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Não deixo de ficar comovido, e achar mesmo enternecedor, a quantidade de boas pessoas cuja credibilidade vai ao ponto de acreditar que toda a gente que diz asneiras sobre a privatização da TAP desconhece os factos que descrevo, transcrevendo ipsis verbis o que escreveu Carlos Guimarães Pinto (antecedida, a transcrição, de outro facto: Miguel Pinto Luz chega ao processo de privatização em 30 de Outubro de 2015, quando toma posse o governo que formaliza o que já tinha sido decidido em Junho desse ano, sem a sua intervenção):
"Não, a TAP não foi “comprada com o seu próprio dinheiro”.
Algo que se percebe facilmente porque:
1) A TAP não tinha dinheiro nem para as suas despesas correntes quanto mais para financiar a sua própria compra.
2) O montante que se diz ser da própria TAP não ecistia antes do processo de compra e nunca existiria se não tivesse havido processo de compra
3) Esse montante não foi usado para pagar o preço de compra da TAP, mas para injetar diretamente na TAP para a TAP poder responder aos seus compromissos.
De onde é que surgiu esta narrativa então? De forma simplificada (mas longa):
1. Em 2015 a TAP estava com grandes dificuldades financeiras. O seu valor era próximo de zero (provavelmente negativo) e no processo de privatização não apareceram muitos compradores.
2. O principal fornecedor a quem a TAP tinha dificuldades em pagar era a Airbus a quem tinha feito uma grande encomenda de aviões 10 anos antes.
3. Em 2015, foi feito o acordo de venda de 61% TAP a David Neeleman pelo valor de 10 milhões de euros, tendo David Neeleman assumido o compromisso de injetar mais 217 milhões de euros na TAP para que a TAP pudesse continuar a pagar salários e aos fornecedores. Ou seja, a TAP foi vendida por 10 milhões de euros.
4. Os 217 milhões de euros (o montante de que se fala) foi uma injeção feita na própria TAP porque, lá está, a TAP não tinha dinheiro.
5. Onde é que David Neeleman foi buscar 217 milhões de euros para injetar na TAP?
Ele levou o seu projeto para a TAP à AIRBUS que tinha, obviamente, interesse que um cliente como a TAP continuasse a funcionar. A AIRBUS acreditou no projeto e aceitou trocar a encomenda de grandes aviões que tinha na altura por uma encomendas de aviões mais pequenos (parte da estratégia de Neeleman) e ainda disponibilizar imediatamente os tais 217 milhões de euros (“fundos AIRBUS”) para viabilizar financeiramente a TAP.
6. Estes “fundos AIRBUS” foram disponibilizados a David Neeleman para que ele pudesse injetá-los na TAP e não à TAP diretamente. Ou seja, nunca existiriam se não houvesse processo de compra.
6. O interesse da AIRBUS era, obviamente, que a TAP continuasse a funcionar e a pagar encomendas. A AIRBUS protegeu-se colocando como penalização caso a TAP não pagasse as encomendas no futuro os tais 217 milhões de euros (“fundos AIRBUS”).
7. David Neeleman comprou a TAP por 10 milhões e meteu os 217 milhões de “fundos AIRBUS” na TAP para que a TAP pudesse pagar a fornecedores e trabalhadores.
Ou seja, os 217 milhões de euros que dizem ser “dinheiro da própria TAP” era dinheiro que
- a TAP não tinha (daí precisar que o injetassem)
- não foi usado para comprar as ações da TAP
- entrou na TAP apenas porque Neeleman negociou com a AIRBUS essa entrada.
A única ponta de verdade nesta história é que a AIRBUS só aceitou ceder os 217 milhões de euros porque acreditou que com o projeto de Neeleman, a TAP iria ser capaz de pagar as encomendas. Ou seja, indiretamente, o dinheiro que a TAP iria gerar no futuro compensaria a tal injeção de 217 milhões de euros. É a isto que chamam "dinheiro da própria TAP": dinheiro que não existia, que não estava na TAP, mas que a AIRBUS acreditou que pudesse gerar no futuro com o projeto Neeleman."
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