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Não reproduzo há muito tempo os gráficos da mortalidade do Euromo

Também não tenho reproduzido os gráficos de mortalidade para Portugal.

Esta deve ser a única epidemia na história que se considera em curso sem haver mortalidade excessiva (não quer dizer que não volte a haver mortalidade excessiva na próxima época de doenças respiratórias, entre a semana 40 deste ano e a semana 19 do ano que vem).
Mas a incidência está a aumentar, os internamentos em Lisboa duplicaram em poucas semanas e por aí fora, é preciso olhar para isso com atenção porque numeros crescentes dão origem a crescimentos exponenciais mais cedo ou mais tarde, dizem-nos pela enésima vez.
Este é um tipo de previsão que permite acertar sempre, eu, por exemplo, se disser que vamos todos morrer, estou absolutamente certo de que vou acertar na previsão. A previsão, embora certa, continua a ser inútil para o que me interessa: saber em que dia, a que horas, onde e como vou morrer.
O Expresso, dando livre curso à sua vocação para fazer fretes aos governos, lá vem avisar, na sua primeira página, que festas familiares são uma coisa muito perigosa e até houve uma festa de aniversário com mais de quinhentas pessoas em que 66 testaram positivo (que festa era esta, já agora? É que mais de 500 convidados já é muito pouco habitual). O facto do Expresso ter esta primeira página não tem nenhuma relação, claro, com o facto do governo ter anunciado que passava a ser obrigatório fazer testes para estar nestas festas.
Há já dias que o governo anunciou isto e, curiosamente, não tenho visto os jornais a fazer as perguntas que eu gostaria de ver respondidas: 1) É preciso autorização para eu fazer uma festa de anos?; 2) Não sendo, como é que se verifica o cumprimento de regras em espaços privados?; 3) Já é permitido, em Portugal, a polícia entrar em espaços privados, em especial em casa das pessoas, sem mandato judicial?; 4) Se os meus convidados me disserem que fizeram um teste em casa, como é que eu verifico?; 5) Se os meus convidados disserem que se esqueceram de fazer o teste, de que autoridade estou revestido para lhes impor sanções, sejam elas quais forem?; 6) Que recursos as polícias vão alocar à verificação do cumprimento de regras em casamentos e baptizados e que acções deixam de fazer para que esses recursos sejam aplicados no controlo da vida privada de pessoas comuns?; 7) Sendo um teste médico um acto directamente relacionado com a minha saúde, qual é a base para a polícia me exigir a divulgação de dados pessoais sobre a minha saúde e, pior, dos meus convidados?
Ainda hoje ouvi parcialmente um programa na Rádio Observador com responsáveis pelos serviços Covid (ou de medicina intensiva, não sei) dos hospitais de Santa Maria, Lisboa, de Coimbra e São João, no Porto.
Do que ouvi, há uma subida paulatina em Lisboa que faz com que existam 25 doentes internados (menos de um décimo dos mais de 300 em Fevereiro), há uma percentagem maior de doentes mais novos (porque os mais velhos ou morreram ou estão vacinados, diria eu), há uma maior percentagem de doentes com mais complicações covid (porque com doentes mais velhos os internamentos prolongam-se não apenas para resolver as complicações covid, mas para resolver os desequilíbrios associados a outras morbilidades que são mais frequentes nos mais velhos) mas a situação é perfeitamente normal.
Aliás, uma das afirmações mais interessantes foi do médico do Porto a explicar de que tinha cinco doentes em cuidados intensivos mas, desses, dois eram politraumatizados que estavam nos cuidados intensivos por razões sem qualquer relação com a covid, só que tinham testado positivo e por isso estavam em serviços covid.
O que ouviram os jornalistas?
Que a doença está a afectar mais o mais jovens, que está a desenvolver quadros clínicos mais graves e que a subida de casos pode vir a ser um problema.
O que ouvi eu?
Que se confirma, mais uma vez, a falta de trabalho jornalístico na distinção entre doentes de covid e doentes que testam positivo e que a situação tem muita margem para progredir, não sendo necessário estar a complicar com medidas e medidinhas.
Alguém está verdadeiramente convencido de que incidência em Lisboa varia alguma coisa relevante por os restaurantes fecharem às dez e meia ou à uma da manhã?
Alguém está verdadeiramente convencido que a incidência varia alguma coisa relevante porque o teletrabalho é obrigatório ou não, sabendo que muitos dos que trabalham em Lisboa nem sequer vivem no concelho e muitos dos que vivem no concelho trabalham fora dele?
Sim, há um ligeiro crescimento da positividade dos testes, ainda em valores muito baixos, que precisa de ser acompanhada, mas de resto já seria tempo dos senhores jornalistas se deixarem de ser preguiçosos e fazer o trabalho essencial de um jornalista: escrutinar a informação que tem origem no poder, seja o poder do governo, seja o poder das empresas, seja o poder das corporações (incluindo a Ordem dos Médicos), seja o poder da academia.
Talvez finalmente reparassem que há um conjunto alargado de regiões, no mundo, que não cumprem nada destas regras patetas e a evolução da epidemia continua, no essencial, a ser a mesma, com surtos que não sabemos prever porque ainda não conhecemos bem os mecanismos da sua evolução, sendo já certa uma coisa básica: não há, em lado nenhum do mundo, uma demonstração de que subidas e descidas de incidências desta doença estejam solidamente ligadas à mobilidade e à densidade de contactos.
E talvez, nessa altura, finalmente ganhem consciência da barbaridade que é o governo querer controlar as festas familiares, não tendo mais base mais sólida para o fazer que uns dados manhosos passados ao Expresso para justificar a esquizofrenia em que vive, há meses, a Direcção Geral de Saúde e quem a apoia.
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