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Golpadas e revoluções

por João Távora, em 25.04.24

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Golpe de Estado é a fórmula típica portuguesa de fazer as reformas que os apaniguados do regime protelam e empurram com a barriga. É assim há mais de 200 anos a "começar de novo" e não tem dado bom resultado. Uma sondagem há dias dizia que o 25 de Abril é o momento histórico mais importante da história de Portugal. Aguardemos pelo próximo.

50 anos

por João Távora, em 24.04.24

Evidentemente saúdo a democracia recuperada há 50 anos no 25 de Abril - quase desbaratada de seguida. Afinal, foi ao tempo da monarquia liberal, ao longo do século XIX, que se ensaiaram os primeiros e acidentados passos duma democracia moderna, um processo interrompido com o regicídio e a 1ª república.

Para celebrar o nosso regime liberal representativo não são necessários exercícios infantis de diabolização do passado. Acontece que não nos aliviam a consciência das misérias e preocupações do presente, uma delas com a Liberdade.

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Escapará por certo a muita gente que Gonçalo Ribeiro Telles, entre os anos cinquenta e setenta do século XX, assumiu um importante papel na transição do regime, que culminou com a sua eleição como deputado da AD e designação para Ministro da Qualidade de Vida do governo de Francisco Sá Carneiro. Tal percurso aconteceu, resumidamente, com a criação em 1957 do Movimento dos Monárquicos Independentes, a que se seguiria o Movimento dos Monárquicos Populares, com a posterior integração em 1969 na Comissão Eleitoral Monárquica, para concorrer à Assembleia Nacional. Hoje mais conhecido como fundador do movimento ecologista em Portugal, Ribeiro Telles sempre foi para mim um exemplo da moderação e da abrangência política particularmente relevante num líder monárquico. Como já referi por diversas vezes, a chefia de Estado Real, o rei, só o será algum dia enquanto máximo zelador da liberdade de todos, todos, todos. Uma monarquia, na complexidade das sociedades actuais, só poderá perdurar assente em largos e profundos consensos duma nação antiga como a nossa, que legitimem a prevalência dessa tradição.

Independentemente do falhanço do equívoco projeto partidário do PPM, que Ribeiro Telles fundou com algumas das mais excepcionais personalidades políticas de então, como Henrique Barrilaro Ruas, Francisco Rolão Preto e Augusto Ferreira do Amaral, a sua liderança e autoridade — que extravasou o âmbito dos monárquicos — sempre me mereceu profundo respeito. Não partilhando muitas das suas referências ideológicas, admiro-o como o comunicador cativante e inato que foi, como católico praticante, e pela manifesta lealdade à Causa Real e à Casa de Bragança, na pessoa do Senhor Dom Duarte, que perdurou até ao fim da sua longa vida. Até poucos anos antes da sua morte em 2020, fez questão em participar na vida da Real Associação de Lisboa, de que era membro, e com ele tive o privilégio de me cruzar em Assembleias Gerais e de o entrevistar para a revista que publicamos.

É porque esse seu protagonismo na política portuguesa tende a ser esquecido e menosprezado pela tirania politicamente correcta, que a Real Associação de Lisboa, no âmbito das celebrações do 50.º aniversário do 25 de Abril, decidiu reeditar uma sua antologia intitulada Porque Sou Monárquico, com base na recolha preparada por Vasco Rosa (que também organizou para a Real Associação de Lisboa a antologia A Liberdade Portuguesa, de Henrique Barrilaro Ruas, também ele deputado constituinte de boa memória para muitos), cujo lançamento se realizará — simbolicamente — no próximo dia 23, terça-feira, pelas 18:30, no Auditório Almeida Santos do Parlamento português, ou palácio de São Bento. A nova edição, com um texto inédito, estará disponível para venda no local e também aqui.

Com mais esta homenagem ao saudoso arquitecto paisagista, ecologista e político, pretende-se realçar o papel dos monárquicos na transição do Estado Novo para a Democracia. Aqui deixo o desafio aos leitores a participar neste importante evento, que contará com a honrosa presença dos Duques de Bragança e com a participação especial de Augusto Ferreira do Amaral, co-fundador do PPM, João Barroso Soares, que com o homenageado conviveu durante os seus mandatos na CML, e do historiador José Miguel Sardica, profundo conhecedor da história do século XX, área de investigação em que há muito se vem afirmando. A conferência promete.

