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Teremos sempre Paris...

por João Távora, em 30.03.23

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A ânsia sanguínea de aproveitamento político do hediondo crime de Abdul Bashir - estrangeiro, afegão, muçulmano - por parte de André Ventura só tem paralelo com o denodo da comunicação social respondendo-lhe a deitar água na fervura com a vitimização do refugiado, afinal assassino das duas jovens mulheres, potenciando uma reacção ao contrário. Nestes padrões salta à vista a grande fragilidade da democracia, avessa à complexidade e refém de emotividades e excitações, vulnerável aos clichés de cada momento. É difícil lidar com excitação à volta da fixação dos preços nos supermercados, da condenação dos Padres por pedofilia, das casas devolutas por maldade do senhorio ou o medo dos estrangeiros miseráveis. A exploração de sentimentalismos é tentação em tempos de decadência que atrai mais justiceiros que a necessária racionalidade.

Pior mesmo são as agendas mal disfarçadas. Ou que a Comunicação Social supostamente séria não perceba quão voláteis são os instintos da turba. Do mesmo modo acho estranho que os jornalistas ditos “sérios” se recusem a olhar sob diferentes ângulos o relatório da Comissão Independente e as perversas consequências que dele emergem. Os populistas usam a mesma técnica para públicos mais ou menos básicos, alimentando-os dos bodes expiatórios de ocasião, sacrificados na fogueira da praça pública para alívio das suas frustrações e pobres vidas. O André Ventura pretende ganhar votos, a Comunicação Social audiências, de pessoas zangadas ou com medo.

Quando a tensão chegar ao máximo e a rua imperar, a primeira coisa a ceder será a liberdade que tomamos por garantida. Ou o Terror de Paris.

Imagem daqui

Atraso de vida

por João Távora, em 02.12.22

(...) "Analisemos assim a entrevista dos directores do ponto de vista da sua unidade. Que aprendemos na entrevista? Em primeiro lugar, que a informação em Portugal não é como em outros países. Nos outros países, há pluralidade, televisões e jornais de esquerda e de direita, isto é, os órgãos de informação assumem pontos de vista variados, e dão ao público perspectivas diferentes sobre a actualidade. Em Portugal, não. Em Portugal, cada órgão de informação pretende ser completo, aspirando a cobrir todas as “facetas”, em versões devidamente domesticadas e alinhadas. Como as “uniões nacionais” de antigamente. Em segundo lugar, ficámos a saber que as coisas são assim, porque o país também não é politicamente como os outros. Nos outros países, há direita e esquerda, há divisão, há discórdia, há debate. Por isso é que nos EUA, existe a CNN e existe a Fox News. Em Portugal, não. Em Portugal somos todos igualmente “moderados”, homogeneamente sensatos, e universalmente comedidos. Com uma excepção, profundamente lamentada na entrevista: os “colunistas do Observador” (assim referidos, à maneira de sociedade anónima). Estes constituem uma organização “paranóica” que, imaginem, insiste em discutir a cultura woke, coisa de que, como toda a gente sabe, não há o mais pequeno vestígio em Portugal.

Ficou assim implicitamente definida a missão que se deve atribuir a si próprio um director de informação televisiva neste país: defender uma informação homogeneamente “moderada”, de modo a impedir os “paranóicos” de contaminar a opinião nacional. Na entrevista não se disse, mas o resultado destas teorias é que estes canais de informação televisiva só poderiam ser, como são, iguais uns aos outros, abordando o noticiário pelo mesmo ângulo. O papel da comunicação social passa assim a ser o de uma espécie de igreja oficial, convidando toda a população a rezar a mesma oração à mesma hora. Para o clero deste sistema, discordar e criticar é necessariamente sintoma de “paranóia” ou outra perturbação mental." (...)

