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A propósito de um destacamento de 500 militares para reforçarem os serviços de rastreio da pandemia, a associação de sargentos foi lembrando, de acordo com o Expresso, que “os militares não podem ser sempre pau para toda a obra”.
Fiquei surpreendido, já que sempre achei que os militares sentiriam orgulho em contribuir da forma como pudessem para a sociedade. E não tenho visto assim tantos exemplos de serviços públicos pelos militares que expliquem a exaustão implícita no recado dos sargentos. Não percebo a afirmação, mas espero que implicitamente não tenham apenas dito, “só faltava porem-nos a trabalhar!”
Este episódio lembrou-me uma questão que sempre me perturbou: porque razão temos tantas instituições preparadas para estados de excepção? Em Portugal, e na maior parte dos países desenvolvidos, temos 3 instituições: as forças armadas, os bombeiros e a protecção civil, que só são accionadas em caso de necessidade (guerra ou acções humanitárias, fogo ou acidentes e catástrofes).
Não há dúvida que o ideal é ter 3 robustas instituições, já que é sempre possível virmos a ter guerra, catástrofes e incêndios ao mesmo tempo e sem pré-aviso. Mas... não será um luxo de ricos ?
Apesar de forte diminuição de contingentes nos últimos anos, não estamos a falar de pequenos números. De acordo com o Pordata, eram mais de 23.000 militares e 27.000 bombeiros em 2019.
Durante a maior parte da história da humanidade, não existiam nem corpos militares ou corpo de bombeiros permanentes. Quando deles havia necessidade, constituíam-se de forma mais ou menos formal. É evidente que não era o ideal. E o aumento da sofisticação e conhecimentos técnicos aumentou num nível que não permite que em poucos minutos ou dias, seja possível a alguém travestir-se em especialista de guerra, de fogo, ou de catástrofes.
Obviamente não sou especialista em nenhum destes sectores. Mas até cumpri o serviço militar e passei fins de semana de serviço integrado numa brigada de prevenção para incêndios. E apesar de criativo, não consigo imaginar que haja assim tanto para fazer, estudar e preparar em tempos de paz ou quando não há incêndios, para não ter disponibilidade para fazer alguma coisa no entretanto.
Sempre me questionei porque as forças armadas não eram soldados da paz quando não estamos em estado de guerra. Gerações de militares, felizmente, nunca viram o teatro de guerra. Simplesmente nunca exerceram a sua profissão. Apenas se prepararam. Porque precisamos de duplicar recursos importantes e valiosos, para estarem na maior parte do tempo á espera de serem necessários?
Certamente não poderíamos ficar apenas com o numero de um dos contingentes. Há claramente missões e funções no exercito e sobretudo na força aérea e marinha, que não podem ser aproveitadas no combate a incêndios e acidentes. Embora quanto à protecção civil, em Portugal com mais de 10 vezes os generais para o mesmo numero de soldados do que no Reino Unido, poderíamos certamente constituir um elenco de luxo.
Poderão existir razões que desconheço e que expliquem este fenómeno em tantos países. E nem sequer importa se esta solução é exequível. A questão é se a sociedade se pode dar o luxo, da injustiça, de ter suplentes que não estão disponíveis para jogar, quando finalmente podem ir a jogo.
Confesso, fiquei mal disposto, com a tirada da associação dos Sargentos. Como aliás fico normalmente com as reivindicações de associações de interesses, que só olham para o próprio umbigo.
Na educação, a Espanha está também a assistir a uma revolução que, como não podia deixar de ser, está a afectar o direito à liberdade de educação. A chamada lei “Cella” acabou com o convénio existente com escolas estatais e privadas, agravando os custos da educação e limitando a liberdade de escolha.
(...) tão mau é um voto no Chega, como no BE ou no PCP e que apesar do discurso adocicado dos partidos à esquerda do PS, na hora da verdade, se e quando ela chegar, André Ventura e Catarina Martins encontrar-se-ão à beira da mesma fogueira a discutir se devemos queimar ciganos e pedófilos ou capitalistas e católicos conservadores."
Raquel Abecassis, Observador
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