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Sempre considerei que Ramalho Ortigão é subvalorizado, uma sombra por detrás do colossal amigo Eça de Queiroz, mas também encoberto pela originalidade poética de Antero, ou pela produção de Oliveira Martins. Injustamente assim acabou. Ramalho não foi romancista de craveira, porque a objectividade da análise não se coadunava com as divagações da imaginação, nem um lírico, porque às reminiscências poéticas preferia a sobriedade das ideias. Podia ombrear com os melhores historiadores, mas não foi prolífero nem profundo no campo. E, contudo, dentro do estilo foi o mais inovador. "As Farpas" não seriam o mesmo sem o seu brio. No ensaio foi primoroso e na crónica um esteta. E o que deixou escrito em vários volumes recolhe a melhor prosa do século XIX.
Ramalho estava ao nível do humanista, tivesse nascido em Inglaterra seria o protótipo do cavalheiro vitoriano, versado nas artes, ciências e letras. Elegante e sofisticado comprazia às andanças da boa sociedade. Dedicou páginas ao lazer burguês de forma tão incisiva como criticou aquela mesma sociedade. Foi homem público e tribuno. Um senador. Não ficou retido nas bibliotecas participando na vida cívica.
Autodidacta multifacetado, sobre tudo escreveu. A análise apurada deslocava-se por dimensões variadas do conhecimento. Politicamente muitos o apodam de republicano, e contudo nunca o foi, como Eça lembrou. Ramalho não atacava a monarquia, mas a partidocracia. E mais tarde opõe-se à República. Foi coerente. Em carta ao jovem João do Amaral aplaude o Integralismo Lusitano, um último fôlego de um velho patriota redimido. Talvez pela independência, superioridade intelectual e espírito crítico tenha acabado renegado. Cavalheiresco e académico, elegante e erudito, Ramalho Ortigão foi talvez o intelectual que melhor soube encarnar o espírito do século XIX português.
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