Rui Ramos a ler na integra no Observador aqui

Eleições e comunicação

por João Távora, em 08.10.18

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É público como Bolsonaro foi segregado pelos media tradicionais e desprezado pelos politólogos, peritos e de mais elites que tomam conta dos media brasileiros, de como os seus opositores, apoiados nas televisões e jornais de referência, acabaram por cair na asneira de transformar as eleições presidenciais no Brasil num plebiscito ao personagem que de tanta depreciação acabou por alcançar 47% do eleitorado à primeira volta. Foi assim que Trump conquistou a Casa Branca. Interessa-me particularmente este assunto na perspectiva do fenómeno comunicacional de que é fruto, o da perda abismal de influência da comunicação social perante a ascensão das libertárias redes sociais, qual concurso de “soundbites” imediatistas e emocionais que democraticamente todos se arrogam difundir, partilhar e ampliar numa caótica e atomizada rede de influenciadores oficiosos e sem escrutínio. É assim que a comunicação política hoje exige nova abordagem, diferentes estratégias, ferramentas e actores profissionais, porque a ampliação ou silenciamento da mensagem já não depende do controlo dos tradicionais “mediadores” e ela se vem tornando formalmente cada vez mais democrática – literalmente entregue às mãos do povo. O que me preocupa este fenómeno é como sendo democrático pode potenciar a intolerância: pela necessidade de simplificação das ideias e torna-las emotivas para concorrer nas redes sociais, o discurso perde densidade, racionalidade e sofisticação que é o espaço por excelência para os consensos e para a tolerância que exige a boa governança do bem comum numa sociedade liberal. 

Quem me conhece sabe como o meu pensamento político nunca foi mainstream e de como desde a génese deste fenómeno da auto-edição nascido com os blogs no apogeu da Internet não deixei de aproveitar o movimento para difundir ideias pouco populares às agendas do jornalismo “de referência” que sempre gostou de servir a oligarquia e alimentar os seus populismos. Mas tal não impede de admitir que devemos suspeitar deste admirável mundo novo, de como ele nos exige prudência, repensar fórmulas de contrapesos que nos defendam dos aventureirismos autoritários emergentes de maiorias inorgânicas e indomáveis bem manipuladas. Os revolucionários (todos, republicanos, socialistas ou reaccionários) sabem bem do que estou a falar.

 

Publicado originalmente aqui

A grande manobra

por João Távora, em 23.03.18

Se a acção de propaganda do governo agendada para amanhã, que vai por os ministros de enxada na mão a limpar as matas, fosse realizada há quarenta anos, quando só havia dois canais de televisão que como a maior parte dos restantes órgão de comunicação social estavam sob o controlo do Estado, o seu sucesso era garantido: assistiríamos embevecidos a uma comovedora unidade nacional garantida em torno do pequeno ecrã, das rádios e dos jornais que dantes eram patrióticos e agora se chamam "de referência". O que nos vale é a modernidade dos nossos tempos com a diversidade de canais de televisão e rádio e jornais privados e a nossa RTP tão independente, tudo factores que garantirão a indisponibilidade de todos estes meios e os seus jornalistas profissionais para embarcarem numa mera acção de publicidade ao governo de António Costa.

A Rádio Renascença renascida

por João Távora, em 06.12.16

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Desde sempre um amante fascinado pelo fenómeno da rádio, em boa hora me chamou à atenção a nova dinâmica evidenciada pela Rádio Renascença que vem transformando não só a sua grelha de programação, mas a sua estratégia de comunicação: agora, o principal canal do Grupo Renascença parece finalmente interessado em alcançar um público cosmopolita que, sem preconceito contra a religião católica, procura estar a par da agenda política económica e social do país. Apresentando de forma muito dinâmica nos períodos de prime-time conteúdos de índole informativa, com notícias, transito, desporto, comentários e entrevistas a propósito dos temas candentes de sociedade e agenda política nacional e internacional, intercalados com apontamentos de música mainstream nacional e anglo-saxónica, a rádio Renascença assume por estes dias um posicionamento inédito, renovado e comercialmente afoito. Mas se essa mudança é a principal novidade desta rádio que se prepara para festejar os oitenta anos de existência, não menos interessante é de assinalar a inclusão nos radio-jornais de notícias de relevância sobre a Igreja com sintéticos comentários de especialistas, que assim, numa forma natural abrange um público muito mais alargado - e não apenas os cristãos convertidos, como antigamente sucedia, em pesados programas a eles destinados. Tudo isto parece-me tanto mais interessante quanto, em termos relativos, a rádio vem ganhando relevância no meio do modelo clássico de broadcasting e do jornalismo tradicional em acentuada decadência em virtude da sua inadaptação ao fenómeno da Internet e do advento dos média sociais. Não deixa de ser interessante que perante este panorama bastante adverso, a rádio apresente valores de audiência diária acima de 50% por cento da população (54,4% de "Audiência Acumulada de Véspera" segundo dados de Setembro último da Marktest é o número ou percentagem de indivíduos que escutaram uma estação, no período de um dia, independentemente do tempo despendido). E não deixa de ser curioso que o Grupo Rádio Renascença, uma rádio católica, dispute a liderança das audiências com 35,4% de share com o Grupo Média Capital com 35,5%. De resto, curioso parece-nos também o confronto entre a Radio Renascença que ostenta 8,2% de share contra os 5,7% da Antena 1 e os 2.9% da TSF, estações suas concorrentes directas.

