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Retomando a conversa

por henrique pereira dos santos, em 06.10.24

A Montis, que uso como exemplo, terá qualquer coisa como 350 sócios que pagam uma quota anual de 25 euros, portanto terá um valor de quotas à volta de 8 750 euros.

Apesar de ser uma associação muito conservadora em matéria de projectos de financiamento (é fácil ir buscar dinheiro a projectos, mas a verdade é que quem vive de projectos serve os objectivos dos financiadores, não os dos sócios da associação), estes 8 750 euros de quotas alavancam outras fontes de financiamento.

Por exemplo, a consignação de IRS (que este governo alterou de 0,5% para 1%, e acredito que tive alguma influência nisso, embora ténue) representou mais uns 4 mil euros, há alguns projectos e parcerias, de maneira que o valor global das receitas da Montis, no ano passado, terá sido à volta de 80 mil euros. Dos quais uns 40 mil corresponderam a um projecto com a Caudalie com obrigações bem definidas.

Estes são, portanto, os recursos à disposição da Montis para produzir biodiversidade.

As vendas do sector de pasta, papel e cartão, variam de ano para ano, claro, mas o erro contido no valor que vou usar não é relevante para o que estou a escrever: andam acima dos dois mil e quinhentos milhões de euros. Escrevo com números: 2 500 000 000 contra 80 000 da Montis.

Claro que é uma comparação da treta porque estou a comparar todo um sector com uma pequena organização de outro sector, mas a disparidade é de tal maneira grande que facilmente se percebe que todo o sector da conservação nunca chegará a valores de 2 500 milhões de euros anuais, o que explica por que razão há mais produção de eucalipto que produção de biodiversidade (o Instituto da Conservação da Natureza, talvez o maior agente de conservação no país, não deve ter mais de 100 milhões de euros disponíveis anualmente, ou seja, precisaria de multiplicar os seus recursos anuais por 25, para estar ao mesmo nível do sector da pasta, papel e cartão).

Quem é que entrega recursos tão grande ao sector da pasta, papel e cartão?

Somos nós todos quando compramos produtos que são produzidos pelo sector, se alguém acha que o sector tem recursos a mais, tem bom remédio: parar de consumir os seus produtos.

E quem acha que a conservação deveria ter mais recursos, tem bom remédio, pague mais a quem faz conservação ou produza-a directamente, nos seus terrenos ou no de terceiros.

Fazer manifestações (com cartazes feitos pelo sector da pasta, papel e cartão), inventar histórias da carochinha sobre o sector, pintar fachadas, e outras sinalizações de virtude, parecem-me actividades ociosas e inconsequentes.

A razão pela qual o sector prospera é apenas porque há quem consuma os seus produtos ao preço a que são vendidos.

Eu conheço os argumentos, são as portas giratórias, é a captação do Estado, é a falta de vontade política, é a permissividade administrativa, é a corrupção, etc., etc., etc., mas a verdade é que se tivessem razão, bastava demonstrar qualquer uma destas coisas.

A razão pela qual a generalidade da sociedade se está nas tintas para o actual movimento ambientalista é porque o vê mais preocupado com a sinalização de virtude que com a realidade, não é por causa de razões escondidas e processos manhosos, é mesmo porque não têm razão no que dizem, mesmo que sejam muitos a dizer (e nem isso são).

Há já bastante tempo um amigo dizia-me que não percebia por que razão, sabendo ele que eu não tinha nenhum apreço pelas paisagens de eucalipto, que acho monótonas, homogéneas e hostis, eu não intercalava umas críticas a essas paisagens no meio do que dizia, para não ser completamente ostracizado no mundo da conservação.

Ele tinha razão, no caso de eu ligar alguma coisa à minha reputação junto de pessoas e organizações cuja opinião é determinada pela necessidade permanente de demonstrar superioridade moral e distância (fictícia) aos interesses económicos.

Só que não tenho a menor intenção de ceder à definição do problema aceite pela wokaria, eu discuto o assunto nos termos que eu entender, e não nos termos de quem não tem nada a acrescentar à discussão, repetindo os mesmos slogans há trinta anos como uma espécie de senha de acesso à superioridade moral que caracteriza o sector da conservação.


2 comentários

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De Fernando Antolin a 07.10.2024 às 13:02

Muito bem! 


É sempre um gosto lê-lo/ouvi-lo.


Cumprimentos 
Fernando Antolin 

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