização do noticiário político nas TVs justificam que durante quarenta e oito horas, boa parte da Comunicação Social, com a SIC à cabeça, tenha vivido agarrada a uma frase bombástica de Passos Coelho, não pela sua substância mas pela utilização de um plebeísmo, afinal tão vulgar e bem aceite entre os camaradas da revolução dos cravos e pelas "elites" da esquerda, pá! Sintomáticas me pareceram as quarenta e oito horas que a oposição socialista, pela voz de Zorrinho, demorou a apanhar boleia do coro da SIC com alguns blogues e "fecebooks".
A frase do primeiro-ministro "Se algum dia tiver de perder umas eleições para salvar o País, que se lixem as eleições. O que interessa é Portugal" reflecte uma legítima preocupação de uma parte dos portugueses que têm consciência de como o clientelismo e a demagogia eleitoralista dos partidos conduziram, de promessa em promessa, de concessão em concessão, o país ao abismo da bancarrota.
De facto nunca foi tão pertinente como nestes dias, a máxima do Nobel da literaturade Anatole France “Não há governo popular, governar é criar descontentes”. Não estou nada certo de que o primeiro-ministro tenha a noção profunda deste paradigma, mas tenho a certeza de que a matéria que urge utilizar para as manchetes e ser debatida com bons especialistas nos Media são assuntos difíceis, como as máfias e os lóbis que sequestram o Estado e a política, o próprio sistema que tarda a reformar-se, o desmantelamento do sedento monstro que sufoca a economia e a iniciativa privada, ou a Justiça inoperante que apenas serve os mais poderosos. Aquilo em que uma "comunicação social responsável" se devia empenhar era no confronto dos governantes com as promessas que tardam cumprir e com as quais sustentavam uma suposta diferenciação de políticas com os seus antecessores.
O jornalismo, como a governação, deveria ser tido como coisa séria, e a sua orientação entregue a gente erudita, íntegra e sem agendas ocultas. No caso dos Media exige-se redobrada responsabilidade porque estes detêm demasiado poder que não pode ser fiscalizado nem é sufragado.
Na diminuição de 5,3% da receita fiscal nos dois primeiros meses deste ano face ao período homólogo do anterior, veja-se que que se regista uma quebra de 6,7 por cento sobre o ISP e o IVA, que é o imposto mais importante em termos de receita teve 1,1 por cento nos primeiros dois meses do ano. De ressalvar que esta variação ainda não é afectada pelos aumentos das taxas em várias classes de produtos (a restauração, por exemplo), que só terá efeito nas receitas do Estado a partir do segundo trimestre.
Os abutres que salivam pela pele de Victor Gaspar esquecem-se que um dos objectivos fundamentais para o ajustamento financeira do país passa uma redução substancial do deficit na balança de pagamentos, ou seja por uma redução substancial do consumo privado, que recai fundamentalmente em produtos importados.
Entretanto os mercados, começaram a recuperar a confiança na dívida portuguesa. Ontem, pelo quarto dia consecutivo, a pressão sobre os juros da dívida caiu, atingindo níveis de Novembro de 2010, cinco meses antes de Portugal recorrer ao FMI. Mas isso não interessa nada, pois não?
Numa perspectiva política macro, para lá da pantomima da disputa política, certo é que vivemos a vertigem duma acentuada curva da História, um facto que resulta num futuro mais do que imprevisível. Curiosa foi a referência de Martim Avilez de Figueiredo ontem na SIC Notícias a "dois movimentos civilizacionais historicamente em confronto", ontem como hoje: o debilitado (por culpa própria) capitalismo, da liberdade individual, de criatividade e circulação de bens e pessoas; versus… o Feudalismo, sistema proteccionista, hierarquizado, repressivo, igualitário e fechado. Ou pensaram que era o Socialismo?
Nestes inauditos tempos de História que atravessamos, não nos basta ter de aturar o bando de tudológos oficiais nas rádios e televisões a choramingar banalidades sobre as “injustiças” do sinistro ajustamento económico a que estamos condenados, temos também a má fortuna deste regime nos legar uma crescente troupe de inimputáveis presidentes e ex-presidentes da república, que do alto da sua insignificância contribuem para o ruido com trivialidades sobre o “diálogo”, o perigo do “empobrecimento”, ou a famosa “distribuição dos sacrifícios” assunto para o qual cada um parece ter a sua receita mágica. Todos eles gozam por estes dias o seu peso em prebendas e mordomias douradas pelos actos ou omissões que nos conduziram à actual ruína.
O último a botar a boca no trombone foi o pardacento e lacrimoso Sampaio, que não perdeu a oportunidade de lançar achas para a fogueira, sublinhando que o País está “num momento muito difícil” (!) e defendendo que “é preciso reforçar os instrumentos de diálogo”(!!), concluindo num desavergonhado assomo de lata que “afinal de contas” tinha razão na frase célebre frase “há mais vida além do orçamento” (!!!). Nestes tempos de emergência nacional falta-lhes é vergonha na cara.
