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A localização de Lisboa segundo a CNN...

por Pedro Quartin Graça, em 21.05.10

O que custa é que, na realidade, cada vez mais para lá caminhamos...

Fernando Laidley - a aventura africana

por Pedro Quartin Graça, em 22.04.10

Habituei-me a lê-lo na minha meninice em casa dos meus avós maternos já que as suas crónicas faziam parte da gigantesca biblioteca do meu avô. Nesta, algumas obras mereciam a minha atenção permanente: a suculenta Diana - Caça e Pesca que eu, literalmente, "devorava" e as igualmente apetecíveis crónicas de Laidley. Falo de Fernando Laidley, um dos portugueses que soube compreender que Portugal não era apenas este rectângulo à beira mar plantado e que teve uma visão portuguesa do mundo, nomeadamente de África. Aos 93 anos de idade, e depois de uma vida "bem vivida" e com muito para contar, morreu um grande português. Ficou conhecido por ter sido o primeiro luso a dar a volta a África de automóvel ao ter realizado o feito inédito de, aos 36 anos, conseguir fazer uma expedição que nunca ninguém tinha realizado: percorrer o continente africano de automóvel. Laidley fez a diferença.

Acompanhado pelos seus companheiros José Guerra e Carlos Alberto, respectivamente o mecânico e o fotógrafo da expedição portuguesa, os três seguiram a partir do Marquês de Pombal, no já longínquo 25 de Abril de 1955, num Volkswagen modelo «carocha», já em segunda mão, rumo à aventura africana.

Português nascido em África, concretamente em Luanda, Angola, a 30 de Março de 1918, Laidley veio ainda a protagonizar várias outras viagens únicas e ímpares pelo continente africano e asiático, como a ligação a Goa, a Damão e a Diu. A par disto, foi também repórter de guerra no Norte de Angola, nomeadamente para as revistas «Século Ilustrado» e «La Semana», de Espanha, tendo publicado inúmeras obras entre as quais, em 1964, o livro «Guerra e Paz».

Fez 26(!) travessias do deserto do Sahara e 12 viagens de ida e volta de Lisboa a Luanda. Com a sua derradeira viagem, Portugal ficou mais pobre.

A barbárie: diferença e indiferença

por Pedro Correia, em 08.11.09

Por muito que queiramos fechar os olhos a alguns factos, em nome do relativismo cultural, do respeito pelas 'tradições islâmicas' ou do longo cortejo de 'pecados do homem branco' em África que jamais deixam de ser expiados, eles existem. Teimosamente, persistentemente, existem.

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Mia Couto

por Pedro Correia, em 16.11.08

Uma excelente questão: E se Obama fosse africano?

 

(via A Terceira Noite)

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África: um retrato exemplar

por Pedro Correia, em 13.10.08

 

Só há dias vi, numa repetição da RTP2, a excelente reportagem que a minha amiga Anabela Saint-Maurice fez sobre o Grande Hotel da Beira – que chegou a ser um dos mais deslumbrantes hotéis do continente africano logo após ter sido edificado, em 1955, e hoje é pouco menos que uma ruína, “habitado” por cerca de mil pessoas que vieram do mato para a segunda maior cidade de Moçambique. Nada daquilo pode ser já recuperado, tanto quanto parece: “O melhor é demolir e construir outra coisa neste espaço”, segundo sugeriu o presidente da Câmara da Beira, eleito pela Renamo.
O Grande Hotel é, de algum modo, um símbolo de África – a mesma África dilacerada que Naipaul tão bem descreve na sua obra-prima, A Curva do Rio. Nenhum lugar do mundo foi tão despudoramente alvo da cobiça das grandes potências. Nem nenhuma classe política, como a africana, se deixou afundar tanto nas malhas da corrupção. Algumas das maiores batalhas da impropriamente chamada Guerra Fria travaram-se aqui. África foi vítima das cartilhas ideológicas que prometiam paraísos para depois de amanhã enquanto semeavam infernos no curto prazo. Mas foi também vítima de si própria. E é isso que esta exemplar reportagem nos mostra também.

