Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
A Geopolítica , de que tanto falamos, não é uma ciência. É o mero estudo das relações entre entidades políticas. Na sua declinação diplomática real, na Realpolitik, apenas considerações praticas devem ser consideradas. Um dos corolários é uma visão psicopata, em que os outros ( cidadãos de outros estados) em nenhuma circunstância devem ser valorizados. O seu sofrimento, morte e até felicidade devem ser considerados como absolutamente irrelevantes. Apenas o nós importa. Outra característica importante desta perspectiva é a de aceitar que tudo pode mudar. O que é verdade hoje pode não ser verdade amanha. A determinação da melhor política é, assim, determinada em função do momento presente mas também tendo em consideração cenários alternativos possíveis no futuro. Uma complicação, já que há que equilibrar interesses imediatos com possibilidades hipotéticas futuras.
A Realpolitik não é pois para meninos ou pessoas com valores éticos inultrapassáveis. A seu favor, tem a analise histórica que tende a validar que quem a segue, dela beneficia.
A actual situação na Ucrânia, pode por isso ser analisado com critérios éticos ou através da Realpolitiks, que dificilmente conduzem a resultados e conclusões semelhantes.
Olhando sob o prisma ético, é evidente que a Rússia é um bárbaro agressor, que a pífia intervenção do Ocidente é criminosa, que estamos na presença de uma catástrofe humana insuportável e que Putin é uma besta.
Analisando sob o prisma cínico da Realpolitik, as conclusões são diferentes, mais complexas e sobretudo múltiplas e incertas. Já há algumas tendências que se podem traçar.
Para os EUA, ignorando o sofrimento dos Ucranianos, uma intervenção mais musculada não faz qualquer sentido. Os EUA sofrem (pouco) a retirada da Rússia do comercio internacional, mas ganham um aumento das despesas militares da Europa e o enfraquecimento, a prazo, da Rússia, sem perder um Homem. Pode finalmente acreditar que só a gestão do nuclear continua a ser relevante na frente Ocidental. A própria destabilização interna da Rússia não deixa de ser um bónus, bem vindo, se produzir resultados. A maior aproximação da Rússia à China seria provavelmente inevitável e certamente não seria menor com intervenção de facto dos Estados Unidos na Ucrânia. Os EUA, são grandes vencedores, A não entrada da Ucrânia na Nato, poderá ter sido simplesmente um engodo à invasão.
A China ganha a dependência da Rússia, o que tem tanto de oportunidade como ameaça. De que forma vai gerir a China um parceiro economicamente dependente mas militarmente poderoso? Ao contrario do que já pensei, parecem-me más noticias. Se aproveitar em sua vantagem a dependência, provoca ressentimento. Se não aproveitar, ganha um fardo prolongado. O brutal nível de sanções aumentaram os custos percebidos de confrontação com o Ocidente. As mãos mais livres dos EUA, uma péssima noticia. O seu principal adversário deixou de ter que jogar em duas frentes. No final, não deverão estar nada contentes.
A Europa Ocidental, nem tem força militar, nem provavelmente vontade de intervir. Foi surpreendida pelo claríssimo e eventualmente surpreendente não envolvimento dos EUA. É expulsa da sua adolescência militar percebendo, finalmente, que perdeu o pai e que tem que se divertir menos , porque tem que gastar dinheiro em actividades aborrecidas. Perde um parceiro económico importante, enfrentando uma crise petrolífera e alimentar que não afecta os EUA, basicamente autossuficiente. Depois do período de união face a uma agressão comum, pode vir a ser fustigada por divisões internas daqueles que continuarão a não querer pagar a sua quota parte de defesa ou, na direcção oposta, por alguns países se sentirem ameaçadas por uma inevitável hegemonia militar alemã. No limite das vantagens possíveis , num futuro ainda longínquo e improvável, poderá, deixar de ser um anão militar e um pigmeu político. A Europa é um claro perdedor que paga pela sua ilusão do fim da História.
A Ucrânia, afirma-se como nação, pagando por isso um preço altíssimo, em vidas, bem estar e no mínimo parte importante do seu território, senão mesmo a sua independência por tempo indeterminado. A Ucrânia e os ucranianos são as vitima desta História.
A Rússia, perde em todos os tabuleiros. Economicamente perde mais de metade do Mundo, militarmente vê os seus vizinhos próximos armarem-se e o seu ditador ficar cada vez mais autocratico. O domínio da costa do Mar de Azov e Mar negro, no mínimo, a Ucrânia no máximo, muito dificilmente valerão sequer os custos directos da invasão.
Putin, que também é uma entidade política, ganha. Perder seria ser deposto, o que não parece muito pouco provável. Ao contrario da maior parte das pessoas, acredito que a força da brutalidade total ainda funciona nos dias de hoje. Muito gostaria de estar enganado. Acredito até, que o reforço do seu poder será o grande motivo da invasão. Se não encontrasse resistência na Ucrânia, prosseguiria com mais invasões até a encontrar. Encontrando-a, fechará a Rússia e mais facilmente eterniza o seu poder, num pais mais pobre, fechado e oprimido. Muitas vantagens podem ser encontradas aqui.
PS: O quadro final que tracei é deprimente. Felizmente nem a Geopolítica é uma ciência exacta, nem eu um dos seus infalíveis interpretes. Na verdade, acordo sempre com a esperança da noticia de um golpe militar em Moscovo.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Sim, os portugueses, no geral, têm problemas com o...
Inicialmente, foram os excedentes agrícolas que pe...
25 euros dá para 2,5 Kg de bacalhau.Querem lucro n...
Escreve-se busílis e não buzílis.
Os russos estão atolados na Ucrânia. Estão a perde...