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Piadas e coisas sérias

por henrique pereira dos santos, em 21.04.22

Maria de Lurdes Rodrigues não vê nada de relevante no processo de financiamento do tal centro do ISCTE.

É de louvar a coerência de Maria de Lurdes Rodrigues que já em tempos não via nada de relevante nos processos da Parque Escolar.

Piadas à parte, olhemos com atenção para estas declarações que transcrevo:

"É um projecto que é avaliado competitivamente, teve uma avaliação, mas infelizmente na Região de Lisboa e Vale do Tejo o financiamento estrutural é de apenas 40%, fica o problema da contrapartida nacional dos 60% ... o ISCTE, não tendo a possibilidade de, com receitas próprias, cobrir a contrapartida nacional ... escrevo uma carta ao Senhor Ministro da Ciência dando-lhe a possibilidade de um contraro programa para diferentes projectos e o ministro da ciência decide que o contrato programa deve ser celebrado para a obtenção da contrapartida nacional deste projecto".

O que está aqui dito é de conhecimento comum, mas é tão extraordinário que vale a pena tornar bem claras as responsabilidades políticas destas opções.

A União Europeia, e bem, canaliza prioritariamente os fundos estruturais para as regiões que precisam de se desenvolver.

Uma das formas de o fazer é, evidentemente, ter percentagens de financiamento dos projectos diferenciadas, partindo do pressuposto, correcto, de que as regiões mais ricas não só não precisam de tanto dinheiro, como têm recursos próprios para fazerem os investimentos que entendem necessários.

Ora o que esta cândida senhora descreve é a forma como o Estado português esbulha as suas regiões mais pobres para torpedear as políticas comunitárias de coesão, usando os impostos de todos, portanto também das regiões mais pobres, para colmatar as deficiências financeiras de projectos executados nas suas regiões mais ricas. Deficiências financeiras essas que são, na sua origem comunitária, exactamente uma das formas de reequilibrar o desenvolvimento económico entre regiões mais ricas e mais pobres.

Agora é uma questão de olhar para o conjunto de situações deste tipo e de outros - que inclui, por exemplo, justificações ambientais como a descarbonificação para dar prioridade ao financiamento do Metro de Lisboa face ao "transporte a pedido" nas regiões de baixa densidade, para ultrapassar as limitações das políticas de coesão ao financiamento das regiões mais ricas - e facilmente se conclui que a macrocefalia do país não é uma herança da capitalidade de um império global, é mesmo uma escolha das actuais elites portuguesas.


16 comentários

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De balio a 21.04.2022 às 11:41


o Estado português esbulha as suas regiões mais pobres para torpedear as políticas comunitárias de coesão


Não me parece que isto seja necessariamente isso.


Suponhamos que em vez do ISCTE se tratava de uma instituição universitária pública (isto é, estatal) em Trás-os-Montes. A União Europeia financiava, digamos, 80% e exigia que a instituição financiasse os restantes 20%. Não seria correto o Estado meter esses 20%?


A mim parece-me correto que o proprietário da instituição se esforce por pôr o dinheiro que a União Europeia não põe.


É claro que, havendo diversos pedidos de dinheiro, é correto que o Estado tenha um mecanismo de discriminação positiva que dê mais dinheiro a projetos em regiões desfavorecidas. Mas, a não ser que se demonstre que havia projetos concorrentes da mesma valia em tais regiões, nada vejo de errado em que o Estado financie um projeto em Lisboa.


(Disclaimer: nada tenho a ver com o ISCTE.)
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De henrique pereira dos santos a 21.04.2022 às 12:12

Ter recursos próprios para financiar 20% de um projecto ou 60% do projecto são coisas diferentes, tenho a certeza de que até tu reconheces isso.
Atribuir 80% de financiamento nuns lados e 40% nos outros porque há mais riqueza nos segundos que nos primeiros tem como objectivo aumentar a capacidade das regiões mais pobres acederem a projectos que as podem beneficiar, tenho a certeza de que até tu reconheces isto.
Usar o dinheiro do Estado central para repôr a situação de desequilíbrio criada pela diferença relativa de riqueza é, na prática, contribuir para que as regiões mais ricas se tornem mais ricas e as mais pobres permaneçam, em termos relativos, mais pobres, e tenho a certeza de que até tu sabes que é assim.
O que manifestamente não entendo é para que raio te entreténs a fazer comentários a fingir que não percebes nada do que se passa à tua volta, quando não é verdade.
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De balio a 21.04.2022 às 14:36


