por Corta-fitas, em 12.07.17
Para quem se digna pensar e discernir minimamente sobre a origem do aroma eternamente fétido que teima em pairar em Portugal não pode certamente ignorar que o mesmo tem origem maioritária nos partidos políticos. Enquanto nas outras áreas a realidade vai-se impondo de uma forma ou de outra através da remoção das ervas daninhas, nos partidos a coisa parece de tal forma empedernida que a sua remoção parece impossível.
Por estes tempos os partidos têm como perfis de referência caracteres que não são propriamente do mais recomendável. Não que noutros sectores da sociedade eles não existam, mas parece que nos partidos existem agora forças de tal forma poderosas que impedem o florescimento de modelos mais virtuosos. Como qualquer sistema fechado com vida e mecânicas próprias, a subjugação da meritocracia e do conhecimento aos ditames e regras próprias da seita resultam a prazo em resultados absurdos. Alguns exemplos:
- Inconcebível a sequência de estroinices que levaram ao aumento desmesurado da despesa pública com início da década de 90. O resultado for o pedido de resgate em 2011.
- Impensável como este governo opta por cortar no regular funcionamento do Estado para distribuir uns quantos amendoins como moeda de troca de poder. O resultado é Tancos e parcialmente Pedrogão Grande. (Embora os cortes no funcionamento do Estado já antes se tivessem iniciado, neste governo atingiram patamares nunca antes imaginados)
- Irresponsável como o PCP e o BE sempre gritaram e espernearam a toda a hora sem nada proporem. E quando digo sem nada proporem, refiro-me a qualquer coisa com cabeça, tronco, e membros. O resultado é a vulgarização da banalidade e da irresponsabilidade.
- De loucos como ninguém se preocupa seriamente com um país onde a taxa de poupança é de 4% do rendimento disponível e ainda por cima se fala constantemente nas virtudes do consumo privado (até na Direita!). Este é talvez o melhor indicador de que tudo vale para sobrepor a ilusão à razão. O resultado é a dependência financeira externa.
- Asquerosa a promiscuidade entre o poder político e o poder económico. O resultado é o capitalismo de compadrio que produz dívidas monstruosas, berbicachos judicias e outros fardos.
- Impressionante a facilidade como se corre com um ministério competente em benefício da parte que desencadeia uma crise política. O que o CDS fez ao ex-Ministro Álvaro Santos Pereira e sua equipa é uma marca que desonra a Direita. O resultado é que a irresponsabilidade pode também entrar pela Direita.
- Incrível como muitos julgam gozar de prerrogativas especiais na sua relação com o Estado. É velha a frase “Um partido é um ónibus que leva aos empregos” (Eça de Queiroz dixit). O resultado é a família César e a jactância deste.
- Inacreditável como a cobardia se sobrepõe à coragem, ou como a “gestão política” se sobrepõe à Política. O resultado é um Primeiro-ministro em fuga para férias no momento mais duro do governo.
Obviamente impõem-se perguntas. Que gente é esta? Como se desenvolve? Como extrai-los dos partidos por troca de perfis normais? Este é o ajustamento que falta fazer na sociedade portuguesa. Presumo que hercúleo, e sinceramente não sei como terá de ser feito.
Pedro Bazaliza
Convidado Especial