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A minha área de especialização em Psicologia é Psicologia Social e das Organizações. Dentro da Psicologia Social debrucei-me sobretudo sobre a Psicologia da Persuasão e Comportamento do Consumidor, mas isso agora não interessa.
Há experiências muito interessantes feitas no âmbito da Psicologia Social, quem se interessar pelo tema encontra imensos artigos na Internet. Das muitas, e fascinantes, experiências a minha favorita é a de Milgram acerca da obediência à autoridade. Essa experiência foi replicada várias vezes e com diferentes variantes, identificando várias variáveis moderadoras, mas adiante.
Muitos conhecerão a experiência, pelo que a refiro apenas em traços gerais, conforme disse há imensa informação na net para quem se interesse pelo tema. Milgram era de origem judaica, os seus pais mudaram-se para os Estados Unidos aquando da Grande Guerra. Vários dos seus parentes viriam a morrer nos campos de concentração durante a Segunda Guerra. Impressionado pelo facto de “pessoas normais” terem executado ordens tão sinistras e macabras, Milgram procurou compreender os mecanismos psicológicos que estavam por detrás do fenómeno.
A experiência de Milgram consistia basicamente em pedir a voluntários para uma alegada experiência de aprendizagem que ministrassem choque eléctricos de intensidade crescente, sempre um indivíduo que estava a ser interrogado respondia de forma errada. O indivíduo que “levava” os choques estava em outra sala pelo que aquele que lhe aplicava os choques não o podia ver, contudo podia-o ouvir. De facto, não eram aplicados choques nenhuns, mas o indivíduo simulava gritos de dor, como se efectivamente os estivesse a sofrer. Se o “aplicador dos choques” se sentisse desconfortável estava lá o alegado responsável pelo “estudo de aprendizagem” e pedia ao indivíduo para continuar. E a verdade é que a esmagadora maioria das pessoas continuava. Mesmo quando parecia que já tinham morto o indivíduo que recebia os choques, continuavam a aplicá-los de acordo com as ordens recebidas.
A partir do estudo, Milgram elaborou a “Teoria da Agência”, que sugere que as pessoas permitem que outros direcionem suas acções, porque acreditam que a figura de autoridade é qualificada e aceitará a responsabilidade pelos resultados. Os estudos de Milgram ajudam a explicar como as pessoas podem tomar decisões contra sua própria consciência, como participar numa guerra ou num genocídio.
Por vezes, quando vejo a forma totalmente acrítica como as pessoas recebem, e aceitam religiosamente, todas as instruções no que respeita à pandemia, dou por mim a pensar que parece que estamos a viver numa experiência de Milgram feita à escala global.
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