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Para ilusão benigna, escolha-se uma realista

por João Távora, em 05.07.25

presidenciais.jpeg

A cena repete-se a cada cinco anos, com mais ou menos despudor, mais ou menos confrangedora, o posicionamento dos putativos candidatos à disputa eleitoral para a corrida a Chefe de Estado de Portugal. Este ano a particularidade é a candidatura de um militar que concorre à margem dos partidos, numa clara aproximação à estética monárquica, suprapartidária. E entende-se bem porquê.

Se os partidos constituem alicerces fundamentais, reguladores das diferentes tendências ou concepções ideológicas rivais que despontam da sociedade, sempre conflitual e competitiva, no modelo constitucional português, herdado do liberalismo monárquico, parece-me redundante, e até equívoco, o costume de o Chefe de Estado emanar dum partido político. Tirando o caso de Ramalho Eanes tem sido assim sempre desde o 25 de Abril. Tal acontece na ingénua presunção de que, no dia seguinte às eleições, os portugueses adiram à ilusão de que o mais alto magistrado da Nação tenha fechado as suas convicções sectárias a sete chaves num baú atirado à Fossa das Marianas. E que as suas pretéritas actuações no palco das quezílias partidárias não tenham passado de dramatizações artificiais para a conquista do poder. Mais um prego para o caixão do sistema.

A natureza humana é aquilo que é, e pouco haverá a fazer para a domesticar, sem ser com muita violência. Uma sociedade saudável é inevitavelmente conflituosa, competitiva, inquieta, combativa. As disputas emergem a cada momento nas famílias, nas empresas, em qualquer organização social. Aquilo a que chamamos “civilização” é a regulação eficiente dessa conflitualidade e a mitigação dos perigos inerentes aos excessos que essa violência implícita comporta, às vezes com pulsões de morte. É neste âmbito que se compreende a estruturante eficácia dos partidos, que são instrumentos de conquista de poder, um dos mais letais instintos humanos. Por isso, quando vejo deputados no parlamento à beira do histerismo a esgrimir argumentos, a disparar palavras e frases bombásticas com os seus antagonistas no lugar de espadeiradas ou rajadas de metralhadora, fico contente com esses sinais de civilidade. As fúrias ficam-se por palavras, e as razões revestem-se em ideais, mais ou menos sofisticados, mais ou menos nobres. Mas no início, lá bem no fundo, está um inevitável instinto guerreiro, uma propensão existencial para o conflito e para a contenda, uma inquietação voraz de poder. É inegável a eficácia das democracias liberais na mitigação destas autofágicas pulsões humanas.

Já não entendo é a necessidade que se proclama no espaço público de que o chefe máximo da nação participe e provenha desse teatro de guerra. Somos, como seres humanos, criaturas únicas e irrepetíveis, muito mais do que as nossas crenças e convicções. Por isso é que acredito, que um país antigo como o nosso merecia, no topo da pirâmide do Estado, em contrapeso com a restante arquitectura, uma instituição mais representativa da nossa identidade, mais agregadora, realmente independente das inevitáveis refregas entre os grupos de interesses e pertenças sectárias. A Pátria em figura humana.

E não me conformo que esta discussão não desponte no espaço público, viciado no degradante circo, na despudorada hipocrisia que consiste a disputa das putativas candidaturas a Presidente da República. Uma tristeza muito grande.

Publicado originalmente aqui


5 comentários

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De passante a 05.07.2025 às 13:01

Já não entendo é a necessidade que se proclama no espaço público de que o chefe máximo da nação participe e provenha desse teatro de guerra.


Ilusão de igualdade.


As elites republicanas andam a vender o "sic semper tyrannis" há dois mil e quinhentos anos, e por estes dias estão na mó de cima.


Enquanto não conseguirem fazer passar a ideia que um monarca é melhor negócio para os proletas do que um senado de sanguessugas (vide C.J. Caesar), podem esquecer o resto da argumentação.

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De cela.e.sela a 05.07.2025 às 14:58

a esquerda em fim de festa pretende convencer os contribuintes adoram ser bandarilhados.
adoro fazer cangocha.
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De Anónimo a 05.07.2025 às 17:41

Nesse quadro no qual efetivamente não vislumbra grande capacidade para PR, falta o o Pio que sem sombra de duvida não tem qualquer qualidade para ser rei, considerando que a monarquia é um regime é não uma aberração como realmente é.
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De lucklucky a 07.07.2025 às 16:58

Não me parece que  D. Duarte fosse ao beija mão a um facínora que assassinasse Monárquicos como o Marcelo, Presidente foi ao beija mão ao Fidel Castro*  que assassinava democratas isto logo após ser eleito.

* que para os nossos jornalistas "democráticos" e "de referência" era o Líder Cubano e não o Ditador Cubano apesar da assassinar democratas...
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De Silva a 06.07.2025 às 15:30

Apenas para reforçar a ideia de que Seguro foi o imbecil que deixou passar o comunista António Costa para chegar á liderança do PS quando bastaria ter dito que o comunista António Costa era membro dos governos (cumplicidade e conivência política) do ainda não condenado por corrupção Sócrates.
Outro é a marioneta do comunista António Costa que é o Gouveia e Melo na farsa do Covid.


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