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Rumores e a comunicação social que temos:

por Vasco Lobo Xavier, em 27.06.17

A nossa comunicação social anda sempre a chorar-se, a pedir que se comprem jornais, a pedir que seja lida, vista e ouvida. Não sei porquê, pois na maioria das vezes considero-a má, tendenciosa ou mesmo desonesta na informação que prestam aos seus consumidores. No fundo, não prestam. Veja-se o episódio mais recente, uma minudência no meio de toda esta tragédia e ineficácia. Passos Coelho fez um comentário tendo por base uma informação que lhe tinha sido dada e se verificou não ser verdadeira.

Jornalistas e comentadores caíram em cima dele como não se lembraram de fazer quando, aqui há uns anos, o profissional Nicolau Santos andou por aí uma semana inteira a propagandear um desgraçado qualquer que não era nada do que ele dizia. O problema agora passou a ser Passos Coelho. David Diniz já tinha ensaiado a coisa há uma semana, mas era algo tão esgravatado e mal feito que não deu em nada (hoje foi mais comedido, na SIC-N, mas tentou voltar à carga).

 Não interessa se aquele que informou mal veio de imediato a terreiro assumir o erro, não interessa se Passos Coelho rapidamente pediu desculpa por falar com informação errada, prestada por uma pessoa da zona e, pelo menos por isso, provavelmente detentora de alguma credibilidade e conhecimento. O culpado de tudo é Passos Coelho e o seu informador deve ser demitido (ou demitir-se, já não sei nem o assunto me merece que gaste tempo), clama o PS.

 Do PS vieram também as críticas de António Costa, o homem que tem fugido por entre os pingos da chuva enquanto a pede com fervor, juntamente com a Catarina em férias. Solenemente, ou com ar disso, e também ao ar livre, Costa discorreu longamente sobre o episódio dizendo que não se deveria falar tendo por base “rumores”, como acusava Passos de fazer. E os jornalistas a comerem a papa toda, já devidamente mastigada por Costa. Acontece que Passos Coelho não falou com base em “rumores”, mas sim numa informação concreta que uma concreta pessoa da região lhe tinha dado, o que lhe pareceu possuir alguma credibilidade embora a informação não se tenha revelado verdadeira. Pediu de imediato desculpas (excessivamente, a meu ver, mas eu não tenho de levar com jornalistas a perguntarem sucessivamente as mesmas coisas, hora a hora, para fingir que fazem o seu papel e justificarem o outro papel ao fim do mês), e a comunicação social deveria ter passado aos assuntos dignos de interesse mas infelizmente o episódio não terminou (nem conto que termine).

 Ora, a meu ver, se António Costa declara não opinar com base em rumores, como fez de tez franzida, e se os jornalistas se incomodam tanto com pessoas que, sobre este assunto do incêndio de Pedrógão Grande, opinam sem se sustentarem em factos concretos (um dia que apareçam…), seria talvez relevante começarem a indagar-se entre si e a perguntar a António Costa de onde veio o “rumor”, lançado com imenso êxito e largueza, logo no primeiro dia do incêndio, de que tudo teria corrido como previsto, de que não existiam quaisquer falhas dos serviços, técnicas ou outras, que teria sido feito tudo quanto era possível, humana e tecnicamente, que até já se tinha descoberto a àrvore que teria espoletado o incêndio, através de um raio de uma trovoada na altura inexistente, e ainda apurar quem soprou tais rumores aos jornalistas e também ao Presidente da República, levando-o a fazer a triste figurinha que fez dizendo isto tudo, ao lado dos responsáveis do governo e do DN.

 Esses rumores que foram postos rapidamente a correr, para apagar responsabilidades políticas (em vez de se tentarem apagar os incêndios e apurar responsabilidades), é que têm interesse, é que deveriam ser investigados e questionados pela comunicação social (e não uma porcaria de um episódio menor no meio disto tudo e já esclarecido). Ora se a comunicação social não faz o que deve, por ser incompetente, tendenciosa, ou desonesta intelectualmente, que razão teria eu ou qualquer outro consumidor para gastar dinheiro com semelhante comunicação social?