Estes números significam uma responsabilidade acrescida que pesa sobre a Emissora Católica Portuguesa de se posicionar de forma consequente no espectro de oferta radiofónica nacional como uma verdadeira alternativa à fórmula laicista, relativista e politicamente enviesada com que a generalidade dos média de referência lêem o Mundo e a sua complexidade. Parabéns à Rádio Renascença, e que lhe não aconteça o fenómeno do árbitro que confrontado com a tarefa de arbitrar um desafio que envolva o seu clube de eleição, para calar as dúvidas sobre a sua isenção, acaba favorecendo o adversário.

 

Texto publicado originalmente aqui

Maldita agenda

por João Távora, em 26.12.15

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Em resposta aos casos mais ou menos artificiais que tenderão a emergir ordenadamente na comunicação social num zeloso exercício de contaminação reputacional do governo de Passos Coelho e Paulo Portas, Nuno Garoupa defende hoje no seu FB, “o respeito duma convenção de 40 anos”, a substituição da liderança do governo cessante, no caso Passos Coelho, fragilizado pela gestão de muitos difíceis dossiers da dura legislatura do resgate. A grande questão está, no meu entender, no espaço e arte que os partidos do anterior governo, agora oposição, tiveram e vão demonstrando para gerir a agenda mediática. Espaço têm pouco e quanto à arte estamos conversados: a verdade é que não vejo como uma nova liderança consiga contrariar esta proverbial aselhice.

Resta saber o espaço que o PS tem nas actuais circunstâncias europeias para fazer umas flores que adiem um inevitável divórcio da "união" da esquerda. Condenados a viver sobre um barril de pólvora que é a nossa dívida colossal, sem um consistente crescimento da economia e reforço da confiança dos agentes económicos - que as esquerdas tanto desprezam - as palavras bonitas chocarão cada vez mais com a dura realidade.

 

PS.: Nunca é de mais repetir: a morte de David Duarte no banco de urgências de S. José é principalmente um problema falta de profissionalismo e negligência médica. Não há dinheiro que disfarce esse problema.

 
 

Everybody loves you when you are dead *

por João Távora, em 27.06.15

O repentino enlevo e atracção que José Ribeiro e Castro exerce sobre a comunicação social devia fazer-nos pensar. 

 

* Título de uma velha canção dos Stranglers

O desafio de comunicar a monarquia

por João Távora, em 24.05.15

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 Dedicar mais tempo à Política que à História - uma prioridade dos monárquicos em tempo de presidenciais. 

