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Rui Pedro Antunes é editor de política do Observador, isto é, é um dealer dos viciados em intriguice e piadismo a que agora se chama jornalismo político.
É, portanto, uma pessoa qualificada para fazer uma radiografia da coisa.
Ontem esmerou-se e tinha um artigo de opinião, sobre o qual depois falou à tarde numa coisa da rádio Observador chamada "o colunista do dia".
"quando duas pessoas se acusam mutuamente de mentir, só os jornalistas podem seriamente apresentar as versões dos factos".
Ora aqui está, em duas linhas, a grande base teórica desta calhandrice a que chamam jornalismo político: quando duas pessoas dizem coisas diferentes sobre uma coisa em que só os dois participaram, podemos dar como garantido que só os jornalistas, que não estiveram lá, "podem seriamente apresentar as versões dos factos".
Note-se bem, as pessoas ouvirem as duas pessoas envolvidas não serve para nada, é preciso que os jornalistas apresentem seriamente as versões dos factos, não é que verifiquem os factos verificáveis e deixem os outros em paz, é que apresentem as versões dos factos.
Este pessoal da calhandrice acha que os seus leitores, como eles, estão mais interessados nas versões que nos factos.
Dir-se-ia que é má vontade minha, não é bem isso que o senhor quererá dizer.
"Se um jornalista estiver fechado numa sala três horas, se não ouviu a reação de um outro político, se não leu um documento oficial que entretanto já chegou à redação, tem de ser avisado para estar o mais informado possível. No caso da política, pode apenas ser informado do que disse outro líder partidário, alguém do partido do visado, de uma promulgação presidencial, entre um sem-número de hipóteses".
Como se vê, não, não é má vontade minha, o que preocupa estes intriguistas não é o confronto entre o que dizem e, sobretudo, fazem os políticos e a realidade das pessoas comuns, o que os preocupa é o confronto do diz que disse da bolha em que convivem com os políticos, independentemente da realidade concreta sobre a qual a política actua.
"Quando um ministério não responde ou só responde ao que lhe interessa, quando um ministro limita o número de perguntas a menos do que os dedos das duas mãos (ou até uma) ou um dirigente nacional decreta silêncio aos seus companheiros de partido, são os políticos que estão a contribuir para que haja menos informação".
É isto, informação é o que dizem os habitués da bolha político-mediática em que se move o pessoal dos mexericos (de que aliás já se queixava Lou Reed, há muitos anos "Just a New York conversation, gossip all of the time/ Did you hear who did what to whom? Happens all the time/ Who has touched and who has dabbled here in the city of shows?/ Openings, closings, bad repartee, everybody knows").
Que informação não seja este diz que disse mas a realidade das pessoas comuns afectadas pelas decisões destas pessoas é uma ideia que dificilmente entra na cabeça destes jornalistas ofegantes (sim, nesse ponto em concreto, Montenegro tem toda a razão), que acabam a protestar com Montenegro por se recursar a alimentar o circo montado por Ventura.
Circo esse, aliás, que só existe porque estes quadrilheiros reagem pavlovianamente a qualquer mexerico "Sobre o novo arrufo com André Ventura, Luís Montenegro tem, aliás, optado por uma postura de não falar do assunto para não o alimentar, mas sabe que quando duas pessoas se acusam mutuamente de mentir, só os jornalistas podem seriamente apresentar as versões dos factos. Para isso precisam de informações credíveis, de detalhes, de dados para que os possam apresentar aos portugueses. Valorizar o jornalismo é isso: responder às perguntas dos jornalistas. Enfim, informar".
Resumindo, neste mundo de coscuvilhice, se os jornalistas não informam é porque o primeiro ministro faz o que entende em vez de fazer os que os jornalistas entendem.
Uma radiografia poderosa deste mundo do jornalismo político, feita por um dos seus cultores mais empenhados, obrigado, Rui Pedro Antunes.
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