Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
A pandemia provocou o maior fenómeno de histeria de massas de que me lembro. Alguém gritou “a saúde em primeiro lugar”. E assim foi. Num movimento sincronizado a nível mundial. Os Chineses confinaram, os outros imitaram. As democracias quiseram provar ser tão eficazes (duras) como as autocracias. O novo slogan, “derrotar o coronavírus, custe o que custar”, foi pacificamente aceite, legitimando todas as consequências das quarentenas forçadas.
Não há dúvidas que o maremoto que nos trouxe ao ponto em que estamos, correspondeu à vontade da grande maioria da população. Eu incluído. A vertigem do medo autorizou-nos permitir e fomentar o absolutismo e a aceitar graves violações às liberdades e direitos individuais.
Na discussão do essencial, o isolamento, as respostas não alinhadas são ignoradas ou desacreditadas, lembrando o Estalinismo nos seus melhores dias. A Suécia é histericamente atacada por não seguir o isolamento, apesar de resultados sanitários normais, apresentando custos económicos, sociais e políticos muito inferiores aos impostos pela globalidade dos outros países. O comprovado sucesso de alguns países Asiáticos (Coreia do Sul, Singapura e Taiwan) é considerado inimitável no Ocidente e por isso liminarmente ignorado.
É imposta a primeira verdade inquestionável, a partir da qual tudo se desenrola sem reflexão adicional: “não há vida fora do isolamento social”. Esta certeza é acompanhada de uma ignorância espantosa, em relação a aspectos vitais e básicos, para legitimar qualquer decisão informada. Ainda não sabemos a verdadeira taxa de mortalidade, o número real de infectados, a estimativa das consequências sanitárias das políticas de isolamento (piores condições de vida, fome, subnutrição ou aumento de distúrbios psiquiátricos). Desconhecemos os verdadeiros custos económicos da estratégia seguida, quando (e se) teremos vacina ou tratamento. Não sabemos se, ao fim de 8 semanas, a severidade da infecção não desaparece simplesmente, com ou sem confinamento, como os dados existentes parecem indicar, se o calor diminui o surto ou se vamos ter réplicas ou não. Os pressupostos que justificam o dogma hoje instituído são frágeis, pelo que é no fundamentalismo, na recusa em discutir ou admitir diferentes realidades e dados, que nos refugiamos, concentrando todas as nossas energias na acção preconizada: isolar, isolar, isolar!
Apesar de fortes duvidas sobre a pertinência sanitária das medidas que se impuseram como verdades indiscutíveis, não é esse o meu tópico de hoje.
A minha intenção é partilhar a minha angustia pela facilidade com que aceitamos o fundamentalismo e, com base neste, nos deixamos embalar na aceitação do absolutismo.
Os Estados de Emergência são um dos novos normais na Europa. E quando acabarem, tudo indica, serão substituídos por outros estados de excepção que limitam a liberdade dos cidadãos, até á erradicação definitiva do vírus. Há apenas uma verdade absoluta: o combate ao coronavírus parece justificar tudo. Até limitações severas às liberdades do cidadão e á suspensão dos seus direitos básicos.
Acredito firmemente que o confinamento é um bloqueio eficaz á contaminação. Sem contactos com contaminadores parece difícil existir Infecção.
Acredito, também, que as pessoas são (ou deviam ser) livres de decidir se pretendem aceitar o confinamento ou, pelo contrario, decidem prosseguir com a sua vida. Há vários argumentos racionais para justificar uma escolha deste tipo. Mas a única justificação necessária é o direito de cada individuo decidir livremente o que quer fazer, desde que não prejudique gravemente terceiros. A critica fácil ao argumento apresentado é a de enfatizar o prejuízo para terceiros do não confinamento. Mas os confinados não precisam de se encontrar com os não confinados, pelo que não podem ser infectados por eles. Onde está então o prejuízo? Porque é maior o direito de quem quer ficar confinado do que o direito de quem não pretende abdicar da sua liberdade de movimentos e de acção? Os direitos das populações são suspensos por técnicos não eleitos ou políticos que não foram eleitos na expectativa de tolherem injustificadamente as liberdades dos cidadãos?
Dirão os partidários do confinamento que os libertários irão sobrecarregar o sistema nacional de saúde e implicar um custo de tratamento superior. Se fosse esse argumento castrador, a sociedade, no limite, poderia advertir e isentar de tratamento medico os revoltosos. Como se pode defender a eutanásia e não permitir a liberdade a cidadãos que, apenas de forma residual, pode redundar na sua morte, depois da aceitação dos riscos?
Quando aceitamos limitações da nossa liberdade, não podemos pretender ser justo e necessário, que essas limitações atinjam outros. Já para não lembrar que, depois de limitar uma liberdade, não seja outra qualquer, de forma também muito justificada, a cair. Piano Piano se va lontano. Que o digam os Húngaros e os Polacos.
O que é mais perigoso, a pandemia ou limitações questionáveis à liberdade dos cidadãos? Eu não tenho dúvidas: quero a minha liberdade de volta.
José Miguel Roque Martins
Convidado Especial*
* As opiniões manifestadas nos textos de convidados com a assinatura "Corta-fitas" só comprometem os seus autores.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Continuação Para esta manipulação do parlamento co...
A 29 de Julho de 1976 o comunista José Rodrigues V...
Vou fazer uma lista com as asneiras, só as grossas...
Será necessária uma nova, delicada, definição de c...
As divisões territoriais históricas são diferentes...