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Ontem li um artigo de opinião de um cronista do regime, mas independente.
Estranhamente os orgãos de comunicação social em Portugal estão cheios de políticos com agendas políticas perfeitamente definidas, e a quem nunca ninguém ouviu qualquer palavra que não fosse para reforço dessa agenda, mas há, em minoria, também há verdadeiros cronistas, isto é, gente que pensa de forma razoavelmente livre.
Dizia o cronista que a corrupção seria uma questão central na votação do próximo dia 10 de Março e daí fazia uma série de considerações sobre os erros de Montenegro (é um desporto nacional falar dos erros de Montenegro, como era um desporto nacional falar do esgotamento político de Passos Coelho, quando era o chefe da oposição a António Costa).
Este boneco ilustra a única divergência de fundo que sempre tive com Carlos Guimarães Pinto, a sua frequente referência política à corrupção.
Esta divergência não é bem em relação ao efeito corrosivo da corrupção numa comunidade, mas diz respeito à sua relevância política.
Se a corrupção tivesse o peso eleitoral que se lhe atribui, o PS não teria hoje intenções de voto nas sondagens em torno de um terço, Isaltino (e muitos outros) nunca ganhariam eleições e por aí fora.
A corrupção é políticamente útil ao Chega, não porque alguém ache que um governo do Chega seria imune à corrupção, mas porque reforça a única coisa que interessa ao Chega como mensagem política, passar a ideia de que é um partido anti-sistema para mobilizar o voto de protesto.
A Iniciativa Liberal, que tem um discurso tão anti-corrupção como o Chega (ou o Bloco de Esquerda, o PC alinha menos nestas infantilidades), não retira grande benefício político dessa conversa (o PS e o PSD, os partidos de poder, a falar abstractamente contra a corrupção tem a mesma credibilidade que a Cicciolina a falar dos benefícios do recato).
Note-se que isto não é nenhuma novidade, as grandes forças políticas anti-liberais da primeira metade do século XX, fascistas, nazis, comunistas e afins, tinham um fortíssimo discurso contra a corrupção e a plutocracia das democracias (mesmo o discurso anti-semita dos nazis era, na origem, um discurso contra a corrupção e plutocracia, com frequentes identificações entre banqueiros e judeus, sobretudo nas suas fases ascensionais destes grupos políticos), independentemente da sua prática, uma vez atingido o poder, ser tão corrupta como eram as democracias plutocráticas.
A impressão que tenho é a de que o eleitor comum tem um razoável conhecimento da natureza humana e sabe que o poder corrompe, que a ocasião faz o ladrão, e por isso não liga muito à ideia de que uns grupos ocupam o poder de forma impoluta e outros não.
Protesta contra a pouca-vergonha, contra a ladroagem, contra uma justiça para ricos e outra para pobres, não porque a corrupção seja uma questão central, mas porque identifica poder com privilégio e protesta contra o abuso de poder, seja ele de que tipo for, quando as coisas lhe correm mal (quando lhe correm bem, não quer saber).
O eleitor comum vota em partidos de protesto, como o Chega ou o Bloco de Esquerda, não porque se identifique com os seus programas políticos (toda a gente desconhece os programas políticos de toda a gente, e por boas razões, todos sabemos que os programas falam de situações ideais e a política diz respeito ao que é possível) mas porque quer votar contra o sistema, a casta, o privilégio, radicalizando-se quando o centro, que tendencialmente ocupa o poder, deixa de lhe dar esperança de que a sua vida mude para melhor.
Nem de propósito, vinha hoje a ouvir uns jornalistas a falar sobre a prisão de um senhor das claques do Porto, alguns espalhando a sua superioridade moral referindo que finalmente, e não se percebia como não tinha sido antes, a justiça tinha olhado para o mundo do futebol (como se o mundo mediático não tivesse responsabilidade na forma como lida com o mundo do futebol) e outros, sensatamente, a falar dos seus amigos e familiares, que são pessoas razoáveis, sensatas e etc., até porem o cachecol do seu clube.
Um dos jornalistas dizia que não entendia o silêncio de várias pessoas politicamente relevantes, e que fazem parte do Conselho Superior do Futebol Clube do Porto, a propósito do que se tinha passado na Assembleia Geral do Porto e do vandalismo subsequente que ameaçou André Vilas Boas.
A colega responde-lhe, numa cândida demonstração da responsabilidade da comunicação social no que se passa no mundo do futebol: "se eu te contasse as cenas que vi no estádio do Porto por parte desse tipo de pessoas...".
That's all folks, todos nós sabemos que a política, o futebol, a finança, o jornalismo, a academia, as famílias, as empresas, etc., etc., etc., são mundos sujos, feitos por e para pessoas normais, e todos nós votamos em eleições com base em critérios razoavelmente estreitos sobre o que achamos que pode ser feito num futuro próximo, a partir desses resultados eleitorais.
Raramente, muito raramente, há quem acredite que o seu voto serve de purificador desses mundos humanos, demasiado humanos, que serão, doravante, regidos por critérios de pureza moral (felizmente).
Não, a corrupção não é um grande influenciador de votos, serve apenas para sinalizar a minha posição dentro ou fora do sistema, pouco mais.
Declarou ao Parlamento uma morada a 285 km e recebeu abonos muito mais elevados. “São João da Madeira era o centro da minha vida pessoal, familiar, social e política”, justifica à SÁBADO. Mas assume que era em Lisboa que morava durante os trabalhos parlamentares. Em média, recebeu €1.800 por mês só em abonos durante nove anos. Outros deputados foram investigados pelo MP, mas acabou tudo arquivado.
O balio é surdo. E masoquista, pois gosta que lhe batam. Além disso gosta que lhe dêem atenção, e abusa frequentemente da nossa paciência (nossa = “postadores” e comentadores).
O melhor é sempre que possível ignorá-lo.
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Voluptuosa..............
No caso não é escassez artificial, é real: a procu...
Escassez artificial?Mas se com a chegada do metro ...
Tem toda a razão, hps.Mais um anónimo a quem só a...