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O mapa acima é um dos muitos que se podem fazer sobre o assunto, seja por regiões climáticas, eco regiões, biomas (como é o caso), o que se quiser.
Deixem-me chamar a atenção para aquelas manchas roxas no lado ocidental dos continentes, um pouco a Sul do 40º de latitude, no hemisfério Norte, um pouco a Norte da latitude equivalente, no hemisfério Sul.
Estas manchas roxas são um bom referencial para olhar para o mapa porque corresponde ao clima que conhecemos melhor, o mediterrânico, e que apenas aqui onde estamos entra mais profundamente num continente, porque o Mediterrâneo o permite. Na América, seja a do Norte, onde encontramos este clima num bocado da Califórnia, seja a do Sul, onde encontramos este clima no Chile (já agora, zonas conhecidas pela presença frequente do fogo, o que não é difícil de entender por ser o único clima do mundo em que a estação quente e a estação seca coincidem no tempo), há apenas estreitas faixas litorais deste clima. Na Austrália também se desenvolve mais longitudinalmente porque acompanha a limite Sul da ilha.
Note-se também que na América do Norte e na Eurásia há muita terra entre este clima e o Pólo Norte, mas a Sul o equivalente geográfico é ocupado essencialmente por água.
No hemisfério Norte há desertos a Sul deste clima, no hemisfério Sul os mesmos desertos estão a Norte, a latitudes equivalentes (por isso estes agricultores new age que pretendem semear chuva não me convencem grandemente).
Tudo isto se relacionada com a circulação da atmosfera, que está relacionada com centros de altas e baixas pressões e com a rotação da Terra (esquema abaixo).
Como me dizia um dia destes quem percebe muito mais de biogeografia que eu "É evidente que os efeitos da sazonalidade apenas são visíveis onde essa sazonalidade existe. ... o padrão global de sazonalidade é marcado pelas regiões temperadas, onde a maior parte da população mundial se concentra".
Nas regiões tropicais - isso está abundamentemente estudado, seja para doenças deste tipo, seja para muitos outros fenómenos naturais - o padrão depende menos de uma sazonalidade ligada às estações do ano pela simples razão de que essas estações do ano não existem: a temperatura varia relativamente pouco ao longo do ano, o foto-período varia muito menos ao longo do ano, a humidade varia entre a estação seca e a estação das chuvas, mas a relação dessa variação com muitos fenómenos naturais, como por exemplo as doenças infecciosas respiratórias, é muito menos conhecida e, provavelmente, tem muito menos peso na actividade viral que tem a marcada variação sazonal das regiões temperadas.
De resto, existem poucas regiões temperadas e densamente povoadas no hemisfério Sul, portanto pretender negar ou desvalorizar a evidente sazonalidade das regiões temperadas do hemisfério Norte, onde estamos, contrapondo exemplos como o Brasil, a Índia e a África do Sul (onde apenas existe uma pontinha de clima mediterrânico na província do Cabo, e daí para Sul, nas latitudes que correspondem às zonas temperadas do hemisfério Norte, é só água) não tem pés nem cabeça.
De resto, não existe, nos dados de mobilidade e densidade de contactos, absolutamente nada de tão excepcional no Natal, e de tão diferente do que se passou na Páscoa que possa justificar a manutenção da história da carochinha que nos têm contado sobre as razões para o que se passou em Janeiro e, mais importante, para justificar as constantes ameaças sobre o que aí vem, que os mais sofisticados já nem tentam justificar com os números de evolução da epidemia, mas apenas com conceitos abstractos como o princípio da precaução.
Há um mês que estamos com uma mortalidade global abaixo do que seria de esperar para esta época do ano, há um ror de tempo que a mortalidade covid está abaixo dos 5% da mortalidade global (provavelmente correspondendo, em grande parte, a mortalidade global de pessoas que testam positivo para a covid, mas esqueçamos isso), o ano passado demonstrou que quem disse que a mortalidade excessiva acabaria por volta da semana 19 do ano (estamos a entrar na semana 16 deste ano) teve razão, e continuamos a falar da necessidade de cautelas no desconfinamento, com base em opiniões não sustentadas de pessoas que não se entende por que razão têm tanta influência nos jornais.
Acresce que há um conjunto de estados nos Estados Unidos que se deixaram de parvoíces e eliminaram a generalidade das regras coercivas (o que é diferente de eliminar as recomendações para que as pessoas saibam que há uma epidemia em curso e de que forma se podem defender dos seus efeitos negativos, sem com isso criar outros efeitos negativos ainda maiores), sem que se tenham verificado os tais efeitos previstos pelos profetas do apocalipse se não estivermos todos em casa.
São os mesmos que no princípio de Março avisaram, com ar muito sério, para o preço que iríamos pagar quinze dias depois do movimento generalizado das pessoas no último fim de semana de Fevereiro, depois avisaram que os efeitos do primeiro desconfinamento (a 15 de Março) iam sentir-se antes da Páscoa, depois avisaram que os dados da mobilidade na Páscoa eram muito preocupantes e as pessoas não estavam a cumprir as regras, o que iria ser pago quinze dias depois como tinha acontecido no Natal, depois avisaram que era evidente que ter toda a gente nas esplanadas a 5 de Abril ia dar origem a uma grande quarta vaga daí a 12 a 15 dias (é hoje!, é hoje!).
E a imprensa em vez de lhes perguntar para que raio servem modelos que erram permanentemente, mesmo no curto prazo e de forma grosseira, e que não conseguem ser calibrados para a realidade do que aconteceu (algum desses senhores já desenhou um modelo, com os dados de mobilidade do Natal que explique o que sucedeu depois e consiga, ao mesmo tempo, manter a consistência entre dados de mobilidade e o que se está a passar desde o fim de Janeiro?), continua a servir de caixa de ressonância de paranóicos que escolhem ignorar tudo o que se sabe sobre sazonalidade.
Nem sei por que razão me admiro, suspeito que a maioria dos jornalistas que escrevem sobre a epidemia não sabe olhar para um mapa, quanto mais interpretá-lo, e portanto acha normal interpretar os dados de evolução de uma epidemia como se o mundo fosse um tabuleiro uniforme em que apenas os contactos podem explicar as variações da evolução geográfica de uma epidemia.
E, também por isso, acham normal que se impeça as esplanadas de estarem abertas num fim de semana de Sol como este, porque é mesmo fundamental manter as pessoas em casa, apesar das pessoas sairem na mesma e os hospitais estarem vazios.
É triste nascer entre brutos, viver entre brutos e morrer entre brutos, como parece que terá dito o outro.
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