150 Anos do Diário de Notícias

por João Távora, em 29.12.14

Na leitura de “As Vantagens do Pessimismo” do filosofo britânico Roger Scruton chamou-me a atenção a antiguidade da escola secundária High Wycombe Royal Grammar School, frequentada pelo autor, estabelecimento de ensino público (gratuito) fundado em 1542 em High Wycombe, Buckinghamshire.  A questão remete-me para o significado e importância da longevidade das instituições e só a título de exemplo, através de consulta rápida na Internet, descubro que a fundação Banco Barclays e a águia representada como seu logotipo ascende ao ano de 1690 e que a origem do reputado semanário londrino The Spectator remonta a 1711.
A resiliência de instituições, organismos e empresas reflecte muito sobre a comunidade de que emanam, e o facto é que em Portugal é corriqueiro que se extingam e substituam a recomeçar zero numa vertigem parola como se não houvera ontem. Irónico como a bandeira do nosso País de quase 900 anos de história tem pouco mais de 100 anos e que, por exemplo, a nossa rádio nacional hoje “Antena um” já tenha mudado de nome e de imagem vezes sem conta desde a sua criação como Emissora Nacional em 1935.
Tudo isto vem a propósito não das consequências da crise do BES, mas dos 150 anos que o Diário de Notícias completa hoje dia 29 de Dezembro e que, a par com o jornal Açoriano Oriental (1835) e o semanário Aurora do Lima (1855), são os últimos títulos centenários resistentes. Admirador confesso da marca que me habituei a conviver de tenra idade em casa dos meus avós, tenho a confessar que por estes dias já só leio o DN aos Domingos, muito por causa das finas e humoradas crónicas de Alberto Gonçalves. Muito pouco para um jornal com tanta história, cujos dados mais recentes apontam para um acelerado declínio de vendas, apesar das diversas restruturações e operações de cosmética efectuadas nos últimos anos.
Tenho para mim que uma marca antiga e com tanta história como a que ostenta o Diário de Notícias possui, só por isso e apesar da crise, uma incalculável vantagem competitiva no mercado da comunicação social. A não ser que dentro daquelas paredes se não tenha sabido preservar e transmitir o capital de saber acumulado que deveriam conferir 150 anos de experiência. E que os seus actuais gestores não saibam merecer esse legado: o Diário de Notícias não é uma marca qualquer. 

 

Texto adaptado, publicado originalmente aqui

Deixem o mercado funcionar

por João Távora, em 17.12.14

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Este braço de ferro que alastra por diversos países da Europa entre os governos e os grupos de média contra o gigante Google a quem se exige pagamentos pela indexação de notícias parece algo caricato. Veja-se o que aconteceu aqui ao lado nas terras de nuestros hermanos: o governo de Rajoy, pressionado pela Associação de Editores de Jornais Espanhóis criou um pagamento conhecido por ‘taxa Google’ em que por cada conteúdo partilhado no Google News, mesmo que seja só o título da notícia, o gigante da informática teria que pagar à fonte. Como consequência, o fim do serviço foi anunciado pela Google espanhola, o que prenuncia incalculáveis prejuízos para os jornais do país vizinho, já que este do agregador de notícias constitui de longe o mais eficiente gerador de tráfego, que é aquilo que os meios necessitam para viver. 

Mas será que a prolongada crise de adaptação da imprensa às novas tecnologias terá que ser paga através de impostos? Repare-se nas movimentações dos burocratas de Bruxelas como Carlos Zorrinho (pessoa tão experimentada na vida empresarial e na criação de riqueza) a reclamar o retalhe do gigante americano em várias empresas ou na promoção de um motor de busca europeu que os consumidores não pediram.
A questão não estará antes em perceber o porquê da Europa se ter deixado ultrapassar em tantos sectores da economia e agir na raiz do problema? Porquê esta sede de intervencionismo no lugar da regulação? Porque não deixar o mercado funcionar, a receita responsável afinal pelo nascimento e crescimento do gigante mundial Google? 

 

Publicado originalmente aqui

 

Ontem após a vitória da Sporting ao Benfica da da Taça de Honra que não vi, os comentadores da SIC notícias estiveram quase uma hora a comentar a forma de jogar e as saídas do Benfica. Desisto, foi a última vez. E ainda bem que temos agora o Canal Sporting onde os comentários certamente conseguirão ser mais esclarecedores. Ah! E quanto ao jogador eleito o melhor do torneio, o melhor é ficarmo-nos por aquele que marcou mais golos - isso é um dado objectivo.

 

Publicado originalmente aqui

As ameaças e o medo

por João Távora, em 20.07.14

(...) A maior ameaça ao jornalismo continua a ser o mau jornalismo (seja ele fruto de sectarismo, preconceito ou ignorância), e não deixam de se verificar diariamente lançamentos de novos e ambiciosos projectos de comunicação social que aproveitam as oportunidades concedidas pelas novas tecnologias. Os desafios que estes tempos da Internet colocam à imprensa e à comunicação social em geral, por mais ameaçadores que aparentem ser, têm que ser enfrentados com criatividade e pragmatismo. (...) 

