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Foi interessante assistir aos muitos e justíssimos elogios que os republicanos portugueses fizeram a Isabel II a propósito dos seus 70 anos de reinado. Muitos começavam até as suas intervenções com um “Não sou monárquico, mas...”. Parece-me que não os preocupava as contradições inerentes a estes elogios. Destacavam logo a longevidade do seu reinado: tinha convivido com não sei quantos primeiros-ministros desde Churchill, conseguira adaptar-se sempre bem às grandes mudanças que o seu país e o mundo sofrera nestas sete décadas. Pois bem, isso só foi possível por Isabel II ser uma monarca, se fosse presidente de uma república cumpriria dois ou três mandatos de quatro ou cinco anos. Teria convivido, no máximo dos máximos, com primeiros-ministros eleitos até 1964, até Harold Wilson, antes de ser substituída no cargo por outro presidente, e já não teria intervenção em nada do que se passou nos últimos 50 anos.
Depois, os republicanos portugueses louvavam a forma exemplar como tinha trabalhado com todos os políticos, independentemente da sua cor política. Vamos agora imaginar novamente que o Reino Unido era uma república. Para chegar à chefia do Estado, Isabel II teria certamente que fazer carreira num dos principais partidos britânicos, seria conservadora, trabalhista, eventualmente liberal-democrata. Será que conseguiria ter tal isenção quando fosse eleita para a chefia do Estado republicano, lá para os 50 ou 60 anos de idade, depois de andar nas batalhas políticas partidárias? Ou seria sempre vista como alguém que representaria apenas uma parte do país, por muito que se esforçasse para ser de todos os britânicos? E quantas inimizades, quantos ódios até, a sua luta pelo poder acarretaria? Alguém acha que Isabel II seria a figura consensual que hoje é?
Por fim, outro dos elogios mais frequentes entre os republicanos portugueses ao longo reinado da rainha britânica é a forma discreta e elegante com que tem exercido o cargo, mesmo quando afectada pelos inevitáveis desgostos que a vida traz. Por nunca procurar a popularidade fácil, por não dar entrevistas, por se ter apenas dirigido directamente à população por meia dúzia de vezes, sempre em ocasiões marcantes. Alguém imagina um chefe de Estado eleito directamente que não andasse ao ritmo mediático, em busca de popularidade e votos, a associar-se a tudo quanto garantisse boa Imprensa e os favores da opinião pública?
São apenas três exemplos de contradições, haveria muitas mais para quem se desse ao trabalho de aprofundar o assunto em vez de pegar nele pela rama, como eu faço. Elogiar Isabel II é elogiar a monarquia constitucional. Muitos outros monarcas europeus, nestes 70 anos que ela leva de reinado, tiveram igualmente comportamentos exemplares, os quais, não tendo o destaque mediático da rainha britânica, mereceram e merecem o apoio da maioria esmagadora das respectivas populações, que não imaginam sequer mudar para um sistema republicano.
É fácil perceber que a monarquia constitucional é, inclusive em termos de estética política (tantas vezes ignorada entre nós), o sistema que melhor se adequa a todos os países europeus, com excepção da Suíça. Nestes elogios quase unânimes a Isabel II percebe-se que, em termos racionais, em termos de pura política, isso é claro. Mas depois há o lado irracional da política, os preconceitos, as visões forjadas no sistema educativo, mediático e cultural, que determinam que as repúblicas são um “progresso”, uma evolução democrática em relação às monarquias, sempre removidas para o “passado”. Perguntem a Isabel II o que acha disso. Talvez ela abra uma excepção e responda.
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A da equerda é o Portugal dos meus sonhos, a direi...
O Observador não anda distraído: contratou jornali...
Foi sempre mau escrever "a metro".A CEP, creio eu,...
Olá.Obrigada pela partilha.Boa semanaMaria
Nem mais, Zazie! Esses hipócritas mostram-se muito...