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A dita «recepção ao caloiro» não era coisa de que se falasse então. Havia, é certo, a obvia curiosidade de conhecer os recém-chegados à Faculdade - sobretudo as recém-chegadas - e umas inofensivas ameaças sobre os horrores da colher de pau; tudo cessava quando as jovens estudantes aceitavam como protector um colega mais velho, que era o que se queria. E depois tudo se processava pacíficamente. Lá para Março, dois meses antes da Queima das Fitas, o bando - uns trinta ou quarenta, oriundos dos mais diversos cursos - juntava-se à noite na cervejaria do costume, onde permanecia mais ou menos tempo, conforme as posses. Seguiam-se as serenatas, debaixo de qualquer desses lares que acolhiam meninas estudantes de fora da cidade, entregues à vigilância das freirinhas. Ninguém via mal nisso, nem mesmo a vizinhança, cantava-se fado, dizia-se poesia e era-se prendado com cestinhos descidos das janelas por cordas, e contendo cerveja, fatias de bolos, recadinhos em papeis espetados em peluches...
É claro, no dia em que se descobriu as saliências na parede por onde alcançar o primeiro andar e foi iniciada a escalada e, de gatas pelo patamar, já havia quem entrasse nas varandas amorosamente abertas pela ala feminina da brincadeira - nada espantou a visão das luzes azuis do carro da polícia aproximando-se velozmente. Foi só o incómodo de saltar abaixo, galgar o muro do quintal e correr e dispersar pelas sucessivas esquinas da rua. A Natureza fora escrupulosamente respeitada: os guardiões da ordem pública contentaram-se com a debandada, porque também eles já tinham passado pelos vinte anos; a rapaziada talvez ainda partisse para a cantoria em outro estabelecimento congénere; as religiosas, refeitas do susto e cumprido o ralhete às suas pupilas, recolhiam à cama; e as pupilas, rezadas em silêncio as devidas pragas às religiosas, à cama se resignavam também, esperançosas no dia seguinte.
A Queima das Fitas, na primeira semana de Maio, constituiria a apoteóse, recheada de acontecimentos interessantes como o "baile de gala", a "sarau cultural" (que rendia sempre uma namorada, vá lá saber-se porquê), o "rali paper" e outras bizarrias obsoletas. Um "queimódromo" era algo de impensável e perfeitamente dispensável segundo os usos da época.
Isto dito, percebe-se o que a "praxe", de que tanto e fala, não é. Não é, minimamente, a emanação do espírito académico de sempre. Não é mais do que uma repugnante e selvática demonstração de estupidez, ordinarice e falta de graça e imaginação.
Qualquer coisa que se baralha entre a prodigalidade de estabelecimentos de ensino superior e, sinceramente, explica em muito o desemprego a que está destinada parte substancial dos estudantes que o frequentam.
No mais, associar a tragédia na Praia do Meco à "praxe", ainda assim parece absurdo e matéria apenas para vender jornais.
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