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Democracia? Que democracia?

por Pedro Correia, em 07.05.08

 

Trinta e quatro dias depois de realizada a eleição presidencial, e após terem sido assassinados e detidos muitos militantes da oposição a Robert Mugabe, veio agora a comissão eleitoral declarar o resultado do escrutínio. A oposição venceu – anunciaram. Se dissessem o contrário, o escândalo seria demasiado grande até num país onde o medo impera, como o Zimbabwe. Mas a vitória, alegam, é insuficiente – o que forçará uma segunda volta. Repito: isto aconteceu 34 dias após o acto eleitoral. Percebe-se desde já o fim do filme: com a população intimidada, com o próprio candidato da oposição – Morgan Tsvangirai – ausente do país por motivos de segurança após ter recebido inúmeras ameaças de morte, estão criadas as condições para que o ditador seja proclamado vitorioso e possa continuar a desgovernar o país, como se 28 anos não fossem já suficientes. Seria um escândalo em qualquer outra paragem. Mas aqui não: Robert Mugabe ainda é visto em largos sectores como um “herói da libertação”. Este paternalismo benévolo com que certas elites ocidentais, cheias de complexos de culpa pelo “colonialismo”, contribui para matar África, o único continente onde é generalizada a condescendência com os tiranos. Mugabe é um deles, por mais que haja quem resista a chamar-lhe assim.

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Angola vista por Jerónimo

por Pedro Correia, em 12.04.08

 

Jerónimo de Sousa visitou Angola, a convite do MPLA, e veio bem impressionado com quase tudo quanto lá viu. Excertos de uma entrevista concedida a Anabela Fino e publicada no Avante:

- "O MPLA define-se como uma força progressista, de esquerda e africana."

- "Não se sente a corrupção [em Angola] como um fenómeno instalado e em desenvolvimento, mas antes como uma situação que está a ser encarada e combatida pelo MPLA."

- "Eduardo dos Santos tem grande prestígio no seio do MPLA e na sociedade angolana, pelo que não será de estranhar que venha a ser o candidato escolhido [para as presidenciais de 2009]. Trata-se de um homem com grande capacidade política e diplomática."

Como diria o outro: porreiro, pá.

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Um pesadelo chamado Zimbábue

por Pedro Correia, em 09.04.08

Mais de uma semana depois, acentua-se a incerteza no Zimbábue. A oposição, liderada por Morgan Tsvangirai, venceu as eleições legislativas e presidenciais. Mas é cada vez mais óbvio, à medida que o tempo passa, que o ditador Robert Mugabe não está disposto a abdicar de uma só fatia do poder absoluto que detém desde 1980. Para o efeito, conta com o apoio da instituição militar, uma das mais corruptas do continente africano.

A oposição reclama vitória nas presidenciais - as únicas que verdadeiramente interessam neste país onde tudo depende do detentor do poder executivo. Mas à medida que as horas e os dias se escoam, aumentam as hipóteses de um banho de sangue. É esta, aliás, a história do último meio século em África. Como todos sabemos bem demais.

Entretanto, se existe algum herói no continente é sem dúvida Tsvangirai, o sindicalista que já em 2002 ousou defrontar Mugabe nas urnas. A fraude eleitoral foi gigantesca: os 48% oficialmente obtidos por Tsvangirai, na opinião de todos os observadores independentes, foram na verdade muito superiores a metade do eleitorado. Mugabe, além de não ceder o poder, mandou os seus capangas espancarem o homem que se atreveu a fazer-lhe frente. O mesmo Mugabe que fará tudo quanto estiver ao seu alcance, lícito ou ilícito, de modo a ser “reeleito” para um sexto mandato, após 28 anos ininterruptos como grande predador do Zimbábue - período em que transformou o celeiro da África Austral que era a Rodésia do Sul num dos países mais miseráveis do mundo, com uma inflação de 100.000%, uma taxa de desemprego superior a 80% e a esperança de vida mais baixa de sempre (era de 61 anos em 1980, desceu drasticamente para os 37 actuais).

