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"enquanto primeiro-ministro, Montenegro detinha uma empresa com a mulher e os filhos, com sede em sua casa e o seu telemóvel como contacto, que continuou a prestar alegados serviços a um conjunto de clientes empresariais, angariados pelo próprio nas suas redes de influência política regionais. Sendo que o negócio de uma parte significativa desses clientes depende de concessões, decididas pelo Governo. ... trata-se de uma conduta não compatível com o exercício da função. ... o que já se sabe basta para não sabermos mais. ... bem mais funesta é a ideia de que o plesbiscito amnistia ilícitos ou práticas eticamente reprováveis."
Pedro Adão e Silva, no Público de hoje, a ser-me muito, muito útil para fazer um resumo do que tenho escrito sobre isto.
O texto que cito parece-me exemplar como resumo dos factos, mas também exemplar na demonstração das técnicas de manipulação para criar insinuações ilegítimas e contrabandear mentiras.
"enquanto primeiro-ministro, Montenegro detinha uma empresa com a mulher e os filhos, com sede em sua casa e o seu telemóvel como contacto"
Isto é factual e não tem nenhum problema, é legal e é legítimo que um primeiro ministro seja dono de uma empresa familiar, desde que não exerça nenhuma função nela (porque está em exclusividade de funções), não pratique nenhum acto do qual resultem conflitos de interesses e que a declare, incluindo actos ou actividades que possam configurar conflitos de interesses potenciais. Se a empresa é familiar, é normal a sede ser a casa de família. O telefone de contacto ser o que está no acto de constituição na sociedade não tem nenhuma relevância (a empresa vive da rede social da família, portanto não tem grande necessidade de outros meios de contacto que não os pessoais) e só é referido na caracterização da empresa para insinuar uma excepcionalidade que não existe (há milhares de empresas no país que funcionam assim e muitas mais que, não funcionando hoje assim, começaram assim).
"que continuou a prestar alegados serviços a um conjunto de clientes empresariais".
A primeia malandrice que pretende dar força a insinuações de ilegitimidade está neste "alegados", como se houvesse dúvidas de que os serviços foram prestados. Dúvidas teóricas qualquer um pode ter e são legítimas, mas qualquer pessoa pode fazer o que fiz: perguntei ao Observador como geria as obrigações decorrentes do Regulamento Geral de Protecção de Dados (talvez faça um post sobre a resposta, um dia destes). Ou seja, objectivamente não há nenhuma razão para aquele "alegados" para além da vontade de fazer uma insinuação sonsa.
"clientes empresariais, angariados pelo próprio nas suas redes de influência política regionais", sim, os clientes foram angariados por Montenegro para a empresa, quando o podia fazer, e fazem parte do activo da empresa, quando ele sai, uma demonstração de que, embora essencial num primeiro momento de angariação e início de actividade, a empresa se tornou autónoma num segundo momento. Mas, lá vem outra vez a sonsice da insinuação, "redes de influência política regionais", em vez de descrever o que é normal numa pequena empresa familiar de consultadoria em fases iniciais, a dependência da rede social dos promotores da empresa para a angariação dos seus primeiros clientes. O que está a ser dito é que os accionistas da Solverde e da Ferpinta (cuja actividade política é desconhecida) são condicionadas politicamente por Montenegro, o que é evidentemente absurdo e só se compreende quando se quer desvalorizar as explicações que Montenegro deu: os accionistas dessas empresas são amigos de Montenegro há muitos anos (o que, acrescentou Montenegro, o impediria sempre de tomar decisões sobre elas, independentemente de quaisquer relações profissionais).
"trata-se de uma conduta não compatível com o exercício da função" é a frase que explica as insinuações antes feitas, é apenas a partir de uma visão conspiracionista que a frase é sustentável, porque não tem qualquer sustentabilidade nos factos, se lhes retirarmos as insinuações.
"bem mais funesta é a ideia de que o plesbiscito amnistia ilícitos ou práticas eticamente reprováveis", era aqui que Pedro Adão e Silva queria chegar (o título da crónica demonstra-o, se houvesse dúvidas), ao novo argumento do PS para continuar, depois de perder as eleições (o argumento só tem interesse para essa hipótese, se o PS ganhar é um instante enquanto toda a gente que diz que as eleições não legitimam o comportamento de Montenegro passar a dizer que o povo demonstrou que não quer o comportamento de Montenegro), a usar o ataque pessoal em detrimento do ataque às políticas, na sua acção.
Só que, mais uma vez, Pedro Adão e Silva (e muitos mais gente, até de forma mais primária, Pedro Adão e Silva é bastante mais sofisticado que a maioria dos comentadores) faz uma malandrice, almalgando coisas certas (as eleições não lavam ilícitos, as questões de polícia não se resolvem com vitórias políticas, coisa sobre a qual já escrevi há mais de quinze anos a propósito de uma pessoa que nunca, mas nunca, me mereceu confiança e muito menos apoio político), com coisas absurdas, como dizer que as questões éticas e de carácter não se resolvem em eleições.
Se não for essa a via pela qual as pessoas comuns julgam o carácter, a ética e comportamento legal dos políticos, qual é a via alternativa?
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