Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Reflexões em tempo estival

por João Távora, em 13.08.24

sobrinho.jpg

O mês de Agosto é o tempo ideal para que na Comunicação Social e os veraneantes à roda da mesa de café discutam o premente problema do “idadismo” dentro das empresas, ou seja, o preconceito e as consequentes manigâncias e malfeitorias de que os mais velhos são capazes de perpetrar contra os jovens, vítimas de discriminação em função da idade,  impedidos duma salutar progressão na carreira. Segundo a investigadora da FFMS Susana Schmitz, “o idadismo pode constituir um obstáculo à retenção de talento, levar a que os trabalhadores mais jovens não se sintam valorizados” que alerta para a necessidade das empresas criarem mecanismos para quebrar estereótipos, tão funestos quanto o racismo ou o sexismo. Ouvi esta manhã na Rádio Observador, palavra d’ honra...

Assim como assim, neste mês de batizados nas aldeias eu prefiro trazer à colação deste blog a decadência sinalizada pela multiplicação de nomes próprios absolutamente inéditos como Bekoloya, Karen, Priscilla, Jéssica, Ticiane, Vivienne, Heltrício, Kévim, Jovânio, Kellys, Suellen, Aarica, Abimaela, Basiru, Daizara, Elisângela, Silivondela, Deocliciano, uma criatividade capaz de pasmar o mais experimentado padre ou notário. Por mim, evito adjectivar tanta imaginação. A minha teoria, partilhada à mesa do café em gozo de férias, é a de que os abençoados progenitores dessas crianças, intuindo a raridade estatística que é por estes dias trazer uma nova vida ao mundo, o afirmam pela originalidade do nome. Talvez se pretenda deste modo declarar os filhos como únicos, tesouros absolutamente singulares como se fossem de geração espontânea. Ou um fenómeno do hiperindividualismo a que a História no Ocidente hedonista nos conduziu e produz.

Quanto à originalidade de cada criatura, oriundo duma família cristã, cedo compreendi como cada um acontece único na história, que “até os fios de cabelo da vossa cabeça estão todos contados. Não temais!“ (Lucas 12 – 7), mas que, sendo filhos únicos de Deus só nos realizamos em face dos outros e da história comum que nos cabe fazer parte e construir com os dons de cada um. Somos todos herdeiros e deixamos legado. Talvez por isso os meus nomes próprios tenham sido várias vezes repetidos por várias gerações atrás.

Curiosamente, na minha ascendência tanto materna quanto paterna, as criancinhas eram baptizadas com nomes herdados dos avós ou dos padrinhos, sinalizando a continuidade do sangue, como se quisessem atribuir a cada novo Ser um lugar numa corrente construtora de uma história feita de pertenças e dependências. Como antigamente se tinham muitos filhos, havia sempre lugar a alguma improvisação nos nomes dum ou doutro, mas quase sempre em homenagem a um determinado santo, ou personagem histórica, quase sempre bíblica, que fosse inspiradora de heroicidade e erudição. Nessas famílias seguiam-se regras bastante claras de atribuição do nome ao primogénito em que se incluía o nome da devoção familiar e dos seus santos patronos. Por exemplo, no caso da família da minha mãe, o nome do filho mais velho, em seis gerações, variou exclusiva e intercaladamente entre José Joaquim e João António, facto que reflecte uma circular geometria harmónica, que subsiste até aos dias de hoje, com o significado da continuidade de uma história cujo simbolismo ultrapassa a contingência do individuo circunstancial no tempo.

Se os novos e estrambólicos nomes próprios forem apenas isso, inéditos, espera-se que deixem pegadas de memória. Só aprendemos a construir o futuro com memória, dos erros e sucessos. É disso que é feita uma Família, uma Comunidade, uma Nação. Daí que espera-se que cada nome conte uma história e que conte para a História.

Na fotografia: o meu filho e sobrinhos em férias numa terriola do interior de Portugal. Todos vamos para velhos... 


9 comentários

Sem imagem de perfil

De Silva a 13.08.2024 às 19:50

Não há reformas estruturais (abolição do salário mínimo, liberalização dos despedimentos e abolição dos descontos e outras reformas estruturais) e consequentemente não há investimento suficiente, ou seja, não há criação de novos postos de trabalho em número suficiente, ou seja, a competição pelos postos de trabalho existentes é enorme.


A aberração dos nomes, é claramente uma política com o objectivo de destruir a alma do país e consequentemente do próprio país, apoiada/implementada por António Guterres que em 6 escassos anos destruiu 10 anos de cavaquismo (naquilo que podia destruir) e lançou as bases para o surgimento de José Sócrates e posteriormente de António Costa.


O nível de pulhice e de perigo de António Guterres é elevadíssimo.

Comentar post



Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

Contacte-nos: bloguecortafitas(arroba)gmail.com



Notícias

A Batalha
D. Notícias
D. Económico
Expresso
iOnline
J. Negócios
TVI24
JornalEconómico
Global
Público
SIC-Notícias
TSF
Observador

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • vasco Silveira

    Caro SenhorPercebe-se (?) que a distribuição cultu...

  • vasco Silveira

    "..., não podia ter sido mais insólita, mais bizar...

  • Anonimo

    Como (ex) vizinho de duas, tirando o cheiro pela m...

  • Fernando Antolin

    Muito bem! É sempre um gosto lê-lo/ouvi-lo.Cumprim...

  • Beirão

    Ontem como hoje como sempre os trastes cobardes nu...


Links

Muito nossos

  •  
  • Outros blogs

  •  
  •  
  • Links úteis


    Arquivo

    1. 2024
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2023
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2022
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2021
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2020
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2019
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2018
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2017
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2016
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2015
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2014
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2013
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2012
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2011
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2010
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2009
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2008
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2007
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D
    235. 2006
    236. J
    237. F
    238. M
    239. A
    240. M
    241. J
    242. J
    243. A
    244. S
    245. O
    246. N
    247. D