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Recordar Gonçalo Ribeiro Telles

por Daniel Santos Sousa, em 26.05.25

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Gonçalo Ribeiro Telles nasceu em Lisboa a 25 de Maio de 1922. Mais do que o militante, ou melhor dizendo, o resistente monárquico, também o percursor da defesa do ambientalismo, da ecologia e do municipalismo, afinal nada mais do que a interpretação escorreita do organicismo tradicionalista e das teses integralistas influindo na contemporaneidade política. 

Lembrando que antes das teses ecologistas gravitarem para a esquerda (e extrema-esquerda) tiveram na sua génese movimentos à "direita", críticos da revolução industrial, desde a militância aristocrática do grupo Young England (e do 'social Toryism'), ao legitimismo francês e aos românticos anti-modernos. Na essência e com as especificidades próprias, os arautos da contra-revolução e do tradicionalismo organicista anti-industrial continham muitos dos elementos que hoje poderiam ser reivindicados por grupos ambientalistas.

 Herança também partilhada pelo Integralismo que idealizava essa sociedade assente nos corpos intermédios, na valorização do mundo rural e na defesa das liberdades locais, opondo-se ao individualismo desenraizado e a um progresso desenfreado e contrário às singularidades nacionais. Como nos lembra a máxima do tradicionalismo, "a tradição é um passado que merece ser futuro". 

Assim, Ribeiro Telles estabeleceu a ponte entre as gerações integralistas, desafiando os novos ventos e assumindo a postura derradeira em nome da terra portuguesa. Postura de combate, num momento em que a revolução de 1974 radicalizava posições e a possibilidade de restaurar a monarquia parecia cada vez mais longínqua. 

Dos monárquicos não alinhados com o Estado Novo formaram-se grupos e organizações que constituíram o PPM (nos antípodas do que hoje se tornou), onde ainda Rolão Preto brandava o seu verbo venturoso, João Camossa o seu idealismo anarco-comunalista, e Barrilaro Ruas o pensamento exacto e articulado. Mas Ribeiro Telles foi muito mais além do que os teóricos e sonhadores e realizou no espaço público o seu pensamento. Hoje faz-nos muita falta. Foram homens de outros tempos, sem dúvida.


3 comentários

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De cela.e.sela a 26.05.2025 às 10:41

lembro a Família Rebelo do Gavião.
não sou a favor nem contra.
os ecologistas que vejo são autênticas anedotas ambulantes.
sempre levei a sério GRT. 
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De henrique pereira dos santos a 26.05.2025 às 10:44

Muito bem.
Ribeiro Telles teve uma intuição (ou uma convicção?) diferente dos seus correligionários em relação à liberdade, o que lhe permitiu transitar do Estado Novo para a Democracia sem desconfiança por parte dos novos donos do regime, apesar do seu fundo manifesta e profundamente conservador (os sovietes e o rei, era uma boa síntese do que conseguiu que fosse a sua imagem, depois do 25 de Abril).
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De Francisco Almeida a 27.05.2025 às 10:03

Soviete significa conselho. Na prática um grupo de militares não eleitos que detinham o poder real. Tal qual o nosso Conselho da Revolução, que veio a público seis dias depois do 25 de Abril, quando Palma Carlos se demitiu de primeiro-ministro ao perceber que não tinha qualquer poder. 
No organicismo de Rolão Preto, seriam o Rei e os seus concelhos, na melhor tradição portuguesa. Concelhos com "c" e nada a ver com conselhos com "s". Do trocadilho entre concelhos e conselhos, nasceu essa do Rei e os seus sovietes. Não foi inocente, bem pelo contrário. Fui dirigente do PPM e embora na lista de Lisboa, fiz campanha em Leiria e pude verificar que boa parte das pessoas nos considerava comunistas com rei. Cortesia do CDS local, de facto da União Nacional travestida.
O PPM era formalmente um conjunto de três organizações monárquicas opositoras ao Estado Novo e com actuação política anterior ao 25 de Abril mas, na realidade, era muito mais do que isso. Diria que o único ponto universalmente aceite era a democracia. De resto havia quase de tudo, até os que entendiam que um partido monárquico não fazia sentido(*) mas, no momento era necessário para combater a ideia vigente de que todos os monárquicos se identificavam com o Estado Novo. Nesse sentido, a figura reverencial de Rolão Preto encaixava-se bem mas de certeza que Ribeiro Telles não aprovava nem os seus métodos (adaptados à 1ª República) nem certamente o seu sindicalismo. Como certamente havia muitos que desaprovavam algumas ideias lançadas por Ribeiro Telles, como, por exemplo, a nacionalização de solos urbanos incluídos em planos de urbanização, para evitar a especulação.
(*) Muitos pensavam que os monárquicos se deviam dividir pelos partidos existentes sem ter um partido próprio. Como curiosidade, cingindo-me a titulares, o PPM tinha 3, um conde e dois viscondes (sei-o bem porque era responsável pelos ficheiros que transportei para lugar seguro no 11 de Março), um número muito menor dos que gravitavam pelo PS e PSD. Como curiosidade, até o Comité Central do PCP (o alargado não o executivo) tinha um conde.

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