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Sobre escolas fechadas

por henrique pereira dos santos, em 07.08.20

covid.jpg

A psicose das escolas é das coisas mais estúpidas da gestão desta epidemia e das melhores demonstrações da pusilanimidade dos governos.

Desde o princípio, a partir das outras epidemias, que a informação disponível era a de que o fecho de escolas não é uma medida muito inteligente de controlo de epidemias, quer porque frequentemente não é muito eficaz - varia em função das características da epidemia - quer porque tem um efeito disruptivo brutal na sociedade.

Mas é sempre das primeiras medidas que as sociedades exigem aos seus governos, e daquelas a que é difícil os governos resistirem dada a carga emocional de pôr em risco as criancinhas.

Nesta epidemia em concreto, que afecta muito pouco as pessoas com menos de 18 anos, a medida é particularmente desadequada.

Ao princípio a imprensa ainda se entretinha a tentar demonstrar que não havia risco zero para as crianças (nunca há, de resto, dos sítios mais perigosos do mundo para uma criança, do ponto de vista estatístico, é a cozinha da sua casa), com base nas poucas situações relatadas de problemas graves em crianças e jovens causadas pela covid. Acontece que a maior parte desses relatos eram mesmo tretas - a imprensa desde cedo deixou de aplicar à informação sobre a covid as regras básicas da profissão, com a verificação dos factos à cabeça - e os muito poucos que não eram treta diziam respeito a situações muito excepcionais de crianças com vários problemas de saúde. Isso não impedia médicos responsáveis, por exemplo, do hospital Dona Estefânia, enfatizar que realmente havia crianças a ser assistidas no hospital e até, às vezes, passando pelos cuidados intensivos, sem terem a precaução de enquadrarem devidamente essas situações.

Quando se tornou particularmente evidente que o argumento da infecção das crianças não tinha base nenhuma, passaram-se a dois argumentos centrais para andar a questionar a abertura de escolas: 1) o risco de levaram para a casa as infecções, em particular aos avós - como se os grupos de risco não tivessem de se defender sempre perante a incerteza, com ou sem escolas abertas - de que o boneco deste post é exemplo; 2) o risco para os professores, como se não coubesse aos professores gerir o seu próprio risco e as escolas não existissem para servir os alunos e as suas famílias, e não como porto seguro dos professores (o risco de problemas sérios por exaustão é muito maior que o associado à covid, mas isso foi rapidamente esquecido).

Será talvez a altura de voltar à evidência científica, por exemplo, usando este relatório do European Centre for Disease Prevention and Control de que destaco as três últimas conclusões principais:

"There is conflicting published evidence on the impact of school closure/re-opening on community transmission levels, although the evidence from contact tracing in schools, and observational data from a number of EU countries suggest that re-opening schools has not been associated with significant increases in community transmission.

Available evidence also indicates that closures of childcare and educational institutions are unlikely to be an effective single control measure for community transmission of COVID-19 and such closures would be unlikely to provide significant additional protection of children’s health, since most develop a very mild form of COVID-19, if any.

Decisions on control measures in schools and school closures/openings should be consistent with decisions on other physical distancing and public health response measures within the community".

Já agora, o que destaque é profundamente embebido na linguagem diplomática típica deste tipo de documentos, de maneira que aconselho mesmo a leitura do relatório que aponta para uma conclusão que traduzo de forma mais clara: não faz o menor sentido ter escolas fechadas.


7 comentários

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De Carlos Sousa a 07.08.2020 às 15:30

O que me está a causar apreensão não é a DGS fazer a festa, lançar os foguetes e apanhar as canas.
O que me está a causar apreensão é Portugal, um país dito democrático, entrar na psicose colectiva, e fazer exactamente o mesmo que um país violador dos direitos humanos, como é o caso da China.
Quando é que chegam à conclusão que esta pseudo pandemia teve metade dos mortos de uma gripe normal?
Quando é que chegam à conclusão que não houve testes de gripe a assintomaticos o ano passado para terem termos de comparação com este ano?
Acho que está na altura de parar de fazer os portugueses débeis mentais. E a DGS de se armar em justiceira. 
Está na altura de encarar a realidade, assumir o exagero da prevenção e tornar facultativo o que neste momento é obrigatório. 
Caso contrário a cura da covid não será uma vacina será uma ditadura.
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De Carlos Sousa a 07.08.2020 às 18:21

E pegando nalgumas palavras do primeiro-ministro, quem pensa como a China acaba por governar em ditadura.
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De Joao S. a 08.08.2020 às 18:26

As valencias que um gajo ganha a trabalhar em arquitectura paisagistica sao de deixar qq um de boca aberta.  A megalomania da escola dos eucaliptos nao tem limites.   Para quando este génio a falar na TV ?   Onde tenho de assinar ???   
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De henrique pereira dos santos a 09.08.2020 às 10:45

Penso que não tem de assinar em lado nenhum, por exemplo, ainda na sexta feira estive na SIC Notícias.
Agradeço a simpatia mas penso que está a interpretar mal o que escrevi: os estudos que cito não são feitos por mim, o que quer dizer que provavelmente pretenderia que os seus elogios, aliás merecidos, fossem dirigidos a essas pessoas que estudam os assuntos e produzem informação de qualidade sobre eles.
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De Joao S. a 12.08.2020 às 13:47

Nao publicou a outra pergunta que lhe fiz porque ?  ah ja sei... o pessoal quer é chanfana nas cantinhas.   Se souberes cozinhar chanfana como percebes de saude publica.....................................     
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De henrique pereira dos santos a 12.08.2020 às 14:59

Não sei do que fala, tanto quanto sei, todos os comentários estão publicados, mas se se passou alguma coisa, pergunte outra vez
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De Anónimo a 09.08.2020 às 10:45

Devia-se era fechar o país. Para obras.

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