Continuo a não entender a argumentação do Henrique.
Suponhamos que o ministro recebe dois telefonemas, um de Lisboa e o outro da Guarda. O de Lisboa diz "temos um projeto muito bom que custa 100, a União Europeia só financiou 40, pode arranjar-nos os 60 que faltam?" E o da Guarda diz "temos um projeto muito bom que custa 100, a União Europeia só nos dá 80, pode-nos dar os 20 que faltam?" O ministro, racionalmente, decide dar apenas os 20 ao projeto da Guarda, e ainda fica com mais 40 para distribuir por outros dois projetos, em Beja e em Castelo Branco. Ou seja, em vez de financiar um só projeto em Lisboa, o ministro financia três projetos em cidades do interior.
Mas suponhamos antes que, como parece ter sido o caso, o ministro recebe somente o telefonema de Lisboa. Somente um. Será que o ministro deve recusar os 60 ao projeto de Lisboa em nome de projetos alternativos que não existem, nem se sabe se virão a existir?
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De pitosga a 22.04.2022 às 11:40


O gaijo é estúpido. O seu conhecido já o escreveu.
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De Tiro ao Alvo a 21.04.2022 às 16:01

O Henrique tem toda  a razão, tanto na crítica que faz aos governantes portugueses para desvirtuarem as políticas comunitárias que visam o desenvolvimento das regiões mais pobres, como na crítica que faz ao balio, sempre lesto a defender o indefensável.

Neste particular, em Portugal tanto os media, como as oposições aos governos, assobiam para o lado - é bem sabido que uma grande fatia dos apoios comunitários dirigidos à agricultura fica pela Região de Lisboa, ora para a elaboração dos "processos", ora para a feitura dos projectos, sempre para olear as diversas máquinas...

Sendo certo que em Lisboa não há campos agrícolas, não falta por lá quem bem se governa à custa dos agricultores.  E o mesmo se diga dos pescadores.

Lamentavelmente, quase ninguém fala destas coisas.  

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De pitosga a 22.04.2022 às 11:38

Que não viesse este gajo a emmerder o Corta-Fitas.
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De Anónimo a 23.04.2022 às 10:51

Não entendo o seu espanto. Perante tudo o que se sabe da referida personagem, como pode o HPS exigir-lhe um módico de seriedade?
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De Anónimo a 21.04.2022 às 15:34

Por que será que  nunca ninguém escrutinou o meteórico percurso "académico" desta  limitada professora primária ?...
Ah! Portugal dos "Pachecos"... e das "Pachecas"...
JSP
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De José Monteiro a 21.04.2022 às 19:38

Da mesma forma que ninguém escrutinou:
o Sócrates estudante de ar saloio na Covilhã, ar de coitadinho, e de curtas realizações de engenharia civil rasca;
o Sócrates de ar político feróz, a criar PINs ad hoc, sem qq meio de subsistência pessoal além do da goverança no Estado;
o Sócrates da fortuna familiar do volfrâmeo do norte e da cova da Beira, 
sobre o que qualquer iletrado dessas regiões, teria a noção da falácia em causa, um Aldrabão impenitente.
Sorte com um ou outro ministro de qualidade, de doentia capacidade realizadora, excepto no assegurar o seu futuro. 
Outro percurso que tal.
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De José Monteiro a 21.04.2022 às 20:56

A indiciar outro drama: 
Ausência de "Oposição", oposições sérias na AR.
Dava-lhes trabalho? Risco?
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De pitosga a 22.04.2022 às 11:45


Basta ver as fotos das suas fichas de inscrição na AR.
Um bimbo ou um saloio das berças (couves) — sem ofensa para os de Torres.
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De Anónimo a 23.04.2022 às 10:42

"nunca ninguém escrutinou o meteórico percurso "académico" desta  limitada professora primária"


As pessoas mais velhas vão perceber do que se trata. Houve muitos "casos".
A ex-ministra Lurdes Rodrigues teve formação para leccionar no Ensino Básico (a antiga Primária) num tempo em que as habilitações exigidas para essa função eram o 5º ano do Liceu (actual 9º ano) seguidos de (2) dois anos no Magistério Primário. Ora, isto significa que a srª ex-ministra não tinha sequer o 7º ano (=12º) do Liceu sem o qual nunca poderia entrar numa Universidade. Logo, a srº ex-ministra não passou do 9ºano, não tem o 12º ano. Não podia, à época, aspirar a entrar para um curso em nenhuma Universidade deste país, nem numa privada.  Hoje é  professora...  universitária! Como? 
Foi o resultado do que aconteceu durante o período conturbado e de instabilidade "sem lei nem roque" por que o país passou, após o 25 de Abril. Esses primeiros anos operaram milagres na vida dos que sabiam viver...  Com a "militância" certa, foi um "ver-se-te-avias" ...  (Esta ex- ministra tornou-se uma das apaniguadas da pandilha do Sócrates: tudo gente muito recomendável que "militava" em prol do futuro ... deles, obviamente.) Protegidos sob silêncios tácitos e coniventes, (en)cobriram-se com o manto diáfano de fantasias.  Outro de fornada idêntica (no seu "percurso" académico) é um tal Sampaio da Nóvoa. Porque será que nunca ninguém quis vistoriar esta súcia?
Para esta malta, o 25 de Abril (parafraseando a ex-ministra) "Foi uma festa!"
A partir de habilitações literárias bastante modestas arranjavam-se (é o termo) umas "equivalências" confusas (de legalidade duvidosa) através de umas intrincadas "conversões" e "reconversões". Assim, engendravam umas "correspondências" duvidosas donde nasciam "milagrosos" percursos académicos que nunca aconteceram! Como a chancela "legal" da seita que os acolhia e protegia em causa própria. Obviamente estes truques obedeciam a uma determinada sequência e nada era deixado ao acaso, posto que...  culminava num "grand finale" apoteótico: as bem forjadas habilitações académicas que nunca existiram, donde resultavam retorcidos Curriculum Vitae (para dizer o mínimo).
É vê-los, impantes, a botarem faladura por aí. E quem se importa?
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De Anónimo a 23.04.2022 às 10:48

