Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Um comentário simpático reza assim: "Gostaria de deixar aqui um testemunho que vivi num dos últimos verões quentes ainda antes do desastre do pinhal de Leiria. Paramos com a minha sogra para apanhar umas pinhas numa estrada secundária absolutamente deserta e ao fim de algum tempo verifico o aparecimento de um fogo na caruma a mais ou menos 15 metros de nós, posso assegurar que não havia ninguém e que nenhum de nós fumava ou tivesse algo que pudesse provocar. Até hoje me interrogo como foi possível. Felizmente estava ali e acabei em poucos minutos por evitar um desastre".
O mais provável é que alguém lá tivesse estado antes e tivesse deixado uma pequena brasa para trás, sem dar por isso (uma ponta de cigarro, uma brincadeira de crianças, um motor desafinado, seja o que for).
Isto acontece permanentemente todos os dias do ano, o território está encharcado de ignições, e sempre estará (eu não conheço nenhuma análise à solidez da actividade bancária que se centre na actividade dos ladrões de bancos, toda a gente sabe que existem, com certeza há um enquadramento legal que permite reprimir essa actividade, mas não há um único banqueiro que organize o seu banco no pressuposto de que o essencial é acabar com os ladrões, porque não há assaltos sem ladrões).
Vou então seguir o conselho de Teresa Andresen e falar de tabaco.
Acho que toda a gente sabe que quando se chega uma chama à ponta de um cigarro, não se forma uma labareda instantânea, pelo contrário, a chama tem energia suficiente para fazer uma brasa na ponta do cigarro, mas a disposição do combustível é demasiado densa para que se passe da brasa à chama, falta oxigénio naquela combustão.
Os grandes apreciadores de charutos guardam os seus charutos em caixas climatizadas com o objectivo de manter a humidade perfeita para que a combustão do charuto seja a que se pretende, tal como os fumadores de cachimbo calcam o tabaco e os enroladores de cigarros se esforçam por garantir que o tabaco fica suficientemente aconchegado, o que é o mesmo que dizer que o cigarro tem alguma densidade, para não queimar excessivamente depressa e com demasiada intensidade.
Em nenhum caso se forma uma chama, e um charuto pode demorar tempos infindos a acabar, tal como uma cachimbada, dependendo da humidade do tabaco, e da oxigenação que é proporcionada pelo facto de chupar o ar numa ponta implicar a entrada de mais oxigénio na outra ponta, onde está em curso a combustão.
Um cigarro esquecido num cinzeiro vai destruindo a capacidade da combustão progredir, apagando-se, excepto se o cinzeiro estiver numa zona ventosa que garanta a oxigenação (em qualquer caso, sem produzir chama porque a estrutura do combustível e a sua humidade não o permitem).
Agora destruamos o cigarro e espalhemos o papel e tabaco num caldeirinho que seja possivel arejar e cheguemos-lhe uma chama. A combustão é bastante mais rápida, mas talvez não chegue para incendiar o monte de tabaco e papel que fizemos, porque a humidade do combustível o impede.
Então sequemos primeiro esse material numa estufa ou num forno.
A partir de certo grau de humidade e arejamento, conseguimos incendiar o cigarro que não se incendeia na sua forma original: a quantidade de combustível é a mesma mas a sua estrutura não (permitindo a oxigenação, como quando não se calca o cachimbo) e a sua humidade não (porque secámos o material).
Explicado isto, falemos agora de microclimatologia.
O vento é ar em deslocação, o ar quente sobe, o ar frio desloca-se para ocupar o espaço criado pela subida de ar quente, e forma-se uma brisa.
Todos nós conhecemos isto porque vamos à praia: a água tem bastante inércia térmica, portanto aquece mais lentamente que a areia da praia, durante o dia, e arrefece mais lentamente, durante a noite.
Portanto, durante o dia há tendência para haver uma brisa no sentido do mar para a praia (geralmente fresca e mais húmida), e durante a noite o sentido é inverso (atenção estou a falar de brisas relativamente fracas, que podem ser facilmente anuladas por ventos mais fortes, não relacionados com factores locais mas com a dinâmica geral da atmosfera).
Nos relevos mais acentuados, o processo é semelhante, do vale para os cabeços: os vales arrefecem menos de noite e aquecem mais durante o dia, portanto formam-se brisas de encosta em direcções opostas durante o dia e durante a noite (o que é acentuado pelas "gotas" de ar frio que se formam nos cabeços, a zona de maior irradiação nocturna, o ar arrefece e vai pingando pela encosta abaixo, como qualquer pessoa experimentada em passar a noite ao relento já sentiu, com certeza, o que se explica pelo facto do ar frio se comportar como um líquido viscoso).
Perdoem-me esta longa explicação, que ajuda a perceber como uma brasa se pode manter horas sem formar chama, progredindo lentamente e, ao mesmo tempo, que há variações nocturnas relevantes nos ventos que podem oxigenar a combustão que está a ocorrer sem chama.
Eu sei que há pessoas que acham que só um estúpido imbecilizado põe em dúvida que todos os fogos nocturnos sejam fogos postos, o que sugiro é que pensem que talvez não tenham toda a informação necessária para ter opiniões tão seguras sobre processos naturais complexos e a sua interacção com sociedades igualmente complexas.
E não é a eleição para um cargo autárquico que consegue, magicamente, transformar o conhecimento de uma pessoa sobre o assunto, é preciso mesmo ir à procura de informação.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Caro SenhorPercebe-se (?) que a distribuição cultu...
"..., não podia ter sido mais insólita, mais bizar...
Como (ex) vizinho de duas, tirando o cheiro pela m...
Muito bem! É sempre um gosto lê-lo/ouvi-lo.Cumprim...
Ontem como hoje como sempre os trastes cobardes nu...