Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Monograma FD_Página_1.jpg

As notícias do primeiro casamento na Casa de Bragança em mais de 25 anos em Mafra, no próximo dia 7 de Outubro, acontecendo numa democracia liberal do Ocidente, naturalmente causaram alguma polémica e indignações, principalmente visíveis em certos bas fonds das caixas de comentários e redes sociais. O fenómeno demonstra duas coisas: a primeira é que, como todos já sabemos, a conjugação da indolência do sofá com o anonimato, favorece destemidos revolucionários de teclado, expelindo aleivosias, convencidos que arremessam cocktails molotov - antes assim. A segunda coisa é uma particularidade portuguesa bem triste, herança da escola jacobina francesa: a inveja e o ressabiamento social, cultivados com afincada raiva no início do XX, que deixando um rasto de sangue, os nossos extremistas sempre souberam utilizar com perícia. Curioso é como, enquanto na maior parte do Ocidente civilizado se discutiam e se confrontavam as ideias liberais com o dealbar das soluções fascistas e comunistas, neste jardim à beira-mar plantado, a fractura política dominante tinha como tema, sempre acirrado, o rei e a monarquia, cuja remoção tudo iria resolver, e a Pátria iria resgatar em “amanhãs que cantam”. Não cantaram, como bem sabemos.

Uma pequena dose de realismo e interesse pelos fenómenos políticos e sociais da actualidade retira qualquer veleidade ao mais fervoroso monárquico (como eu sou) da expectativa duma mudança de regime de Chefia de Estado em Portugal. Para mais duvida-se muito que fosse simplesmente a existência de um rei, mesmo que o seu nome fosse Sebastião, que viesse resolver as contradições e desafios em que o país se afunda mais e mais a cada ano que passa. No entanto, tenho a certeza que o casamento da Infanta D. Maria Francisca com Duarte de Sousa Araújo Martins daqui a dias, não sendo contra ninguém, possui evidentemente um inevitável conteúdo político. A afirmação da Casa Real Portuguesa entre os portugueses é perfeitamente compatível com as instituições da república. Talvez que a república, com a atenção que lhe deveria merecer a res publica sempre defendida pelos nossos reis, devesse aceitar como um activo a sua convivência com a Casa Real Portuguesa e o seu inequívoco papel unificador da sociedade portuguesa. Sou há muitos anos testemunha da forma calorosa e entusiástica como as nossas gentes sempre recebem a Família Real nas suas freguesias e municípios, mesmo quando administradas pelo Partido Comunista.

Nesse sentido veja-se por exemplo o fenómeno de afirmação da coroa romena nas últimas décadas, pairando acima da república que nos anos 90, com várias nuances e progressivamente ocidentalizada, substituiu a tirânica ditadura comunista de Ceaușescu. Este caso deveria fazer-nos pensar. O carismático Rei Miguel (1921 — 2017), expulso da sua pátria em 1947 pelo governo pró-soviético, teve um papel fundamental para que tal acontecesse. Autorizado a voltar à Roménia em 1992, só em 1997 recuperou a cidadania romena que lhe havia sido retirada pelos comunistas. O sucesso do seu regresso culmina em 2011 quando foi convidado a discursar na abertura do parlamento romeno instituído pela constituição republicana de 1991. Reduzindo progressivamente a intensa vida pública por causa da sua idade avançada, o Rei Miguel teve sempre o apoio da Princesa Margareta que com ele palmilhou o caminho de reafirmação institucional da Casa Real Romena. Hoje ela é reconhecida como elemento agregador da nação, fruto da incansável dedicação ao seu povo, expresso através da constante presença no meio da população e no apoio às comunidades. Nesse sentido, como reconhecimento inequívoco da sua relevância pelo Estado, foi devolvido à Família Real o Palácio Elisabeta, sua residência oficial em Bucareste.

