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Padaria Portuguesa

por henrique pereira dos santos, em 27.03.20

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo."

Lembrei-me disto quando comecei a ler comentários inacreditáveis sobre o facto de Boris Johnson ter testado positivo para o coronavírus.

Mas na verdade já tinha decidido que ia decidir se fazia um post sobre a Padaria Portuguesa.

Sou um cliente habitual da Padaria Portuguesa, vou lá de manhã comprar pão, o suficiente para, de maneira geral, já saberem que eu peço para cozerem melhor o pão (não é muito sustentável ter o forno a trabalhar só para cozer os meus pães mais um bocadinho, mas entre a sustentabilidade e a minha mulher, eu opto sempre pela minha mulher) e para ter reparado, num relance, que a SIC lá tinha estado numa reportagem, ao ver o Ibrahim e a Brigitte.

E como continuo todas as manhã a ir ao pão e comprar o jornal (lavo as mãos antes de ir, deixei de levar o saco de pano e passei a trazer o de papel deles, lavo as mãos mal entro em casa e antes de tocar em alguma coisa, garanto que o manípulo da torneira ficou como estava antes de lhe tocar para abrir a torneira, enfim, eu cumpro as regras de auto-protecção e levo-as a sério), sou testemunha da rapidez de adaptação que a empresa demonstrou, transformando em dois ou três dias a loja de padaria em mercearia, vendendo ovos, azeite, arroz, massa, feijão, etc..

Depois de ver o ressentimento de muitos comentários jubilosos pelo facto do seu dono ter escrito uma carta ao primeiro-ministro a explicar que ou há maneira de se apoiar a empresa, ou não há dinheiro para pagar ordenados em muito pouco tempo, como se alguém ganhasse mais que a satisfação da vingança de poder dizer "não são mais que eu" a um empresário falido, achei por bem explicar que tenho pena, mesmo muita pena, se a empresa falir.

Não por mim, o que não faltam são padarias à minha volta, e tal como deixei de comprar ao senhor Manuel e ao senhor António quando a mercearia passou a lavandaria automática, com pena minha, que o pão era óptimo, melhor que o da Padaria Portuguesa, já agora, passo a comprá-lo noutro lado.

O que me chateia, se a empresa for à falência, é ter a noção da aflição da Catarina, que um dia destes andava em bolandas para comprar o leite da filha de meses, porque tinha desaparecido à conta do corona (o leite, não a filha, claro), da Ana, da Patrícia, do Ibrahim, do André e por aí fora, vítimas laterais da maior e mais estranha experiência sociológica a que me foi dado assistir: o suicídio de uma economia na vã tentativa de parar o contágio de uma doença que, fora dos grupos de risco, tem um efeito definitivo marginal na larga maioria da população.

E tiro o chapéu ao empresário que não quis deitar a toalha ao chão, reinventando o conceito das lojas em dias, mesmo sabendo que, provavelmente, na falta de dinheiro rápido até que os clientes sejam autorizados a voltar, é um esforço inglório.


22 comentários

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De Anónimo a 28.03.2020 às 00:56

"Um mundo em que tudo seja permitido"

Excepto

Amar sem amor.


Li e retive isto, há mais de 45 anos, numa publicaçãozinha das Edições Itau.
Obrigado, Júlio Roberto, onde quer que estejas.   
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De António a 28.03.2020 às 00:59

Acho que a idéia não é “parar”, é tentar que não fique demasiada gente doente ao mesmo tempo. Para que gente que poderia ser salva não deixe de o ser.
Também é cedo para afirmar o “efeito definitivo marginal”. Oxalá que seja, mas não se sabe.
Quanto aos grupos de risco, e já que pertenço a pelo menos dois, os cuidados não serão demais. E um dia também o meu amigo pertencerá a algum deles.
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De henrique pereira dos santos a 28.03.2020 às 06:33

E quem lhe disse que não pertenço?
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De António a 28.03.2020 às 10:56

Cuidemo-nos então.
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De Anónimo a 28.03.2020 às 10:08

«amar sem ser amado
é como limpar o cu sem estar cagado»
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De Anónimo a 28.03.2020 às 21:28

Nem mais
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De Anónimo a 28.03.2020 às 19:33

E que tal mencionar que estes senhores o ano passado tiveram um lucro de 45 milhões de Euros ? Agora não tem dinheiro para salários ?
E que tal mencionar que são os mesmos senhores que acham o salário mínimo demasiado elevado ?
A padaria portuguesa é liderada  pelo típico empresário português: 
Quando existe lucro nem o estado nem os trabalhadores são recompensados.
Quando não existe lucro querem a maminha do estado e despachar trabalhadores.