Não admira, por tudo isto, que cerca de 25% dos habitantes tenham já abandonado o país. Para admirar é a complacência com que uma certa opinião “esclarecida” na Europa continua a encarar este regime criminoso, que prende, oprime e mata os seus cidadãos – com a suprema ironia de o fazer sempre em nome da liberdade.

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O destruidor do Zimbábue

por Pedro Correia, em 29.03.08

 

Robert Mugabe, ditador do Zimbábue desde 1980, prepara-se para ser "reeleito" para um novo mandato. O ditador tem já 84 anos mas parece mais apegado que nunca ao poder. Herdou um dos países mais prósperos de África, hoje transformado num dos mais miseráveis. Se cumprir este sexto mandato, talvez o Zimbábue deixe de existir. Já falta pouco.

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Uma feira de horrores

por João Távora, em 08.12.07
Não consigo passar ao lado. A minha terra encheu-se de sanguinários canalhas a deambular na inútil feira de vaidades patrocinada pela Europa dita “civilizada”. Uma feira de horrores, uma exibição despudorada das mais medonhas degenerações humanas. Um sucesso mediático aqui no burgo: em directo, debaixo das objectivas e dos holofotes, cada trupe luta por um minuto de fama para o seu impune líder, uma gloriosa menção nas noticias, estéril bramido para a História indiferente.
E porquê não os prendem? - pergunta-me ingénua a minha enteada.
Depois, de estômago revirado, verificarmos impotentes a África real, com cheiro a terra seca e sangue, muito sangue. Um continente em lancinante sofrimento, pleno de arbitrariedade e dor. Não são efeitos digitais que deformam aquelas mulheres que se alimentam de detritos na lixeira. É só assim que alimentarão um pequenito esqueleto de olhos vidrados que levam às costas. Não são figuras da playstation, aquelas crianças esbugalhadas arrastando uma metralhadora para parte nenhuma. E o bebé, da idade do meu, no meio do deserto a comer ervas secas também não é ficção, é demasiado real.
Vergonhosamente mais de dois mil anos passados sobre o nascimento de Cristo, todos somos cúmplices desta mal contada história diabólica. Permanecemos uns bárbaros. E isso incomoda-me muitíssimo.

Na imagem: criança ugandesa.

Este ditador vem a Lisboa (17)

por Pedro Correia, em 06.12.07

Abdel Bouteflika

Presidente da Argélia desde 1999. Tem 70 anos.
A Argélia vive há vários anos sob um estado de emergência provocado por conflitos entre os extremistas islâmicos e o exército laico, que impôs Bouteflika na presidência, entre acusações de fraude eleitoral, no escrutínio de 1999, em que acabou por ser o único candidato. O partido radical Frente de Salvação Islâmica permanece ilegalizado, apesar de contar com forte apoio da população.
Vários direitos fundamentais, nomeadamente o direito de reunião e o direito de associação, permanecem largamente condicionados. Um decreto presidencial proíbe todas as manifestações na capital, Argel.
De acordo com a Amnistia Internacional, a prática de tortura - nomeadamente contra os opositores políticos - é ainda regularmente praticada nos estabelecimentos prisionais do país, onde permanecem impunes os membros das forças de "segurança" que fizeram "desaparecer" milhares de oposicionistas ao longo dos anos. Entre esses "desaparecidos", encontram-se jornalistas, sindicalistas e activistas dos direitos humanos.
Bouteflika é um ditador. Portugal prepara-se para recebê-lo com todas as honras.

