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O desafio da normalidade

por João Távora, em 09.11.22

Mascaras.jpg

Não só a recente epidemia de medo explica o fascínio (a saudade?) exercido pela Covid19 em tanta gente, mas o facto do assunto ter monopolizado as suas preocupações durante quase dois anos em que a vida aparentava ser confortavelmente simples: um assunto arrebatador que nos distraía das muitas pequenas e grandes misérias que afligem a vida de toda a gente, normalmente chama-se alienação. Agora que com o frio chegam as doenças respiratórias, há muitos especialistas à espreita de recuperar os seus lugares nos noticiários a espalhar o medo nos espectadores incautos ou com dificuldades de adaptação à "normalidade" da vida. Uma experiência sempre desafiante, sem dúvida.

Imagem: fotografia da secção de brinquedos dum qualquer supermercado ao pé de si

A sorte de uns é o azar dos outros

por João Távora, em 09.03.22

Que os governos socialistas nos governam com o foco principal no marketing e no controlo da comunicação (a direita tem muito a aprender nessa matéria, ai tem, tem!) já nós sabíamos. Que para o controlo dos ímpetos inquiridores da oposição, da comunicação social e das massas em geral os dois anos de pandemia caíram como sopa no mel a António Costa que, com Graça Freitas, armou em paizinho do povo amedrontado com o número de infecções diárias, parece-me evidente. Agora, quando o Partido Socialista na posse de uma maioria absoluta a queimar-lhe as mãos, fazia contas à vida e às verbas da bazuca para pagar a factura de dois anos de recessão e entorpecimento produtivo, cai-lhes ao colo, vindo do Leste, uma guerra brutal como não se via há muito, e a consequente crise energética e inflacionaria a agigantar-se. As primeiras semanas tem servido aos nossos governantes para, perante o choque e pavor (outra vez o pavor) passearem-se nas TVs com discursos emocionais e solidários, que confrontados com a estúpida da guerra nos parecem profundamente sensatos e tranquilizadores – para nosso consolo o desconchavo afinal é carisma exclusivo dos ex-parceiros de governo, BE e PCP. Perante este jogo de sombras, subitamente com a guerra a entrar-lhe na carteira, o povo conta os tostões e corre para as bombas de gasolinas. É neste ambiente de guerra que Marta Temido surge nas TVs a avisar que, em resultado da chegada de refugiados “um crescimento do número de transmissões de Covid-19 pode acontecer” e que que “o país continua a estar num contexto de pandemia e de emergência de saúde pública internacional”. Pelos vistos custa muito à senhora ministra largar a panaceia da pandemia. A realidade bem dispensa mais manobras de distracção.   

Sieg Heil, Doktor!

por Corta-fitas, em 11.01.22

Uns médicos (não «os» médicos) consideraram-se «desconsiderados» por o Governo estar inclinado a deixar votar os confinados.

Nunca julguei ser forçado a aplaudir o governo de Costa, mas, ai de mim, chegou o momento. Contribuo até com um conselho: para amenizar o estado desses «uns» médicos desconsiderados, o Governo deve obrigar essa raça de confinados que queiram votar a apresentarem-se com um emblema apropriado -- uma estrela amarela, por exemplo –, e cantando louvores aos «uns» médicos. Cantar louvores a tiranetes é como o trabalho, liberta.

José Mendonça da Cruz

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Morrer na praia… ou por não querer viver

por João Távora, em 01.06.21

Oura.jpg

Estranho é encontrar tanta gente convencida que era possível convidar os ingleses para vir ver a bola e beber uns canecos ao Porto e obrigá-los (à bastonada?) a usar máscara e a circular com distanciamento. Na sua habitual crónica no Jornal Público, João Miguel Tavares explica explica como o governo inglês recusou a realização da final da Liga dos Campeões que este ano se realizava entre duas equipas inglesas em Wembley, um estádio neutro, por rejeitar as isenções de quarentena exigidas pela UEFA. Tenho para mim que a razão terá sido outra, o ónos político duma "experiência social" deste calibre, assustada que anda a opinião pública britânica. Já o governo português aceitou o risco (político, não sanitário, evidentemente) de trazer cá os bifes “como se o país fosse uma casa de câmbio desesperada pela liquidez da moeda estrangeira” e António Costa, “um empregado de pastelaria da praia da Oura, nos anos oitenta” a destratar os portugueses. Ou seja, o que o cronista releva essencialmente é que somos muito pobres e que, quarenta anos de socialismo depois, talvez com um pouco mais de sofisticação, continuamos a ser um país de hoteleiros, uma gigante esplanada da Europa à beira-mar - melhor que nada. E salienta que as restrições relativas ao Covid-19 são uma panaceia de gente rica, que não está ao alcance do nosso bolso enquanto a economia dos portugueses for tão dependente do turismo – só ontem aterraram em Portugal 53 voos vindos de Inglaterra – “condenados” a receber muitos milhares de turistas para alívio dos empresários e da autoridade tributária. Desconfio que quase tão difícil quanto nos libertarmos do socialismo que nos oprime, vai ser reaprendermos a viver em liberdade, sem restrições, que o pessoal habitua-se a tudo. Ou então, como já reclamam as carpideiras hipocondríacas, estaremos nós condenados neste Verão a morrer na praia infectados com a estirpe indiana?

 

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Os escombros

por João Távora, em 26.02.21

Suzana Peralta.png

Esta entrevista Susana Peralta teve o mérito de por "a burguesia" a olhar para a sua carteira, e quem sabe para os desgraçados que estão a pagar a factura do confinamento - que é o capítulo que se segue quando nos dispormos a olhar para os efeitos colaterais da gestão da pandemia. Por ora há gente a mais confortavelmente no sofá a comer pipocas enquanto assiste pela TV ao desastre que se agiganta do outro lado da sua porta.