O Expresso vespertino

por João Távora, em 13.07.14

 

Não sou de intrigas, mas causa alguma estranheza o facto do Expresso quase dois meses após o lançamento do seu vespertino diário em rede lhe ter dedicado no sábado em publicidade nada menos que a capa e a página 2 integrais do caderno principal (a artilharia pesadíssima). Como referi pela altura da sua estreia, este ambicioso projecto, que na sua arquitectura rejeita todas as virtualidades duma publicação digital, e ao contrário pretende reproduzir o modelo de leitura oposto, o de uma revista em papel, tem tudo para não dar certo. Esta fórmula que se afirma “elitista” e nesse sentido rejeita todas as tendências actuais, concede-lhes a contra-gosto apenas os mínimos possíveis. Para mais, o acesso através de alguns dispositivos em miniatura, com o preenchimento com os códigos de acesso fornecidos no semanário, revela-se um verdadeiro castigo ou até uma impossibilidade. Mas o mais importante factor será o de que a disponibilidade para a utilização recreativa da internet não tem hora marcada e que o modelo de navegação “horizontal” ao estilo do papel coaduna-se pouco com os hábitos de navegação na internet. Perante este panorama somos levados a crer que o projecto do Expresso diário, que aparenta ter constituído um grande investimento em recursos tecnológicos, deverá ser revisto para sobreviver.  

 

Publicado originalmente aqui 

Ainda o Observador

por João Távora, em 20.05.14

(...) Ao atrevimento do Observador, publicação que se assume como um projecto jornalístico online de conteúdos inteiramente abertos e interactivos com o leitor e as redes sociais, corresponde uma não menos audaciosa aposta do Expresso num modelo de sinal contrário, de acesso pago e num formato de leitura horizontal, reproduzindo uma experiência de leitura à maneira do papel. (...)

Só novidades

por Zélia Pinheiro, em 25.02.13

"Novos comentadores" na SIC e SIC Notícias, diz o título. Quem são os "novos comentadores"? Marques Mendes, Jorge Coelho, Bagão Félix, António Vitorino e Francisco Louçã. 
Isto a mim parece-me uma aposta muito arriscada. São demasiadas novidades ao mesmo tempo para Portugal, não sei se o País aguenta.

Expresso

por João Távora, em 05.01.13

Ontem numa reportagem na SIC notícias a respeito do 40º aniversário do Expresso, o seu director Ricardo Costa arrogava esfusiante o seu jornal como o semanário dos “Sábados amargos” (subentendidamente de Miguel Relvas), assumindo que o seu papel é de contrapoder, nas suas palavras de “contrabalanço dos abusos dos excessos que a democracia proporciona”. Perece-me óbvio que ao contrário de se pretender contrapoder (um papel que a oposição em geral e o Bloco de Esquerda em particular exerce com requintada competência) cabe a um jornal sério investigar a verdade, seja ela a favor ou contra “o Poder”. Aliás acontece que a Comunicação Social constitui em si um disputadíssimo Poder, o quarto como se lhe usa chamar, e talvez não fosse má ideia incluir os sucessos e insucessos da História no seu balanço de aniversário. Sobre esse ponto de vista e nesta altura do campeonato, talvez Ricardo Costa e Nicolau Santos não tenham assim muitas razões para tanta euforia.
Na edição de aniversário deste histórico hebdomadário nacional - que como bem salienta Henrique Raposo na sua coluna, se confunde com o actual regime - uma das melhores crónicas está escondida na página 53 em forma de carta, pela pena de António Barreto. A determinada altura reza assim: (…) Um semanário tem mais responsabilidades na actividade de “desvendar” os factos opacos ou “misteriosos” do que os diários ou as televisões. Muito do que se passa na sociedade e na política é totalmente incompreensível se não for devidamente tratado e esclarecido. As causas concretas da dívida portuguesa e o deficit dos anos 2005 a 2013, por exemplo ainda estão hoje razoavelmente encobertas. (…) Toda a comunicação social está orientada para o espectáculo e encenação, quando não para a propaganda. É indispensável contrariar essa tendência, o que já se percebeu em Portugal não acontecerá com os Diários, muito menos com as televisões.
É aqui que está o busílis da questão. Estranho, de facto, como um tão atendo e sofisticado “contrapoder” como o Expresso, tenha atravessado a última década de ruina num plano inclinado de indolência e alienação, quando não em absoluta cumplicidade com as oligarquias conservadoras (dos seus crescentes privilégios) que nos trouxeram a este trágico desígnio.
Neste dia em que se celebram quarenta anos do mais reputado jornal deste País que se afunda numa das mais graves crises da sua História, seria aconselhável, ao invés de estéreis troca de gabarolices e de galhardetes entre os seus protagonistas, uma séria análise de qual deverá ser o seu papel no futuro, se ser agente activo no jogo de recados da baixa intriga sectária e fulanista, ou reabilitar o merecimento do seu histórico estatuto nobiliárquico, coisa que sem uma clara mudança de estratégia, se ficará como isso mesmo: um estatuto, que o arruinado e excêntrico fidalgo levará para a sepultura do esquecimento. 