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Este ditador vem a Lisboa (16)

por Pedro Correia, em 04.12.07
Lansana Conté

Presidente da República da Guiné desde 1984. Tem 73 anos.
General, assumiu o poder por um golpe de Estado pouco depois da morte do fundador do país, Sékou Touré. O seu longo mandato tem-se caracterizado pela extensa violação dos mais elementares direitos humanos, segundo denunciam prestigiadas organizações internacionais. O Observatório dos Direitos Humanos, por exemplo, lembra que em Janeiro e Fevereiro deste ano a repressão de protestos antigovernamentais pelas forças de "segurança" teve um saldo sangrento: 129 mortos e 1700 feridos. A Amnistia Internacional lembra que outros opositores permanecem detidos sem julgamento.
Ao longo destes anos, Conté organizou "eleições", sempre consideradas fraudulentas pela comunidade internacional. Em 2001, promoveu um "referendo" destinado a pôr fim ao limite constitucional de renovação de mandatos presidenciais. Nesta consulta, também considerada fraudulenta, recebeu 98,4% de votos favoráveis. A organização Transparência Internacional menciona a Guiné como o segundo país mais corrupto do mundo, logo após o Haiti.
Conté é um déspota. Portugal prepara-se para recebê-lo com todas as honras.

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Este ditador vem a Lisboa (15)

por Pedro Correia, em 03.12.07

Abdullahi Yusuf Ahmed

Presidente da Somália desde 2004. Tem 72 anos.
A organização Repórteres Sem Fronteiras não tem dúvidas em classificar a Somália entre os países "mais perigosos do mundo", onde a vida de um jornalista vale muito pouco. Disputado entre cabos de guerra armados até aos dentes e tutelado por um militar que se destacou pela brutalidade com que governou uma das regiões do país até ocupar o palácio presidencial, a Somália não tem eleições a nível nacional desde 1969. Os partidos políticos são inexistentes: as facções armadas substituíram o debate político neste país que é considerado um dos mais corruptos do planeta. O abuso dos direitos humanos, a pretexto de divergências políticas ou religiosas, é uma constante. E o Governo dá o primeiro (mau) exemplo nesta matéria.
"No centro e no sul da Somália, não existe um quadro legal nem um sistema judicial que respeitem os parâmetros internacionais", declara a Amnistia Internacional no seu mais recente relatório.
Abdullahi é um déspota. Portugal prepara-se para recebê-lo com todas as honras.

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Este ditador vem a Lisboa (14)

por Pedro Correia, em 01.12.07

François Bozizé

Presidente da República Centro-Africana desde 2003. Tem 51 anos.
Como tantas vezes acontece em África, o actual Chefe do Estado, um general, chegou ao poder através de um golpe militar. O país conta com inúmeras riquezas naturais - nomeadamente ouro, urânio e diamantes (é o quinto maior produtor mundial de diamantes). Apesar disso, vive da caridade internacional, o que não evita que cerca de 80% da população permaneça abaixo do limiar da pobreza, sobrevivendo graças a uma agricultura de subsistência.
A insegurança e a violência são uma constante neste país que entrou em colapso após décadas de desgovernação que tiveram o auge no mandato do presidente-tornado-imperador Bokassa (1966-79). Segundo a Amnistia Internacional, a temida Guarda Republicana matou recentemente opositores de Bozizé, incluindo 17 estudantes e 80 outros cidadãos na cidade de Paoua. Dezenas de pessoas foram detidas no ano passado, acusadas de pretender derrubar o Governo. As condições prisionais no país são tão más que ameaçam a vida dos detidos, ainda segundo a AI.
A liberdade de imprensa é frequentemente violada, como alerta a organização Repórteres Sem Fronteiras.
Bozizé é um ditador. Portugal prepara-se para recebê-lo com todas as honras.