Como referiu o insuspeito presidente francês Emmanuel Macron em Julho de 2015 numa entrevista, “a democracia comporta sempre uma certa incompletude, porque ela não é suficiente por si só", e prosseguia: "Há no funcionamento da democracia uma ausência. Na política francesa, essa ausência é a figura do rei, do qual eu acredito fundamentalmente que o povo francês não quis a morte. O Terror [período subsequente à Revolução Francesa] criou um vazio emocional, imaginário e colectivo: o rei já cá não está!" Quantas vezes o presidente Macron deve ter relembrado estas palavras durante as insurreições recentes em França…

Esperemos que Portugal não tenha de chegar ao estado a que conduziu o regime comunista a Roménia, para darmos mais valor a uma instituição como a Casa de Bragança e as suas raízes profundas que nos conduzem à fundação da nacionalidade. O casamento em Mafra no próximo dia 7 de Outubro é muito mais que um evento social e mediático. É um passo na elevação dos portugueses a um patamar de civilização, tolerância e erudição, como comunidade ciente do valor da sua história e dos seus símbolos. Um Portugal de rosto humano, representado por uma Família a quem sucessivas gerações conheceram a história, a bravura, os acidentes e contradições, no moldar durante oito séculos deste projecto improvável que é o nosso pequeno país. Uma questão do foro da meta-política.

No dia 7, em Mafra, temos razões para festejar.

Na imagem: monograma dos noivos desenhado por Luís Camilo Alves, ilustrador oficial do Instituto da Nobreza Portuguesa.

Publicado originalmente no Observador

O Casamento Real e “A Liberdade Portuguesa” *

por João Távora, em 17.09.23

Não queremos outra liberdade senão a liberdade portuguesa.
Mas também não queremos outro Portugal senão o Portugal dos homens livres. E é ao procurar a práxis desta teoria que aclamamos o rei.

Henrique Barrilaro Ruas, 1971

HERÁLDICA_DUARTE E FRANCISCA.jpg

No próximo dia 7 de Outubro terá lugar na Basílica do Palácio Real de Mafra, pelas 15:00 horas, o primeiro casamento na Família Real Portuguesa em mais de 25 anos, o feliz enlace de S.A. a Infanta Dona Maria Francisca com Duarte de Sousa Araújo Martins. À maneira das ancestrais bodas reais que pautaram os 800 anos da monarquia portuguesa, esta grande solenidade significará o retorno da noiva à sua ancestral casa de família, monumento erigido pelo seu 7º avô, Dom João V. A essa celebração comparecerão numerosos convidados, entre os quais personalidades de destaque da vida social e política nacional e internacional, incluindo membros de famílias reais estrangeiras. Os célebres carrilhões assinalarão sonora e vibrantemente o início e o término desta grande festa portuguesa, que extravasará as fronteiras do Concelho de Mafra e do Distrito de Lisboa para Portugal inteiro.

Este casamento, que contará com ampla cobertura mediática e transmissão televisiva, sucede a três enlaces reais portugueses ocorridos em república, com a diferença que não se realizará no exílio, e muito menos na clandestinidade. Os monárquicos amam a Liberdade. Lembremos que o rei Dom Manuel II casou-se a 4 de Setembro de 1913 com a Princesa Augusta Vitória de Hohenzollern-Sigmaringen no Sul da actual Alemanha, banido da sua pátria pelos revolucionários republicanos três anos antes – como sabemos morreu tragicamente vinte anos depois, exilado em Londres, sem geração. Trinta anos mais tarde, em 1942, é a vez de Dom Duarte Nuno, neto do rei Dom Miguel, ainda impedido pelas leis do Estado português de entrar em Portugal, celebrar o seu matrimónio com SA Dona Maria Francisca, Princesa de Orléans e Bragança, bisneta do Imperador Dom Pedro II do Brasil, a 15 de Outubro, na Catedral de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ainda condenada ao exílio pátrio, a nova família instalar-se-ia na Suíça até 1952, quase dois anos após a revogação da Lei do Banimento. Por causa das ambiguidades do Estado Novo, não foram tempos fáceis os da acomodação da Família Real em território nacional, questão que exigiu aos monárquicos da época grande empenho na procura de uma solução condigna para a sua querida Família Real finalmente de retorno à Mãe Pátria, um desejo antigo de Dom Duarte Nuno. Definitivamente o governo da república não se sentia confortável com a fixação de residência dos Duques de Bragança em Lisboa, tendo Suas Altezas por isso vivido os primeiros anos na freguesia do Canidelo, em Vila Nova de Gaia, antes de se instalarem 5 anos depois em São Silvestre do Campo, nos arredores de Coimbra, numa parte dum antigo mosteiro de São Marcos, por muitos anos local de festiva peregrinação, pelos muitos dedicados monárquicos, a cada dia 1 de Dezembro. Entretanto os tempos mudaram, e ainda há muita gente que se lembra com comoção e carinho, do casamento de Dom Duarte Pio, actual Chefe da Casa Real Portuguesa, com Dona Isabel, nos Jerónimos, que levou a Belém uma colorida e participada festa, no qual fizeram questão de tomar parte entre tantos distintos convidados, imaginem só, o então presidente da república Mário Soares e o primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva. Os monárquicos acima de tudo amam a “Liberdade Portuguesa”.

