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É muito frequente ouvir "não entro em polémicas" a propósito de uma opinião que tenha escrito ou dito, nomeadamente na área da conservação e da gestão da paisagem, que são áreas nas quais tenho alguma competência técnica.
Não sei como é fora de Portugal, mas a mim parece-me que esta resposta frequente é mais uma declinação do famoso "o respeitinho é muito bonito" (por vezes, a observação é mais sofisticada e diz-se que não se pode deitar fora o bebé com a água do banho) que nos faz achar que porque o interlocutor é primo da cunhada da filha do senhor da mercearia, não devemos discutir o que diz ou faz.
Daqui resulta um ambiente social em que se aprende pouco e se evolui devagar, ao misturar-se a necessária contenção e boa educação de respeitar a pessoa que está à nossa frente e a desnecessária contenção e ausência de crítica de opiniões concretas dessa pessoa.
Na área da conservação, é quase um sacrilégio alguém dizer que é inacreditável que uma associação como a Liga para a Protecção da Natureza, ao fim de 75 anos, apenas tenha uns poucos milhares de hectares seus para dedicar à conservação e, pior, na esmagadora maioria dessas terras, a informação sobre objectivos, trabalho feito, acções programadas e resultados seja sistematicamente desvalorizada, não sendo fácil a qualquer pessoa saber o que se passa nessas terras.
A Rewilding Portugal, ao fim de meia dúzia de anos é dona e gere uma área de conservação da mesma ordem de grandeza, a Associação Transumância e Natureza ao fim de 23 anos é dona e gere talvez um terço da área da LPN, a Milvoz, em menos de dez anos comprou umas dezenas de hectares, a Montis ao fim de dez anos tem menos de 20 hectares seus e gere uns 300, portanto é perfeitamente legítimo perguntar por que razão as associações de conservação mais antigas e mais clássicas de Portugal (frequentemente, também as mais ricas) nunca se interessaram por gerir directamente terra, preferindo concentrar-se em tentar impor modelos de gestão a terceiros, frequentemente pela via da influência sobre o Estado.
Cada uma das associações que citei no parágrafo anterior tem objectivos diferentes e modelos de gestão diferentes, embora tenham todas objectivos de conservação da natureza a atingir pela gestão directa de terras.
É por isso inevitável que tenham divergências, que adoptem técnicas de gestão diferentes, ou mesmo que definam objectivos concretos diferentes: a Rewilding Portugal quer renaturalizar o vale do rio Côa e compra terrenos com esse objectivo, a Milvoz quer conservar terrenos com elevado valor de conservação na região em volta de Coimbra, a ATN quer renaturalizar as propriedades que foi comprando de modo a fazer um núcleo extenso e concentrado de elevado valor de conservação, a Montis compra ou gere terrenos em qualquer lado, preferencialmente terrenos sem interesse nenhum, mesmo do ponto de vista de conservação, procurando criar valor através da gestão, e poderia ir acrescentando outras organizações, como a Fundação Terra Agora, que passou a ter umas centenas largas de terra para gerir, há não muito tempo.
Se a Montis (a que estou mais ligado, de uma maneira ou de outra já tive contactos e, às vezes, bem mais que isso, com todas as organizações que citei) procura fomentar a discussão das suas opções (por exemplo, publicando relatórios como este sobre a reconversão de eucaliptais em duas das suas propriedades), na maior parte das organizações, o escrutínio, a discussão de resultados, a mera observação crítica de algumas das opções, é considerado polémica estéril e indesejável.
E isto é verdade neste meio que conheço bem, mas é extensível a grande parte da sociedade, em Portugal.
O resultado prático é que temos muita diversidade, o que é bom, mas progredimos muito mais devagar do que seria possível porque dessa diversidade não resulta uma discussão franca e alargada de opções e resultados, mas uma defesa corporativa de cada uma das organizações, do seu modelo e das pessoas que o executam (a persistência, por anos e anos, das dificuldades e entraves que o ICNF levanta ao uso extenso de fogo controlado em povoamentos florestais, por exemplo, só é explicável desta forma, tal como a persistência de outras políticas públicas de gestão do fogo que manifestamente não atingem os resultados esperados).
E, com isso, aprendemos todos muito menos do que poderíamos tendo em conta a diversidade de experiências que temos.
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