"nunca ninguém escrutinou o meteórico percurso "académico" desta  limitada professora primária ?"



Vejamos, a Dr.ª Maria de Lurdes tirou o antigo 5.º ano (actual 9.º ano) e ingressou no Magistério Primário (naquele tempo eram dois anos de curso). Deu aulas na Primária até se inscrever no ISCTE (com o 5ºano + 2 anos de Magistério Primário!).
No ISCTE, ao fim de 5 (CINCO) anos de estudos em curso nocturno (ou seja...tinha o 9º ano, mais 3 anos corresponde ao 12º e com mais 2 anos...), saiu com um DOUTORAMENTO que lhe permitiu dar aulas (?!) nesse ISCTE, por acaso onde o Sr. Engenheiro fez uma pós-graduação (mestrado?) a seguir à "licenciatura" da Universidade Independente



No SITE DO GOVERNO É CLARAMENTE DEMONSTRADA UMA ILEGALIDADE NO PERCURSO ACADÉMICO DA SENHORA MINISTRA.
Além do facto de se desconhecer o título da Tese de Doutoramento, não existem evidências de ter realizado nenhuma dissertação de Mestrado. Refere-se uma passagem directa da Licenciatura para o Doutoramento.

Partindo do pressuposto que o curriculum estará cronologicamente bem elaborado,como é possível

"Coordenou projectos de investigação e grandes operações de inquérito e orientou teses de mestrado e doutoramento" antes do seu próprio Doutoramento??


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De hc a 21.04.2022 às 16:56

Apenas uma nota, meio convergente com esta: nos distritos encostados a Espanha, exceptuando V. Castelo, Braga (sim, residualmente) e Faro são eleitos 23 deputados à A. República.
Em Lisboa -- distrito --, apenas, são eleitos 48 deputados.
O tema do "esbulho" dos impostos nos distritos do litoral é um assunto muito mais tentacular.
Coisas como a Parque Escolar, também é coisa diferente. Sofreu distorções de natureza programática, mas que se espalhou de Viana do Castelo a Vila Real de Santo António é um facto.


Escrevo isto não por defender investimentos no ISCTE, que fica ali no centro de tudo e pode aceder ao que tiver vontade, mas apenas para assinalar que a distorção nacional não tem apenas por foco o centralismo lisboeta.
Tem paralelo entre a pressão dos mais próximos do poder face aos mais afastados e está a minar o país em todo o lado.


Veja-se a distorção de alguns municípios algarvios face a Alcoutim ou Vila do Bispo; veja-se a distorção do Porto face a Baião, a Montalegre; veja-se a distorção das cidades alentejanas face ao resto do Alentejo.


Por acaso, agora calhou ser o ISCTE, mas o país está tão distorcido que me custa ver apenas o "brilho" iscteano.


Levanta-se uma discussão interessante com as distorções do nosso país.
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De Anónimo a 21.04.2022 às 18:43

Vamos ao concreto. Há dias passei por Coimbra e vi uma placa que dizia;
Metrobus
 Financiamento = 89 milhões
Apoio União europeia 60 milhões   67,5%
Apoio Nacional . . . . .  29 milhões    32,5 %
Havia outra placa que dizia; Adjudicação 23,595 milhões
Tirem as conclusões.
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De s o s a 21.04.2022 às 22:43

a primeira impressao é solicitar que troque por miudos, tornar a coisa mais compreensivel. 
Uma coisa está clara, para além do nao obvio : o pais deve desperdiçar mais e inutilmente recursos no "interior"...só se for mais investir em mais javalis e linces. 

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