A democracia e a liberdade são o território natural dos monárquicos portugueses. Importa não esquecê-lo — ou, como agora se diz, cancelá-lo.

Texto original publicado no Observador

A maçã de Adão

por João Távora, em 08.06.21

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Talvez a festa dos 50 anos do Adão e Silva inclua uma cimeira de chefes de Estado, uma ópera, um festival de cinema, outro de teatro, um pavilhão novo no Parque das Nações e uma ida à Lua - eventos é connosco. Talvez assim justifique o orçamento - afinal temos de gastar a massa da bazuca, não é?

Agora a falar a sério: acho um enorme disparate um festejo demasiado ostensivo do regime pelos seus autoproclamados donos. Cada vez é mais evidente a fractura social entre os que pagam e os privilegiados que usufruem economicamente dele - com pensões, empregos e privilégios garantidos. Se assim for, previsívelmente as celebrações dos 50 anos do 25 de Abril irão resultar ao contrário do pretendido - o nível de rejeição vai ser muito alto, mais ainda se a previsível crise económica post-covid se confirmar para os próximos anos. Somos um país muito, muito empobrecido, dos mais pobres da Europa, pouco preparado para o que aí vem. Por isso é que esta comissão do Adão e Silva é chocante, e uma enorme falta de sensibilidade política.

O dia da Liberdade

por João Távora, em 25.04.19

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O 25 de Abril de 1974 cujo aniversário curiosamente este ano se celebra numa madrugada de quarta para quinta-feira como há quarenta e cinco anos, teve seguramente um grande impacto na minha vida, ao despertar-me aos doze anos para o valor primordial da Liberdade. Até àquela idade eu não tinha a mais pálida noção da realidade política em que vivia, a não ser uma vaga ideia de que vivíamos numa república e que isso não era muito dignificante. Nos dias seguintes à revolução, para lá da desconfiança do meu erudito Pai cuja mundividência alcançava outras eras, fui levado através do convívio com os meus familiares e amigos a acreditar que o tempo era de celebração e de expectativa (sim, também eu trauteei muita cantiga de “intervenção”). Celebração essa que, passado pouco tempo, se tornou em suspeita e de seguida virou receio e sobressalto: no final do ano de 1974, com 13 anos, já eu me envolvera na política e militava no Partido da Democracia Cristã de Sanches Osório e me apercebera que a minha gente era “non grata” à facção extremista que se apoderara do novo regime e da minha Liberdade - o partido, que não sendo de esquerda ou de centro era moderado, foi banido a 11 de Março de 1975. No espaço de um ano estive várias vezes sequestrado, apanhei pelo menos uma sova (no liceu) e houve um período em que com a família vagueei na clandestinidade em casas incógnitas com os passaportes nos bolsos para a eventualidade de termos de fugir do país. Só com o 25 de Novembro nos foi possível retomar uma vida com alguma normalidade.
É por tudo o que atrás referi que posso afirmar sem qualquer hesitação de que foi o 25 de Abril que me ensinou a dar valor à Liberdade e a respeitar os outros e a diversidade das suas ideias e perspectivas. Não há muitos valores pelos quais eu sinta que valha a pena dar a vida, mas por conhecimento de experiência feito, sei que a Liberdade dos meus filhos é um deles. Ironicamente, essa lição devo-a ao 25 de Abril.

25 Abril 43 anos depois

por João Távora, em 25.04.17

Não podemos esquecer que nos dias seguintes à revolução dos cravos iniciou-se uma encarniçada luta pela Liberdade, que teve o seu auge a 25 de Novembro de 1975, mas que ainda hoje perdura, e perdurará enquanto imperar nas sombras e às claras uma casta omnipotente que se considera herdeira duma superioridade moral em relação aos demais.

Ao cabo de 43 anos deveria ser uma evidência que o socialismo, nas suas várias adaptações e intensidades, não é a única receita para a resolução dos problemas dos portugueses. De resto, aprender a conviver de igual para igual com os que pensam de maneira diferente é, neste País ainda hoje, uma longínqua meta civilizacional.