 

Publicado originalmente aqui

Propaganda

por João Távora, em 21.11.12

 

Ironia nestes tempos de tecnologia e falência de jornais é o poder que mantém uma manchete assertiva exposta num escaparate de quiosque.

 

Foto Instagram, publicado originalmente aqui

Contemplando o fundo

por Zélia Pinheiro, em 28.06.12

Seria inevitável que os jornais fossem afectados pela crise? Ou será que a crise até podia fazer com que as pessoas sentissem maior necessidade de informação? De todo o modo, uma quebra de mais de 10% nas vendas dos jornais diários, já de si baixíssimas, dá que pensar, e não só, mas também, sobre as estratégias das empresas de comunicação social portuguesas.

Ou bem que há moralidade ou comem todos

por João Távora, em 03.02.12

Ainda a respeito da suposta “Censura” ao Pedro Rosa Mendes, não me lembro de nenhuma crónica dele nessa Série da Antena 1, mas por azar dos Távoras calhou-me ouvir umas quantas alarvidades duma tal de Raquel Freire, por exemplo, exaltando a masturbação feminina, ou incitando a insurreição popular contra o capital e outras conspirações malévolas. Mas a afronta com os dinheiros públicos não pára aqui, e não vemos chegada a hora de caducar o contrato do programa "Esplendor de Portugal" às terças-feiras depois das 19.00hs (horário nobre), em que  Juan Goldín, argentino, Fátima Monteiro, cabo-verdiana e Ronaldo Bonacchi, italiano, proferem as mais baixas vulgaridades nessa mesma Antena “de todos nós”.

Ainda não percebi porque carga de água são sempre as “minorias” do mesmo lado, com direito à Antena paga pelos contribuintes. Se é para serem “fracturantes” e “originais”, e para haver verdadeira equidade, porque não há-de a rádio pública convidar aos seus microfones uns Nacionalistas ou simpatizantes Nazis que afinal também sabem umas juntar frases bombásticas com sujeito, predicado, e complemento directo?

Restauração da Independência

por João Távora, em 01.12.11

 

 

Ao contrário dos maçons que por já por aí uivam e acirrados rosnam salivando ódio com a ameaça da extinção do 5 de Outubro, o modo conformado com que a Igreja concede na eliminação de duas importantes festas religiosas, coincide com a maneira polida característica das forças mais tradicionalistas, que também se resignam com o fim do feriado da Restauração da Independência. De facto o mundo não acabará por isso, mas o fenómeno encerra em si um terrível simbolismo: quem é que por estes dias quer saber verdadeiramente dessa coisa extravagante chamada soberania, ou ainda desse capricho da “independência”?

 

 

De resto, ontem à noite, quase setecentos portugueses entre os quais muitos jovens juntaram-se no Centro Cultural de Belém numa evocação aos heróis que há 371 anos instauraram a “Dinastia Portuguesa” da Casa de Bragança em torno do Chefe da Casa Real Portuguesa. Com a habitual leitura da mensagem de S.A.R. tratou-se duma sóbria manifestação de sentido pátrio e solidariedade olimpicamente ignorada pelos média, demasiado ocupados  com o exercício de bajulação ao decrépito regime encarnado por Mário Soares que promovia uma vernissage na sala ao lado com o lançamento do seu livro.
Porreiro pá!

 


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