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Sede vacante

por João Távora, em 23.04.25

Sede_vacante.png

São sempre comoventes as exéquias de um Papa e as imagens das cerimónias em directo do Vaticano para todo o mundo fazem-nos acreditar que de alguma forma a mensagem de Jesus Cristo com dois mil anos é intemporal e supranacional.

É por isso que faz pouco sentido o sectarismo dentro da Igreja Católica entre progressistas e conservadores. É na gestão cuidadosa da permanente tensão entre as inevitáveis facções que Roma vem sendo capaz de realizar que garante a universalidade da instituição. Também porque a Doutrina da Igreja Católica é Universal (desculpem-me o pleonasmo).

Se faz pouco sentido o sectarismo dentro da Igreja Católica, muito menos ele faz entre os não católicos, intrometidos na contenda a opinar nos Media a comoção dos eventos que se vão suceder nas próximas semanas, que culminarão na eleição de um novo Papa. Mas é isso que se verifica nas televisões, entre jornalistas e comentadores, poucos deles católicos, a cavarem trincheiras entre progressistas e conservadores, sendo que para eles os bons são os progressistas e os maus os conservadores. Habituados a comentar lutas partidárias e confrontos políticos não percebem que a lógica da Igreja é outra.

E se chamamos “conservadorismo” ao esforço de síntese entre as várias tensões, à conciliação entre as várias sensibilidades políticas sempre influenciadas pelas diferentes geografias, o mesmo é dizer “culturas”, em consequência o próximo Papa será inevitavelmente apelidado de “conservador”. Em primeiro lugar porque a Doutrina da Igreja Católica, ou seja, as “verdades de fé” que espelham os seus imutáveis valores universais não são negociáveis e não se submetem a modas – assim procedeu o Papa Francisco nas questões fracturantes em voga na decadente Europa. Em segundo lugar porque as mudanças possíveis na Igreja (de regras que não sejam Dogmas), precisamente porque ela é universal, deverá de obedecer sempre a profundos consensos, e por isso essas reformas, a existirem serão sempre muito lentas.

A prevalência da Tradição no lugar da Revolução tem sido o seguro de vida de Roma. A lentidão na mudança tem sido a inspiração divina que garante a sobrevivência desta Instituição por mais de dois mil anos. O próximo Papa, eleito por inspiração do Espírito Santo, será inevitavelmente um Papa para todos, todos, todos. Ironicamente isso irá desiludir a maioria dos jornalistas e comentadores, cujo sustento e quadro mental está formatado para o conflito e para a cisão.

Uma coisa magnifica e comovente da instituição que é a Igreja é saber que o grande aplauso na praça de S. Pedro surge às palavras 'habemus papa!", não à pessoa que vai cumprir esse papel. Essa é a garantia da sobrevivência da instituição.

Na imagem: o brasão da Santa Sé durante o período de Sede Vacante, o intervalo de tempo em que o Vaticano está  temporariamente sem Papa


13 comentários

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De balio a 23.04.2025 às 12:59


a Doutrina da Igreja Católica é Universal


Ouvi no outro dia um comentador de religião dizer na televisão que em África a doutrina sobre o casamento monogâmico levanta algumas dificuldades. Em certas partes desse continente não é mal visto que uma pessoa faça sexo com diversos parceiros.
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De balio a 23.04.2025 às 15:54

(O comentador era salvo erro António Marujo, um jornalista católico.)
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De balio a 23.04.2025 às 15:57


a Doutrina da Igreja Católica é Universal


A Igreja Anglicana tem um problema similar com a homossexualidade. Os seus adeptos ingleses e americanos estão atualmente muito de acordo com o acolhimento de homossexuais. Já os seus adeptos africanos (que não são poucos) estão totalmente em desacordo com tal coisa. Esse problema, e outros similares, já ameaçaram seriamente a unidade dessa Igreja.
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De M.Sousa a 23.04.2025 às 13:44

Precisamente! A Igreja não é uma ONG.É uma instituição que está (tem de estar) para além do tempo. E isso é uma perspectiva que está para além do (estrito) quadro mental do jornalista ou comentador (passe o pleonasmo) contemporâneo ...
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De Anónimo a 23.04.2025 às 22:06