Dez razões para a festa do Avante avançar

por João Távora, em 10.08.20

A ler esta magnífica síntese do Henrique Raposo (só não concordo com a última afirmação) que eu roubo descaradamente ao Expresso:   

Avante!: dez razões para a festa avançar

Primeira. A cultura de um país não pode ficar congelada por tempo indeterminado. A “guerra à covid” não pode ser como a “guerra ao terror”, isto é, a perpetuação por tempo indeterminado de estados de excepção arbitrários que colocam em causa a liberdade e, neste caso, a cultura. Quando é que isto acaba? Se não acabar, corre o risco de se perpetuar como qualquer outra máquina burocrática que se alimenta do medo. Por exemplo, quando voltarem a morrer 3 mil portugueses de gripe num espaço de poucos meses (2018/19), os fanáticos do #ficaremcasa voltarão a pedir medidas draconianas.

Segunda. Quando falo de cultura, não estou apenas a defender a sobrevivência económica do meio cultural (do artista ao carpinteiro), estou a defender o coração da sociedade. O belo e o bom estão cancelados. Uma sociedade que não vai ao teatro, ao futebol, à festa da aldeia ou ao cinema não é uma sociedade, é um agregado de indivíduos amedrontados sem laços entre si e a gerar o pior vírus do elenco virologista: o ódio e a desconfiança entre seres humanos. O homem é o grande vírus do homem. As famílias estão a partir. A sociedade está a partir. A empatia está a morrer. Neste momento, o olhar nacionalista contra o "outro" é maioritário, porque o "estrangeiro" é uma potencial ameaça viral.

Terceira. Temos de começar a fazer experiências-piloto com espetáculos com público, do futebol aos concertos. Sem público, a arte e os espetáculos não fazem sentido cénico e não são rentáveis. Sem arte e espetáculos, a sociedade vai morrendo. Neste sentido, parece-me que um evento organizado pela instituição mais habituada a multidões é o melhor caminho. A capacidade organizativa do PCP e o imenso espaço da Atalaia são dois argumentos fortes para deixarmos esta experiência-piloto avançar.

Quarta. Se querem proibir o Avante!, então têm de ir fechar as praias, porque praias cheias e caóticas são mais perigosas do que uma festa organizada pela mão de ferro do PCP.

Quinta. A bolha do medo tem de ser furada. A sociedade entrou num torpor que é, em si mesmo, mais perigoso do que o vírus. Olhe-se para o estado da saúde. O cancro mata cerca de 70 portugueses por dia, mas a oncologia está mortalmente atrasada devido ao pânico do #ficaremcasa. Ao contrário da covid, o sarampo é muito perigoso em crianças. Pois bem: por causa do #ficaremcasa, 13 mil bebés portugueses não receberam nos últimos meses a vacina do sarampo.

Sexta. Abrir o Avante! e outros festivais é um risco? Pois é. Não há vida sem risco. Só que o #ficaremcasa também é um risco. Aliás, é um risco superior à abertura. A fatura do #ficarmecasa está à vista de todos, e crescerá no futuro próximo. Porque é que há tantos centros de saúde ainda fechados? Porquê? As pessoas só não podem morrer de covid? Podem morrer à vontadinha de outras doenças? O #ficaremcasa trocou mortes inevitáveis por mortes evitáveis. Uma senhora de 85 anos com várias comorbidades vai morrer em breve, com ou sem covid. Uma mulher de 40 anos saudável só vai morrer de cancro da mama (ou outro), porque a oncologia foi bloqueada pelo #ficaremcasa, o mesmo #ficaremcasa que matou à sede os velhotes de Reguengos.

Sétima. É preciso abrir a prisão psiquiátrica que o #ficaremcasa criou no coração da sociedade e de cada lar, e que não afeta apenas pessoas com autismo ou Alzheimer.

Oitava. Os maiores defensores do #ficaremcasa fazem parte do funcionalismo público, ou seja, têm sempre o seu rendimento garantido. É por isso que não compreendem (ainda) a crise que já está aí. Para uma parte esmagadora deste país, a crise é uma "crise dos outros", como dizia há dias João Vieira Pereira. Os "outros? Aqueles que dependem da economia a funcionar, aqueles que dependem do fluir normal do público nas suas empresas e lojas.

Nona. É talvez o ponto mais repugnante destes meses. A sociedade dividiu-se entre as pessoas que se sentem protegidas numa bolha que permite o #ficaremcasa e as pessoas que têm mesmo de #sairdecasa para sobreviver. E o sector protegido esmagou os sectores desprotegidos. Também por isso vale a pena apoiar a festa do Avante!, uma festa que, em teoria, é daquelas que têm de #sairdecasa. Mas, já agora, gostava de recordar uma coisa às pessoas que se sentem acima ao crise como se fossem um avião voando acima do clima: se não voltarmos a uma economia normal, a austeridade (isto é, cortes salariais na função pública) será inevitável. Um eterno #ficaremcasa mata a economia; com a economia estagnada, a receita fiscal baixa e, nesse cenário, mesmo com acesso aos mercados da dívida, a austeridade será inevitável.

Décima. A liberdade. É incrível a forma como a sociedade aceitou acriticamente os estados de emergência e as restrições. É urgente reforçar o lado da rebeldia e da liberdade numa sociedade tão paralisada, tão medrosa, tão obediente. Até vos digo uma coisa: se não tivesse a Iniciativa Liberal no boletim de voto, votaria PCP nas próximas eleições.


Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

Contacte-nos: bloguecortafitas(arroba)gmail.com



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