A filha do regimento

por João Távora, em 27.04.15

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É assim o jornalismo militante - não interessa a veracidade dos factos relatados, antes passar uma mensagem. A entrevista da filha de Salgueiro Maia generosamente distribuída pela Lusa, pontifica hoje com chamada de capa em quase todos os jornais diários, que destacam este extraordinário apontamento: “Filha do capitão de Abril Salgueiro Maia, a viver no Luxemburgo há quatro anos, diz que foi "convidada" a sair de Portugal pelo primeiro-ministro Passos Coelho, lamentando a situação actual do país, que compara ao terceiro mundo”.

Importa referir que, sem querer por em causa a honestidade e competência dos socialistas - tudo gente boa claro está - há quatro anos, data da partida de Catarina, era José Sócrates que estava no poder, a negociar o resgate financeiro do país com a Tróica. Não tendo a minha modesta pessoa o privilégio de ser filha de Salgueiro Maia, que acabou indo trabalhar para um conhecido paraíso capitalista, gostava de deixar claro que, estando eu na época também desempregado, se um líder da oposição ou do governo, fosse ele qual fosse, se me dirigisse assim sem mais nem menos e me convidasse a emigrar eu agradeceria a surpreendente atenção, mas pensaria muito bem antes de aquiescer.

Ah, sei que não interessa nada, mas com uma mãe muito doente e quatro filhos dependentes virei-me por cá. E quem viu as coisas tão mal paradas há dois, três anos, desconfio que podia ter sido muito, mas muito, pior.

 

Imagem de "O Emigrante" - Charlie Chaplin, com uma vénia. 

Uma mentira mil vezes repetida...

por João Távora, em 19.04.15

Revelador da cicatriz deixada pelo ambiente revolucionário vivido há 40 anos é o jornalista do Expresso Valdemar Cruz, jornal que esteve então para ser extinto pelos comunistas, não conseguir o distanciamento necessário e definir o Partido da Democracia Cristã de Sanches Osório, que então se preparava para ir a eleições coligado com o CDS, como sendo de "extrema-direita que acolhida muitos jovens neofascistas". Um mau serviço. 

Much obliged Mr. Carlucci

por João Távora, em 26.04.14

 

Da excelente entrevista de Ricardo Lourenço a Frank Carlucci para a Revista do Expresso de ontem dia 25 de Abril, é arrepiante constatar a dimensão humana, plausível, das decisões que acabam por mudar tão dramaticamente o rumo da história, no lugar das fantasmagóricas teorias da conspiração com que tantos acalentam a sua ilusão de impotência. Ou de como naqueles anos estouvados da nossa História, foi por uma unha negra que nos salvámos dum trágico destino. A realidade é, o mais das vezes, feita de uma arrepiante simplicidade. 

O Carmo e o passado

por José Mendonça da Cruz, em 25.04.14

Em 1974, o homenzinho de boina preta que hoje esteve no Largo do Carmo, teria aproveitado o 1º de Maio para beijar os pés a Cunhal, proclamar-se seu discípulo e empenhar-se com ardor e zelo nas tentativas de instaurar uma nova ditadura.

O homenzinho de boina preta teria sido uma figura importante do mais abjecto populismo ou de uma nova tirania.

Quando o último meio de comunicação livre da bota comunista, o República, foi ocupado, o homenzinho de boina preta teria exigido o esmagamento da primeira manifestação de rua em que democratas revoltados entoaram «O Povo não está com o MFA».

O homenzinho de boina preta teria acompanhado Otelo nas prisões sem mandato nem culpa, no terrorismo messiânico, no ridículo. 

Em vez de estar na manifestação da Fonte Luminosa, decisiva no combate da democracia contra a ditadura militar-comunista, o homenzinho da boina preta teria estado nas barricadas que tentavam impedir o afluxo de manifestantes, e não no lado dos que defendiam a liberdade.

O homenzinho de boina preta que hoje foi ao largo do Carmo proclamar que aquele ajuntamento era «o bem» e os eleitos do povo «o mal», teria estado na rua, a cercar a primeira Assembleia eleita, a Assembleia Constituinte cuja composição o frustrava, em vez de estar lá dentro, com os eleitos da eleição mais participada de sempre.

A menos que o homenzinho de boina preta que hoje foi filmado no Carmo não fosse realmente Mário Soares, o que explicaria tudo.

Mas, se for, ele viverá os últimos anos frustrado e assim morrerá. Ele e as figurinhas militares rotundas e presunçosas que anseiam impor-nos caminhos ignorantes e irresponsáveis. O que eles pensam vale nada perante o voto livre. Viva o 25 de Abril! Viva o Mundo de hoje!

