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Ricardo Salgado: O bom, mau e o vilão

por Maria Teixeira Alves, em 19.06.14

Ricardo Salgado sai do BES em cima de fazer 70 anos (a 25 de Junho). Deixa o BES capitalizado mas não conseguiu conter a difamação. Pelo contrário, a partir de dado momento a sua presença à frente do BES agudizava a difamação. Penso que Ricardo Salgado sai para poupar o banco. A sua, bem oleada, máquina de comunicação deixou de conseguir travar o desaire. 

O BES deve tudo a Ricardo Salgado: deve o bom, deve o mau e deve o vilão. O BES não seria o que é hoje se não fosse a inteligência, a sabedoria, e a diplomacia de Ricardo Salgado. O genial de Ricardo Salgado levou-o a destacar-se entre a família Espírito Santo (quando há muitos e um se destaca, isso é de um enorme mérito que é preciso reconhecer). Foi essa inteligência que o levou a ser o escolhido para liderar os destinos do BES, decorria o ano capicua de 1991. É a partir do estrangeiro que participa na reconstrução do Grupo Espírito Santo, primeiro a partir do Brasil (1976-1982) e depois a partir da Suíça (1982-1991), de onde regressa para investir em Portugal. Começou pela criação do Banco Internacional de Crédito em 1986, quando a Constituição da República Portuguesa ainda não permitia as reprivatizações.

Todo o seu percurso é feito numa tentativa de fazer do BES um grande banco português e um banco aliado do país. Ricardo Salgado é um banqueiro, daqueles à antiga, que tem uma estratégia para o banco mas também tem uma estratégia para o país. Mas, e há sempre um mas em todas as histórias, não resistiu ao pacto com o poder político que é um pacto com o diabo (seja ele cá ou em qualquer outro país). Esse foi o pecado do banqueiro. O poder é apenas uma sugestão.

A vaidade de Ricardo Salgado foi querer ser o fiel da balança política. Seja em Portugal, seja em Angola, os compromissos com o Estado podem descambar em coisas menos ortodoxas. Depois a tentação de, através do crédito, ajudar quem precisa, corrigir as injustiças, dar gás aos projectos, ajudar os amigos leais, tudo isso são vicissitudes com que se depara qualquer presidente de um banco. Mas às tantas, os amigos são muitos, os desfavorecidos são muitos, os parentes são muitos, os injustiçados são muitos, os buracos de um país são muitos e o banco começa a ser pequeno demais para acudir a tantos. Os apoios começam a cair aqui e ali, depois quando já se está à beira do abismo há sempre quem esteja disponível para dar o empurrão final. 

O bisneto de José Maria do Espírito Santo Silva e neto pela mãe de Ricardo Ribeiro do Espírito Santo Silva, é o primeiro presidente do BES a sair vivo da função. Até hoje os presidentes do BES eram como os Reis numa monarquia, não abdicavam, morriam. 

Ricardo Salgado vai agora defender com unhas e dentes Amílcar Morais Pires para presidente. É preciso que se diga que Amílcar Morais Pires é fundamental no BES, o banco deve à sua credibilidade junto dos investidores o sucesso do último aumento de capital.

Ricardo Salgado sai. Não ficará nem sequer Chairman. Ficará num comité estratégico do banco. Um lugar simbólico.

José Maria Ricciardi tem fortes possibilidades de assumir a presidência do BES, se não a executiva pelo menos a não executiva. 


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