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A propósito da polémica recorrente sobre o que é ser de esquerda e de direita, e no sentido de me orientar nesse denso nevoeiro conceptual, produzi a tabela que segue.
Ser de esquerda é... |
Ser de direita é... | |||
Pelo critério do coração |
Deplorar a pobreza, insurgir-se contra a desigualdade de oportunidades, lutar pela liberdade, pensar mais nos outros do que em si próprio. Gostar de mudança.
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Ser avarento, ambicioso, egoista, não olhar a meios para atingir os seus fins pessoais, nem aceitar que possa pensar-se de forma diferente. Valorizar a estabilidade. | ||
Pelo critério da cabeça |
Entender que se detém o exclusivo da razão, precisamente porque os fins são belos e românticos. Entender, também, que esses fins justificam os meios, como a manipulação informativa, a engorda e o reforço do poder do Estado, e a restrição da liberdade individual em prol das «liberdades colectivas» (?). Entender que as mudanças devem fazer-se no seu próprio tempo de vida, recorrendo, no extremo, à política da tábua rasa e a métodos revolucionários e/ou ditatoriais.
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Entender que o primado é da liberdade de cada um. Entender que ao Estado compete apenas assegurar a igualdade de oportunidades e o cumprimento de regras mínimas de lisura social e económica. Entender que as mudanças necessárias devem fazer-se por via reformista, «sustentadamente» e no tempo de quantas vidas for. Entender que pode haver perigo nos idealismos de esquerda, - porque os idealismos tendem para a radicalização - e combater esse perigo, recorrendo, no extremo, a métodos golpistas e/ou ditatoriais. | ||
Pelo critério do estômago |
Considerar que os primeiros pobres são os de esquerda, porque a esquerda é, por natureza, pobre (e/ou conhece casos traumatizantes de pobreza no seu passado ou ascendência próxima). Acautelar, portanto, prioritariamente, os seus próprios desejos e necessidades.
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Considerar a propriedade e a riqueza como direitos individuais legítimos e factores de prestígio e de motivação no trabalho. Preferir, entre as causas de perda de riqueza, aquelas que redundem em benefício palpável de estômagos alheios; ou seja, preferir a caridade à correcção fiscal. | ||
Em síntese |
Viver de impulsos românticos, avaliando as consequências de forma leviana.
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Avaliar as consequências de forma cautelosa, comedindo os impulsos românticos. |
Revejo o exercício e o nevoeiro continua cerrado.
Ainda assim - e na linha conciliadora dos franceses, que reconhecem ter o coração à esquerda e a carteira à direita -, diria que ser-se de esquerda serve razoavelmente a nossa vida privada, em que os idealismos são inócuos, proporcionam divertidas discussões existenciais e compõem uma imagem generosa e apegada aos valores humanistas. Já ser-se de direita serve melhor a nossa vida pública (se a temos), porque o pragmatismo, a eficácia e a paciência são qualidades essenciais à administração do bem comum. Podemos, portanto, ser muitos num só, com ganho de interesse e sem perda de coerência.
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