 

 

A religião laica

por João Távora, em 24.04.14

Nas mais recentes sondagens, a revolução dos cravos já é tida pela grande maioria dos portugueses como o mais importante acontecimento de toda nossa História. O meu artigo hoje no Jornal i 

 

 

Abriladas

por João Távora, em 21.04.14

Sexta não se arranja um lugarzito para Freitas do Amaral no palanque do Largo do Carmo?

O 25 de Abril, quarenta anos e um fado sem fim

por João Távora, em 31.03.14

Já nos apercebemos que nas próximas semanas o País está condenado a massivas doses de propaganda "educativa" a propósito dos quarenta anos do golpe militar do 25 de Abril. Por exemplo, esta manhã ao pequeno-almoço, o programa “Sons de Abril” com a insuspeita Helena Matos na Antena 1 deixou-me algo inquieto: nele se elogiavam as virtualidades da rádio como meio de comunicação em contextos de clandestinidade - pudemos escutar a transmissão de Argel de um apelo de Manuel Alegre à insurreição em 1968, ou conhecer a Rádio Portugal Livre do Partido Comunista Português que, imagine-se, era difundido a partir de Bucareste, esse paraíso de liberdade, desenvolvimento e abundância de Ceausescu. 

Como incondicional amante de liberdade e compenetrado democrata, dou todos os dias graças a Deus por viver numa democracia liberal e representativa, que não tenho como dado adquirido, facto que não impede que a efeméride me provoque sentimentos contraditórios de adesão ou sobressalto e até, mediante determinados estímulos (como algumas canções de intervenção) repulsa. Como poderia nessa época a minha família, que transportava na genética mais de duzentos anos de atribulações revolucionárias trágicas para o País persistentemente miserável, olhar sem reservas aos tempos instáveis que se seguiram à queda do Estado Novo? Nesses tempos, em que se tornou proibido ter uma vida anterior à revolução que não fosse clandestina ou de explorado, testemunhei demasiados arbitrariedades e agressões por parte daqueles que, em nome da sua quimera tudo fizeram para cingir a liberdade a uma matriz ideológica. São os mesmos que hoje, de fato e gravata, se apropriaram da simbologia (e não só) da efeméride, incutindo-lhe um estranho cunho religioso a que pretendem ajoelhar toda uma população acrítica. 
É evidente que urge que a historiografia da Revolução dos Cravos desça da academia para as bocas do mundo, com serenidade, sem complexos nem enganos que a ninguém servem. Urge também questionar o empenho devotado pelas oligarquias partidárias na sacralização duma narrativa do 25 de Abril a preto e branco. Talvez quando o acontecimento fizer meio século e se tornar absurdo continuar atribuir a Salazar a responsabilidade por todas as nossas incapacidades e falhanços - até agora tem dado muito jeito.

 

Foto: Expresso

Vinte e cinco

por João Távora, em 25.04.12

 

Não podemos esquecer que nos dias seguintes à revolução dos cravos iniciou-se uma encarniçada luta pela Liberdade, que teve o seu auge a 25 de Novembro de 1975, mas que ainda hoje perdura, e perdurará enquanto imperar nas sombras e às claras uma casta omnipotente que se considera herdeira duma superioridade moral em relação aos demais. O sequestro da Direita, ainda hoje envergonhada da sua natureza e ideias. 

Ao cabo de trinta e oito anos deveria ser uma evidência que o socialismo, nas suas várias adaptações e intensidades, não é a única receita para a resolução dos problemas dos portugueses. De resto, aprender a conviver de igual para igual com os que pensam de maneira diferente é, neste País ainda hoje, uma longínqua meta civilizacional, o “25 de Abril” que nos falta cumprir e que acredito um dia nos redimirá. 