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Este ditador vem a Lisboa (13)

por Pedro Correia, em 30.11.07

Meles Zenawi

Primeiro-ministro da Etiópia desde 1995 (onde o cargo de presidente é quase só cerimonial). Tem 51 anos.
Numa guerra, como é sabido, a primeira vítima é a liberdade de imprensa. Uma regra válida para a Etiópia, que tem andado em guerra com a vizinha Somália. Prisões e deportações de jornalistas são uma constante neste país que passou sem transição do domínio de um monarca absoluto para um dos mais asfixiantes regimes marxistas-leninistas do continente africano. A promessa de democracia nunca passou do papel: a "eleição" de 2005 foi considerada fraudulenta pela comunidade internacional. Todos os jornais que ousaram denunciar a fraude foram encerrados enquanto os mais destacados opositores do chefe do Governo eram detidos. Existem centenas de presos políticos, parte dos quais nunca submetida a julgamento. Têm melhor sorte do que os 193 mortos em 2005, pelas forças de "segurança", durante uma manifestação de protesto contra o Executivo.
Os métodos de tortura da polícia etíope, de acordo com a Amnistia Internacional, incluem choques eléctricos e violentas cacetadas nos pés das vítimas, penduradas de cabeça para baixo. "Na prisão de Kaliti, pelo menos 17 detidos foram liquidados nas suas celas", denuncia aquela prestigiada organização, galardoada com o Nobel da Paz.
Zenawi é um déspota. Portugal prepara-se para recebê-lo com todas as honras.

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Este ditador vem a Lisboa (12)

por Pedro Correia, em 28.11.07

Mswati III

Rei da Suazilândia desde 1986. Tem 39 anos.
Ao contrário dos monarcas europeus e asiáticos, cujos poderes são drasticamente condicionados pelas constituições dos seus países, o da Suazilândia é um monarca absoluto: cabe-lhe a última palavra nos domínios legislativo, executivo e judicial. A "liberdade de expressão", a "liberdade de reunião" e a "liberdade de manifestação" são reconhecidas por lei, mas podem ser suspensas por decisão discricionária do monarca, como tem acontecido com excessiva frequência. Os partidos políticos estão proibidos neste país que regista a maior taxa mundial de infectados com o vírus HIV - 42%. A corrupção é outro dos problemas mais graves deste pequeno reino da África Austral, onde a violência policial e a tortura fazem parte do quotidiano, segundo denuncia a Amnistia Internacional.
Mswati III é um tirano. Portugal prepara-se para recebê-lo com todas as honras.

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Este ditador vem a Lisboa (11)

por Pedro Correia, em 26.11.07

Faure Gnassingbé

Presidente do Togo desde 2005. Tem 41 anos.
Torturas, perseguição aos opositores políticos, detenções ilegais, asfixia das liberdades públicas - incluindo a liberdade de reunião e a liberdade de imprensa. É este o quadro dominante no Togo, onde o presidente Eyadema, falecido em 2005, chegou a liderar a mais antiga ditadura do continente. Gnassingbé, filho do ditador, foi instalado no poder pelos militares, numa espécie de sucessão dinástica. As eleições que se seguiram, dando-lhe a vitória com 60%, foram consideradas fraudulentas por observadores estrangeiros. Segundo a Amnistia Internacional, os presos de consciência continuam detidos sem julgamento. A corrupção impera: em matéria de transparência administrativa, o Togo está classificado na 130ª posição entre 163 países escrutinados por organismos independentes. O poder judicial, na prática, depende do poder político.
Gnassingbé é um ditador. Portugal prepara-se para recebê-lo com todas as honras.