Isso quer dizer o quê? Que se deve reger pelos registos definidos por indivíduos (sim, pessoas, humanas) há 2 milenios atrás, sem nunca mudar o que seja?
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De M.Sousa a 24.04.2025 às 08:45

Nada disso! Apenas não ir atrás de modas nem de (para)religiosos laicos, como são os exemplos contemporâneos dos climáticos, dos inclusivos, dos LGBTQXYZ e Marxistas em geral dos mais variados flavours...
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De Anónimo a 25.04.2025 às 12:41

O projecto 2025 está em andamento,  e em breve dará o salto para uk, e daí para o continente. 
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De balio a 23.04.2025 às 15:52


Sede vacante


"Sede" tanto pode ser lido "Séde" como "Sêde" (tal como "para" tanto pode ser lido "pára" como "pâra", ou "meta" tanto pode ser lido "méta" como "mêta"), mostrando que em português não há nenhuma regra fixa para a leitura de tais palavras.


As  palavras só podem ser escritas "sede", "para" e "meta", devendo o significado e a pronúncia da primeira sílaba ser deixados ao contexto.
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De Costa a 23.04.2025 às 19:01

Vir aqui, nesta circunstância, fazer proselitismo do ignóbil AO90 é pelo menos repugnante.
Mas já tudo se espera. 
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De Júlio Sebastião a 24.04.2025 às 09:33

Para quando o Novo Acordo Ortográfico do latim? Estamos à espera há séculos!
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De cela.e.sela a 23.04.2025 às 17:59

 Andante ma non troppo. há necessidade de tempo de reflexão.
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De Albino Manuel a 23.04.2025 às 20:40

E nem uma palavra sobre o finado.
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De Francisco Almeida a 24.04.2025 às 11:15

Diz João Távora que faz pouco sentido o sectarismo dentro da Igreja entre progressistas e conservadores. O sectarismo não faz sentido, ponto final parágrafo. E arrumar as diferentes sensibilidades dentro da Igreja como conservadores e progressistas é muito redutor. Faz tanto sentido como arrumar as espiritualidades entre jesuítas e membros do Opus Dei  De facto é uma transposição da política laica para o interior da Igreja. Lendo e ouvindo comentários - João Távora é excepção - a propósito da morte do Papa Francisco, fica-se com a impressão que a Igreja é quase um património dos não crentes.
Por isso "a contrario" deixo uma opinião que não classificaria de conservadora nem de progressista e que quem quiser classifique como quiser.
A relação religiosa com um Papa, é fácil para um crente. Já a relação política, pode ser mais complicada.
Na questão dos abusos, que infelizmente foi central, Francisco apenas seguiu o que Bento XVI já iniciara, com a novidade de trazer para a praça pública o que estava a ser discretamente tratado. Como positivo, vejo o encorajamento a denunciantes e vítimas se revelarem. Como desvantagem, vejo a oportunidade dada aos inimigos da Igreja de usarem como pretexto (e sim, é pretexto, porque sabendo-se que em escolas e balneários desportivos o problema é muito mais grave do que na Igreja, nenhuma iniciativa semelhante à da Igreja partiu de governos, instituições ou comunicação social).
Julgando politicamente, pelos resultados e sem considerar intenções, não faço um balanço positivo.
E algo de parecido, se passou com S. João Paulo II. Visitou a Polónia, deu força a Lech Walesa e iniciou assim o fim da União Soviética. Mas esquecida ficou a viagem ao Brasil, onde deu força a Lula mas apenas resultou num aumento de violência da ditadura militar (nesse tempo Lula ainda não se tinha aburguesado com um triplex e o resultado podia ter sido uma ditadura comunista no Brasil, nunca uma democracia).
O meu estilo de Papa, foi Bento XVI - o seu discurso de Regensburg é uma abertura no campo da filosofia e das ideias, que me parece mais profunda e mais fecunda do que a nomeação de meia dúzia de mulheres para cargos no Vaticano - e, por isso, tenho a esperança que, oriundo da Ásia ou de África ou, quem sabe, de Portugal, o próximo Papa ponha uma pausa no populismo (mais uma vez, estou a julgar pelos resultados, não pelas intenções) e, sobretudo, possa interromper o absurdo actual das transformações a operar no interior da Igreja - importantes e urgentes - sejam discutidas e, direi mesmo vividas, por pessoas a ela alheias e que nela não se revêem.

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