Après moi le déluge

por João Távora, em 24.04.12

 

É lamentável que os numerosos “pais da revolução” (que falta faz uma mãe para serenar as excitações), alguns politicamente activos nos últimos anos, não tenham tomado uma posição assim assertiva quando, numa criminosa gestão política, percorríamos o caminho da insustentabilidade financeira que nos atirou para este atoleiro de miséria. Aos militares de Abril não sei, mas a Mário Soares certamente não seria suposto explicar que o dinheiro não nasce nas paredes dos multibancos, já que ele foi primeiro-ministro de dois resgates financeiros pelo FMI, em 1977 e 1983, tempos de austeridade e miséria, ocasião em que foi politicamente vilipendiado pela habitual aliança entre a extrema-esquerda e os sindicatos, mobilizados para incendiar a rua e restabelecer o seu processo “revolucionário” interrompido.
Estranho pois como gente com responsabilidades, sabendo o que está em jogo no acordo com a Troika, prefira capitalizar protagonismos estéreis com atitudes incendiárias. Après moi le déluge, ou apenas um fenómeno de senilidade?

Reprise

por João Távora, em 25.04.10

 

Devoção e água benta...

 

Passa hoje o trigésimo sexto dia de S. Vinticincodabril. As cerimónias e celebrações, como habitualmente, realizaram-se nos salões e templos do regime, onde foram entoados diversos cânticos revolucionários do século passado. As habituais solenes homilias foram proclamadas de norte a sul do país: as santas realizações da revolução foram recordadas entre lágrimas e suspiros nostálgicos dos mais devotos “democratas”.

A prédica mais esperada foi proclamada em S. Bento pelo presidente da congregação, que com as suas extraordinárias revelações e sábias advertências não desmereceu as expectativas dos fiéis.

As costumeiras procissões e desfiles saíram à rua, mas nota-se-lhes hoje menos brilho do que outrora, nos tempos áureos da função. Os consagrados estão envelhecidos e também já foram mais, mas no cortejo da avenida as suas preces e ladainhas continuam a fazer-se ouvir alto e bom som. Os mais crédulos ainda cismam pelo prometido milagre do socialismo, multiplicação dos peixes a redenção e esperança do povo unido.

A esta hora, muitos pregadores regimentais ainda propagandeiam as suas profissões de fé sobre a insofismável felicidade popular conquistada às trevas da opressão pela revolução dos cravos. Já nos uns dias antes, nas escolas e liceus, os prosélitos mestres da história instrumental aproveitaram o ensejo e papagueiam uma tabuada de lugares comuns de uma história maniqueísta e instrumental para as suas sedentas criancinhas.

De tudo isto os "media" uma vez mais darão reverente testemunho de todas as celebrações e solenidades. Para uma pobre e conformada plateia que afinal tirou o dia de sol para ir passear...

 

Texto de 2008, revisto e reeditado.

O 25 de Abril ensinado às crianças

por João Távora, em 24.04.10

"É preciso ensinar às crianças o que foi o 25 de Abril. É urgente. É uma questão de cultura democrática. Está em causa... o 25 de Abril."
(…) Convenhamos que é difícil deixar ao sistema nacional de educação essa função. E isto porque o 25 de Abril ainda é uma questão de educação. Política, é certo, mas não está suficientemente frio para ser um facto histórico. É uma opinião. E cada um tem a sua, que até pode ser diferente da que tem a professora dos seus filhos.
Por isso é que chegados a esta época do ano, sinto alguma angústia quando os deixo na escola. Assim, sozinhos. Sem que eu possa exercer o democrático direito ao contraditório. Socorro!

 

Inês Teotónio Pereira no Jornal i

 

Depois de num dia de Outubro, a minha filha de oito anos ter chegado da escola cheia de confusões na cabeça, e eu lhe ter explicado pacientemente que Liberdade Igualdade e Fraternidade era um lema da sanguinária revolução francesa e não uma consequência da instauração república portuguesa, que a igualdade do cidadão perante a lei era uma conquista da constituição de 1826, quando em Portugal se funda o sufrágio popular que se manteve indirecto e se viu mais restrito após a república, que a liberdade de imprensa e de manifestação só foi profundamente ameaçada após o 5 de Outubro; foi a vez de ontem me ver na contingência lhe explicar as virtudes dos primeiros anos do Estado Novo e que a primavera e as calças de ganga já existiam antes da revolução dos cravos. Esclareci-a sobre o 25 de Abril, e suas consequências imediatas: tomada de poder da esquerda radical e descolonização desastrosa. E que nesses tempos muita gente inocente teve que viver “às escondidas”. Por fim expliquei-lhe que a Liberdade prevaleceu apesar dos revolucionários. E que a Liberdade é o nosso mais precioso bem, e que nem sempre está onde parece ser mais evidente.


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