Por todos estes motivos e mais alguns queremos que a festa do casamento da Infanta Dona Maria Francisca com Duarte de Sousa Araújo Martins em Mafra, a decorrer no Terreiro Dom João V engalanado com as cores e a heráldica que simbolizaram durante séculos esta Nação improvável, seja motivo de adesão de todos os Portugueses. Pela minha parte, empenhado com a Real Associação de Lisboa na organização das actividades no exterior da Basílica, convido todos quantos ali se queiram juntar, na tarde do próximo dia 7. Para os mais curiosos existirão dois ecrãs gigantes com transmissão do interior da Basílica, e para ajudar à festividade, serão distribuídas centenas de bandeiras e contaremos com a actuação de mais de 500 elementos de doze Grupos Folclóricos representando várias regiões do país.

Este, que será o primeiro casamento dos nossos infantes, Afonso, Maria Francisca e Dinis, é desde já promessa da continuidade desta Instituição, valioso activo identitário da nossa sempre periclitante Pátria, mesmo em república. Por isso reclamamos o reconhecimento e abraçamos a Casa Real Portuguesa. Muitos empedernidos republicanos, cem anos depois da revolução, reconhecem a importância desta tradição como factor de comunhão Nacional. Quanto ao mais, sei por experiência própria como os portugueses, nas ruas das nossas cidades, vilas e aldeias, reconhecem com simpatia, a sua querida Família Real.

 *Do título de uma antologia de textos de Barrilaro Ruas

Texto publicado originalmente no Observador.

Na imagem: a heráldica dos noivos desenhada por Luís Camilo Alves, ilustrador oficial do Instituto da Nobreza Portuguesa.

Uma rainha feliz

por João Távora, em 29.04.11

Uma Nação em festa

por João Távora, em 29.04.11

 

 

É um acontecimento fulcral na vida duma Instituição Real, símbolo de renovação, de esperança e de continuidade da Nação. O casamento é uma demonstração viva da profunda, inexplicável, da unidade entre todo um povo. Parabéns a SSAARR Os Duques de Cambridge, futuros Reis do Reino Unido, da Grã Bretanha e Irlanda do Norte, etc.


Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

Contacte-nos: bloguecortafitas(arroba)gmail.com



Notícias

A Batalha
D. Notícias
D. Económico
Expresso
iOnline
J. Negócios
TVI24
JornalEconómico
Global
Público
SIC-Notícias
TSF
Observador

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Anónimo

    Não há um problemas com a credibilidade do Governo...

  • Anónimo

    O artigo não está nada mau não, vamos para a teori...

  • Anónimo

    Estou a ficar desiludido. Segundo o que vou ouvind...

  • Antonio Lopes

    Absolutamente execrável essa de Ana Gomes.Debita d...

  • Manuel

    Quem derrubou o governo foi quem rejeitou a moção ...


Links

Muito nossos

  •  
  • Outros blogs

  •  
  •  
  • Links úteis


    Arquivo

    1. 2025
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2024
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2023
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2022
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2021
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2020
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2019
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2018
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2017
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2016
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2015
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2014
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2013
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2012
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2011
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2010
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2009
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2008
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D
    235. 2007
    236. J
    237. F
    238. M
    239. A
    240. M
    241. J
    242. J
    243. A
    244. S
    245. O
    246. N
    247. D
    248. 2006
    249. J
    250. F
    251. M
    252. A
    253. M
    254. J
    255. J
    256. A
    257. S
    258. O
    259. N
    260. D