 

Post Scriptum: estava a acabar de escrever isto e, num programa da RTP 3, O Outro Lado, inicia-se um debate onde se vão discutir os incêndios e, pasme-se, “as declarações de Passos Coelho”. Com José Eduardo Martins, Rui Tavares e Adão e Silva. Três amigos declarados de Passos Coelho. Eu não conheço Passos Coelho e sou, como sempre fui, do CDS. Mas perante a comunicação social que temos, vou mas é ver outro problema e enfurecer-me pelo facto de os meus impostos pagarem também esta porcaria de programas.


13 comentários

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De Anónimo a 29.06.2017 às 14:00

A esquerda gosta do Soares e diz bem dele e mal do Passos, a direita gosta do Passos e diz bem dele e mal do Soares. É o normal. Grande parte da direita acha o Soares um traste e um traidor da pior espécie.

Mas aqui o problema não foi a mentira, porque todos eles mentem. O problema foi mesmo o tema. Um estadista não faz aquilo. Não concorda? É claro que teve de pedir desculpa ou os estragos seriam maiores.

Criou-se o mito do Passos Estadista. É porque não ri? Fala aí em dedinho puritano, mas o Soares, como se sabe, era tudo menos puritano. Aliás, não é a esquerda em geral que é uma imoralidade pegada, com as coisas dos gays, droga, aborto, que criam mal os filhos etcetc? O Passos sim, é um asceta e aponta-nos o dedinho a falar de sacrifícios, somos uns gastadores, etc. A propósito, como está o caso tecnoforma?  Já ouviu falar do inquérito ou noticias?


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De João Sousa a 29.06.2017 às 15:03

A esquerda está sempre ansiosa por que se investigue o caso Tecnoforma. Não vejo a esquerda particularmente ansiosa em investigar as leis feitas à medida para gestores públicos, nem as reprivatizações negociadas por amigos do peito que depois são nomeados para a administração das mesmas empresas, nem em investigar governantes que recebem presentes de empresas contra as quais os seus ministérios têm processos em andamento, nem sequer "renegociações" de pacotes de comunicação de emergência feitas por governantes e amigos do peito em que os fornecedores estão isentos de indemnização no caso de o seu produto falhar - em situações de emergência.
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De Anónimo a 29.06.2017 às 17:13

Investigue-se tudo isso, de todos os que lá estiveram no governo, de esquerda e de direita. Pois, ou acha que a direita é moralmente imune a essas coisas? Quer que lhe recorde? Já agora, não entendi uma irritação sua. Tem alguma objecção a que se investigue a Tecnoforma? Eu apenas lhe estava a perguntar se já sabe alguma coisa de algum inquérito ou se tem visto noticias sobre isso, alguma "ânsia" especial da justiça ou dos jornais sobre o assunto. 
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De João Sousa a 30.06.2017 às 07:42

Absolutamente nenhum incómodo. Que se investigue o que houver a investigar, tal como Passos Coelho ordenou ao seu ministro da Educação que investigasse a licenciatura manhosa do seu próprio braço direito político com os resultados que se conhecem - o ministro anulou o curso. O que, já agora, foi algo "ligeiramente" diferente do ocorrido nos tempos de Sócrates.

A minha referência à eterna invocação que a Esquerda faz do caso Tecnoforma não é incómodo - é tristeza por nunca a ver interessada em fazer o mesmo nos casos que enlameiam o seu lado.
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De Anónimo a 30.06.2017 às 11:31

Ó meu caro, tendo-se a situação tornado pública e provocado escândalo, que mais havia o Passos de fazer a não ser empurrar o seu amigo Relvas? Ou acha que ele, sendo seu amigo e tendo um percurso muito frutuoso ao longo dos anos, não sabia já que cursos ele tinha ou deixava de ter? E Tecnoforma? que é isso da Tecnoforma e qual eterna invocação? Isso é chão que deu uvas, senhor. O Passos é um homem sério: não se ri.  

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