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"Uma vez que o valor que propõe não cobre nem de perto nem de longe os custos para limpar 1 hectare, não acha que se corre o risco com essa proposta de apenas remunerar os hectares que já são atualmente limpos e de não contribuir para a limpeza de novos hectares?"
Esta pergunta que é feita num comentário ao meu post anterior é muito boa e, por isso, resolvi fazer este post.
Em primeiro lugar, deixem-me começar por esclarecer esta frase: "o valor que propõe não cobre nem de perto nem de longe os custos para limpar 1 hectare".
O valor que proponho, 100 euros por hectare, de três em três anos, é uma mera base de trabalho, se não houver interessados em receber este dinheiro é porque o valor é baixo e deve ser aumentado, se houver muitos, é porque o valor é alto e deve diminuir.
Sendo um valor razoavelmente arbitrário, deve ser testado na realidade, ele não é absurdo, parte do princípio de que as operações de gestão devem ser feitas com uma periodicidade de três a cinco anos (depende da produtividade primária) e se é um valor absurdamente baixo em relação ao custo das limpezas moto-manuais (devem andar facilmente pelos 900 a mil euros por hectare), não é um valor excessivamente baixo em relação a outras operações de gestão, deve andar pelo custo de uma operação mecanizada com grade de discos, e não anda longe dos valores de custo do fogo controlado (dependem muito da área a tratar e do contexto).
Como a proposta não pretende que se faça gestão de matos sem objectivos definidos, e como não se pretende criar rendas, parece-me razoável estabelecer este valor.
Vamos então ao fundo da questão: mas isso não vai apenas remunerar quem já faz gestão de combustíveis?
O objectivo primário da proposta é esse, o de remunerar quem já faz gestão de combustíveis. Por mim, para não ter já os anti eucaliptistas aos gritos, podemos excluir do apoio as operações feitas de forma mecanizada em plantações comerciais com mais de cinco hectares. Para não ter os ambientalistas com dois dedos de testa aos gritos (os outros gritam sempre, portanto é irrelevante), podemos excluir do apoio quaisquer operações de degradam a camada superficial do solo.
Admitamos então que a proposta tem como único efeito pagar o serviço de gestão de combustíveis a quem já o faz.
O resultado que se pode esperar não é apenas o do aumento da riqueza de quem faz essas actividades (e isso seria socialmente relevante, estamos a falar de pastores, resineiros, trabalhadores florestais, pequenos empresários, com rendimentos frequentemente baixos), que depois se transmite, pelo menos parcialmente, às suas comunidades (as tais que se queixam de ninguém lhes liga, aquilo a que se chama interior, mesmo que seja em Albergaria a Velha, que está a poucas dezenas de quilómetros do mar).
O que se pode esperar é que, sendo essas actividades mais compensadoras, os agentes económicos existentes expandam as suas actividades e apareçam novos agentes económicos interessados, porque a actividade é mais compensadora.
O que esta proposta pretende é isto, injectar economia na actividade de gestão florestal, com o mínimo de interferência nas opções das pessoas e empresários.
Os impactos, positivos e negativos (os negativos prendem-se essencialmente com a potencial criação de rendas geradoras de ineficiência) dependem da magnitude dos valores que se definam, ou seja, do preço que se defina para o pagamento do serviço de gestão de combustíveis, razão pela qual eu defendo um mecanismo de adaptação permanente que se aproxime de um mercado financiado pelos contribuintes.
A dúvida é muito interessante, pois que revela uma forma de pensar muito em voga: se preciso que alguma coisa seja feita, subsidio para cima...(mesmo que com o título de pagamento de serviços)
Lembra-me a regra de despejar dinheiro sobre os problemas, em que um desaparece e o problema se mantêm.
Sou muito mais adepto da indução de comportamentos, deixando que sejam os indivíduos a descortinar qual ou quais as melhores formas de actuar. Não me considero “a ultima bolacha do pacote” que tudo sabe, e que só eu sei. Friso esta última parte, pois que num sistema como o proposto – o pagamento directo por realizar determinada tarefa necessitaria de fiscalização, e um dia, um qualquer fiscal irá afirmar que uma determinada técnica ou forma de gestão não é do seu agrado, e cria-se um problema desnecessário e limitador.
Passando a exemplificar que talvez seja mais produtivo: se eu for herdeiro de uma parcela (digamos) de 5 Ha de floresta, lá para as serranias de onde os meus avós são originários, e que os custos de manutenção/gestão são avultados para um retorno nulo, irei natural e compreensivelmente limitar ou ignorar a manutenção da floresta.
Por outro lado, caso tenha conhecimento que o Estado paga um determinado valor por tCO2 sequestrada, e que com o coberto existente aquela parcela de 5Ha pode ter um rendimento de (por hipótese, e aos valores de hoje da tCO2, e de um valor médio de sequestro por Ha) 5Ha x 75€ x 15t= 5625€, passo a ser eu, o herdeiro, a ter o máximo interesse em registar a parcela em meu nome, em manter a floresta nas melhores condições, e possivelmente vou estudar todas as formas de melhorar o processo de gestão, pois isso é a única garantia de continuar a receber o pagamento pelo serviço prestado de sequestro de CO2.
O processo indirecto é este.
Quem garante que irei fazer a gestão da parcela que herdo?
Eu mesmo, pois que terei interesse em melhorar as condições e capacidade de sequestro – significa mais receitas – e principalmente terei todo o interesse em que a fonte de rendimento não desapareça com um fogo...só recuperando essa fonte de rendimento quando voltar – se voltar – a ter capacidade de sequestro na floresta.
(a mesma lógica pode ser aplicada a diferentes tipos de agricultura, que tem diferentes capacidades de sequestro – algumas de emissão)
De caminho terei todo o interesse que a Academia estude as melhores formas de aumentar essa capacidade de sequestro...
E também, se entregam as receitas cobradas a quem emite CO2 directamente a quem 'retira' CO2, sem mais politicos imaginativos no processo (no nosso caso imaginaram que os valores cobrados por tCO2 são mesmo bons para subsidiar os transportes públicos da AML... onde é que eu já vi isto, de despejar dinheiro para que um determinado comportamento se faça...?)
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