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"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo."
Lembrei-me disto quando comecei a ler comentários inacreditáveis sobre o facto de Boris Johnson ter testado positivo para o coronavírus.
Mas na verdade já tinha decidido que ia decidir se fazia um post sobre a Padaria Portuguesa.
Sou um cliente habitual da Padaria Portuguesa, vou lá de manhã comprar pão, o suficiente para, de maneira geral, já saberem que eu peço para cozerem melhor o pão (não é muito sustentável ter o forno a trabalhar só para cozer os meus pães mais um bocadinho, mas entre a sustentabilidade e a minha mulher, eu opto sempre pela minha mulher) e para ter reparado, num relance, que a SIC lá tinha estado numa reportagem, ao ver o Ibrahim e a Brigitte.
E como continuo todas as manhã a ir ao pão e comprar o jornal (lavo as mãos antes de ir, deixei de levar o saco de pano e passei a trazer o de papel deles, lavo as mãos mal entro em casa e antes de tocar em alguma coisa, garanto que o manípulo da torneira ficou como estava antes de lhe tocar para abrir a torneira, enfim, eu cumpro as regras de auto-protecção e levo-as a sério), sou testemunha da rapidez de adaptação que a empresa demonstrou, transformando em dois ou três dias a loja de padaria em mercearia, vendendo ovos, azeite, arroz, massa, feijão, etc..
Depois de ver o ressentimento de muitos comentários jubilosos pelo facto do seu dono ter escrito uma carta ao primeiro-ministro a explicar que ou há maneira de se apoiar a empresa, ou não há dinheiro para pagar ordenados em muito pouco tempo, como se alguém ganhasse mais que a satisfação da vingança de poder dizer "não são mais que eu" a um empresário falido, achei por bem explicar que tenho pena, mesmo muita pena, se a empresa falir.
Não por mim, o que não faltam são padarias à minha volta, e tal como deixei de comprar ao senhor Manuel e ao senhor António quando a mercearia passou a lavandaria automática, com pena minha, que o pão era óptimo, melhor que o da Padaria Portuguesa, já agora, passo a comprá-lo noutro lado.
O que me chateia, se a empresa for à falência, é ter a noção da aflição da Catarina, que um dia destes andava em bolandas para comprar o leite da filha de meses, porque tinha desaparecido à conta do corona (o leite, não a filha, claro), da Ana, da Patrícia, do Ibrahim, do André e por aí fora, vítimas laterais da maior e mais estranha experiência sociológica a que me foi dado assistir: o suicídio de uma economia na vã tentativa de parar o contágio de uma doença que, fora dos grupos de risco, tem um efeito definitivo marginal na larga maioria da população.
E tiro o chapéu ao empresário que não quis deitar a toalha ao chão, reinventando o conceito das lojas em dias, mesmo sabendo que, provavelmente, na falta de dinheiro rápido até que os clientes sejam autorizados a voltar, é um esforço inglório.
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