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Este ditador vem a Lisboa (10)

por Pedro Correia, em 24.11.07

Laurent Gbagbo

Presidente da Costa do Marfim desde 2000. Tem 62 anos.
Neste país mergulhado há vários anos em guerra civil (entre os cristãos, a sul, e os muçulmanos, a norte) registam-se os mais diversos atropelos aos direitos humanos. Ficou definitivamente desfeita a imagem da Costa do Marfim como um oásis de estabilidade no turbilhão africano.
Embora a Constituição estabeleça um prazo de cinco anos para cada eleição presidencial, o prazo foi há muito ultrapassado: Gbagbo perpetua-se no palácio presidencial. A liberdade de imprensa é cada vez mais frágil: a maioria dos meios de informação pertence ao Estado e limita-se a fazer propaganda ao poder. Nas zonas controladas pela guerrilha anti-Governo, a asfixia da liberdade informativa é ainda mais evidente.
Os direitos de reunião e de manifestação não passam do papel. Segundo o mais recente relatório da Freedom House, "nos últimos anos, diversas manifestações da oposição foram violentamente reprimidas por forças do Governo, que causaram vários mortos".
O país não tem um sistema judicial independente: os juízes funcionam como delegados do poder político e são extremamente permeáveis à influência do Governo e dos seus agentes.
Segundo o relatório anual da Amnistia Internacional, "as forças de segurança têm praticado detenções arbitrárias, torturas e execuções extrajudiciais".
Laurent Gbagbo é um ditador. Portugal prepara-se para recebê-lo com todas as honras.
................................................................................................
Prossigo esta série agora animado pelo extenso decalque que a revista Sábado, embora sem citação de origem, lhe fez na sua última edição (páginas 86 e 87). A causa é excelente: alertar a opinião pública portuguesa para as ditaduras africanas que não tardarão a ser enaltecidas até à náusea em Lisboa. Por isso só posso sentir-me lisonjeado com tal decalque.

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Este ditador vem a Lisboa (9)

por Pedro Correia, em 23.11.07

Zine Ben Ali.

Presidente da Tunísia desde 1987. Tem 71 anos.
Há vinte anos, liderou um golpe militar contra o decrépito presidente Bourguiba. Gostou tanto da experiência que decidiu ficar: ocupou o palácio presidencial de então para cá, tornando-se uma espécie de Grande Irmão dos tunisinos. Nada se passa no país sem o seu consentimento e sem a vigilância tutelar da sua polícia de choque.
Ciclicamente, organiza "eleições". Em 1989, obteve 99,27%. Dez anos depois, conseguiu aumentar a percentagem de "votos", recolhendo 99,44%. Em 2005, registou um ligeiro recuo, ficando-se pelos 94,5%. Estes escrutínios, totalmente manipulados, confirmam o carácter despótico deste general que persegue e prende sistematicamente os opositores políticos.
Segundo a Amnistia Internacional, existem centenas de presos de consciência na Tunísia, a pretexto do combate ao terrorismo internacional. As condições de detenção são "cruéis, inumanas e degradantes". Muitos prisioneiros são condenados em "julgamentos injustos", inclusivamente em tribunais militares.
Os jornalistas tunisinos queixam-se das pressões da censura: a liberdade de imprensa é fortemente condicionada no país.
Ben Ali é um ditador. Portugal prepara-se para recebê-lo com todas as honras.

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Este ditador vem a Lisboa (8)

por Pedro Correia, em 20.11.07

Hosni Mubarak.

Presidente do Egipto desde 1981. Tem 79 anos.
Este marechal da força aérea, que foi vice-presidente de Anwar Sadate entre 1975 e 1981, decretou o estado de emergência logo no início do mandato - e tem governado assim desde então. De seis em seis anos, numa tentativa de lançar poeira para os olhos da comunidade internacional, organiza uma "eleição" presidencial em que é sistematicamente reeleito com percentagens muito próximas dos cem por cento.
No último escrutínio, realizado em 2005, não permitiu a presença de observadores estrangeiros no país - um facto que, só por si, já foi uma confissão de fraude.
Associações humanitárias têm alertado contra as detenções arbitrárias de opositores políticos e a generalização da tortura nos estabelecimentos prisionais egípcios.
Mubarak é um ditador. Portugal prepara-se para recebê-lo com todas as honras.

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