Sobre a manifestação desta tarde, no Diário de Notícias d'hoje em quatro curtas em pé de página lêm-se os seguintes títulos: “Professores pretendem juntar mais de dez mil”, “Médicos estão contra reduções nos subsídios”, “Polícias querem menos cortes e mais garantias” e “Militares exigem evolução na carreira”. Ontem por volta da uma da tarde passei em frente à assembleia, e, cá em baixo a borrar a harmonia arquitectónica da rua de S. Bento (a do palácio não é grande coisa) deparei-me com um acampamento. Eram pouco mais de uma dezena de indivíduos desgrenhados e com cara de poucos amigos, aqueles que a imprensa designou de “indignados”, e que por ali apodrecem desde 15 de Outubro, o seu momento de glória brandido de cima dum leão. Consta que ontem pela tardinha chegaram à centena a protestar contra a austeridade enquanto o orçamento ia a votos.
Provavelmente à hora em que passei alguns terão ido a casa buscar uns trocos e tomar um duche que isto da vida de acampamento tem os seus incómodos. Enfim, aquela rapaziada leva uma existência dura que nem nas obras, trabalho para imigrantes: permanecem estoicamente há quase um mês no meio de cartazes, lonas e plásticos à mercê dos caprichos meteorológicos, escrupulosamente vestidos de freaks, entretidos entre entrevistas à imprensa da especialidade e a pintura de novos cartazes ou simplesmente explorando os seus telemóveis espertos manufacturados por chineses.
Tudo isto para vos aqui deixar a minha impressão de que a diferença entre as corporações profissionais que hoje descem a avenida e os “indignados” é que estes últimos, se internados numa comunidade de auto-ajuda, a maioria seria certamente recuperável para a sociedade (e para si próprios). À parte disso, todos vivem convencidos que a coisa pública deve ser gerida da rua e que o dinheiro nasce nas paredes dos multibancos.
Foto Paulo Novais Lusa
Por estes dias em que a poeira assenta desvendando uma assustadora crise com dolorosas consequências para todos, convém não perder de vista a racionalidade, como resposta à mais funesta das afeições: o Medo, que tudo destrói. Racionalidade e solidariedade são as únicas atitude viáveis para se encontrarem saídas para os problemas que vamos enfrentar. Na certeza que o mundo não acaba amanhã, e que a Vida encontra sempre um novo caminho para fruir. É assim há milhares de anos. É do mais amargo caos que nasce uma nova alma, para quem não se afundar agarrado à própria desgraça e aos seus velhos paradigmas. E desculpem-me a sobranceria, mas com os meus intensos 50 anos eu sou testemunha disto mesmo.
Há quase quatro anos que o liberalismo foi julgado, culpado e anunciado em extinção, apesar da crise ter sido causada em boa parte pelo socialismo europeu e seus congéneres americanos que, com a ajuda dos bancos, despejaram dinheiro sobre o povo como se não houvesse amanhã. Hoje, os mesmos arautos anunciam, alto e bom som o fim do capitalismo, um Wishful thinking da canga revolucionária pseudointelectual dominante.
Eles não aprendem. O fim do capitalismo é um pouco como o fim do mundo: estão condenados a acabar ao mesmo tempo. Porque o capitalismo é intrinsecamente humano, inseparável da liberdade, condição essencial da sobrevivência da espécie. Acontece que o homem, e por inerência o capitalismo são senhores duma extraordinária resiliência: adaptam-se para sobreviver. O mundo não acaba amanhã: por muito que nos custe, temos é muito que padecer e batalhar. É a nossa condição.
O frenesi dos jornais à volta das declarações de rendimentos dos ministros e gastos na organização dos seus gabinetes, sem enquadramento ou critério editorial que não seja o sensacionalismo que sempre resulta da coscuvilhice parece-me lamentável. A evidente coresponsabilização do 5º poder na situação a que chegámos e consequentemente quanto aos desafios que nos esperam, exigiriam também ao jornalismo, no meu entender, uma séria reflexão e reformulação dos seus processos e valores. Por exemplo, num artigo de hoje do Jornal i, “Gabinetes do governo já custam mais de um milhão de euros por mês”, não encontramos uma linha, um quadro que compare, coloque sob perspetiva, os recursos despendidos pelos últimos executivos na sua organização. Isso sim seria uma investigação de interesse público que ajudaria a entender da “bondade” da atual gestão dos ministérios, e quem sabe no final talvez… se revelasse uma verdadeira “notícia”! De resto face à impopularidade das fatais medidas para a redução do deficit e controlo da dívida pública (a começar pelos tão reclamados cortes nas gorduras do Estado que inevitavelmente importunarão o “Monstro” com consequências fáceis de adivinhar), a exorbitação das mais básicas pulsões de inveja e ressabiamento no pagode afigura-se-me uma estratégia totalmente redundante. Para catástrofe já basta o que basta.
Os automobilistas que hoje de manhã estão a passar pela ponte 25 de Abril não estão a participar no dia do "buzinão" contra o fim da isenção da portagem e o aumento do preço dos transportes públicos. Público
Não se duvida que dentro de alguns meses os partidos de protesto e seus sindicados satélites mobilizem centenas de milhares de militantes para as ruas. Mas há um tempo para tudo e... o motivo é definitivamente fraco.
Por estes dias de Eurocéptico a Portugalocéptico são dois passos
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