A chularia Portuguesa
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De henrique pereira dos santos a 28.03.2020 às 22:23

Tem toda a razão, tenho a certeza de que os 1200 trabalhadores serão facilmente absorvidos pela sua empresa.
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De Anónimo a 29.03.2020 às 11:53

Bela resposta sim senhor!
Não seja populista e responda com alguma coerencia. A observação que foi feita é digna disso
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De Anónimo a 29.03.2020 às 14:31

Alguma certamente os absorverá.
Se a padaria portuguesa fechar abre a xpto.
O espaço livre acaba sempre por ser ocupado.
Como dizia o outro, "... É a economia estúpido".
Se a padaria portuguesa fechar é porque não foi competente. Acontece isso com qualquer ser vivo. Ou se adapta ou morre.
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De henrique pereira dos santos a 29.03.2020 às 21:41

Claro, tenho aliás a certeza de que será na sua empresa que estes trabalhadores vão ficar, até porque, como toda a gente sabe, o desemprego num existiu
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De Anónimo a 30.03.2020 às 12:01


Já vi que vai ser a sua que lhe vai ser emprego a ganhar um ordenado com deve ser.


Que se saiba já havia emprego antes da padaria portuguesa e espera-se que continue a haver depois da padaria portuguesa. Os padeirinhos portugueses, pelos vistos não passam de uns patos bravos.
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De Eu próprio a 28.03.2020 às 22:33


Padarias de patos bravos, á primeira dificuldade escrevem a ministros, onde chegámos nós ? Um pais onde destruimos Sorefames, Lisnaves,Cablesas,Sodias, UMMs etc. vem estes marmelos falar de padarias. Haja Pachorra
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De Anónimo a 28.03.2020 às 23:15

Tem toda a razão, lembro-me bem da qualidade soberba do pão que ia buscar à Sorefame
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De Anónimo a 29.03.2020 às 14:27

UAU que observação tão inteligente
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De Anónimo a 29.03.2020 às 02:33

Cada vez mais o sucesso alheio faz me bem, estimula-me e serve de motivação.  Eu próprio sinto me cada vez mais preparado para isso. Gosto de ver Portugueses vencer, e a Padaria Portuguesa é disso um exemplo. Quero ver tantas Padaria Portuguesas pelo mundo , quanto, pelo menos , Mcdonalds! Tem tudo para isso,portanto força e ambição! Os outros não são melhores do que nós! 
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De Anónimo a 29.03.2020 às 10:28

Eu também gosto de ver portugueses de sucesso, desde que o mesmo não aconteça à custa da miséria e empobrecimento de quem contribui para o seu sucesso!
Quantos pobres é necessário fazer para fazer um rico? 
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De henrique pereira dos santos a 29.03.2020 às 10:58

Não sei, a minha sugestão é a de que pergunte ao Cristiano Ronaldo, que deve saber a quantos teve de roubar para ter o que tem
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De Anónimo a 29.03.2020 às 14:26

Que comparação de de me#$@
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De Anónimo a 29.03.2020 às 10:59

Caríssimo Henrique, já estão a morrer miúdos/ adolescentes que não pertenciam a qualquer grupo de risco. Será que não valerá a pena sacrificar um pouco do nosso bem estar (menos laptops, menos smartphones, menos automóveis, etc) e contribuir para que não entremos todos ao mesmo tempo nos hospitais? Afinal, penso eu, é disso que se trata.
Será que tenho eu o direito, por não ser de qualquer grupo de risco, de contaminar os meus pais e os meus sogros?
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De henrique pereira dos santos a 29.03.2020 às 21:44

Não é verdade, estude os casos clínicos
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De Carlos Gonçalves a 29.03.2020 às 20:58

"...o suicídio de uma economia na vã tentativa de parar o contágio de uma doença que, fora dos grupos de risco, tem um efeito definitivo marginal na larga maioria da população."



E eu começo a perguntar-me (https://passaparedes.blogspot.com/2020/03/o-paradoxo-sueco.html) se destruindo a economia é mesmo a maneira mais eficaz para parar a propagação da doença:



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