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Os debates eleitorais têm sido interessantes, e bastante esclarecedores. Padecem, porém, de dois elementos anexos e nefastos: os «moderadores», e os comentadores.
No domingo, no debate entre António Costa, do PS, e Francisco Rodrigues dos Santos, do CDS, Clara de Sousa mostrou como encara o papel de «moderadora». Depois da primeira intervenção de Costa, e estando Santos a contestar as afirmações feitas com números e gráficos sobre a situação económica e financeira, Clara Costa atropelou-lhe a resposta, porque, nas suas palavras, literalmente, aquilo que Santos dizia «pode ter muito interesse para si, para António Costa, pode ter muito interesse para os portugueses», mas, dizia ela, ela tinha feito uma pergunta qualquer muito clara, e isso é que Santos tinha que versar.
Os «moderadores» laboram todos no mesmo erro de Clara: julgam que alguém assiste aos debates para os ouvir ou tem algum interesse pelo que dizem. A esta ilusão, juntam a de que, após anos de omissão, e de falta de escrutínio e investigação, após anos de preguiça ou propaganda ou as duas coisas, alguém os vai achar mais estimáveis devido a estes ímpetos interventores.
Na segunda, no debate entre CDS e Livre, quando Francisco Rodrigues dos Santos respondia a Tavares e à habitual lengalenga esquerdista de que baixar impostos beneficia «os ricos», o moderador interveio repetidamente (felizmente, em vão) insistindo que Santos, em vez de debater, falasse de uma palermice qualquer em que ele, «moderador», estava muito encrençado.
Este frenesim de fazer figura leva até alguns «moderadores» mais iludidos a tornar-se protagonistas, passando a debater eles próprios (ou elas próprias) com algum candidato de direita que pretenda debater com um candidato de esquerda. Num debate em que participava André Ventura, Clara de Sousa discutiu tanto e tão intrometidamente com ele, que me esqueci do nome do senhor ou senhora no lado oposto da mesa ou do que quer que tenha dito. Este tipo de intromissão, vêem-na esses «moderadores» como uma espécie de prova de vida. Há noite, no bar, ou à mesa da cantina, com os colegas, podem depois lustrar-se: «Viste como eu o entalei?!» E, assim, a matilha aceita-os.
Terminados os debates, vêm os comentadores. Os comentadores desempenham fundamentalmente um papel: o de tentarem persuadir-nos que não vimos nem ouvimos o que ouvimos e vimos.
Há, evidentemente, casos extremos como Anabela Neves, na Tvi/CNN, ou Mariana Mortágua, na Sic/N, figuras que as duas estações consideraram boas fontes de comentário. Em termos de previsibilidade, são magníficas. A primeira traz da Assembleia o mesmo amor linear e extremado por tudo o que é socialista; no seu comentário, portanto e sem falha nenhuma, António Costa ganha sempre, os adversários de Costa perdem sempre em debate com ele, os adversários de Costa perdem sempre em debate com antigos ou putativos aliados de Costa, e os adversários mais perigosos de Costa perdem sempre em confronto com adversários menos perigosos. Quanto a Mariana Mortágua, dirigente e deputada do Bloco de Esquerda, faz o comentário que faria uma dirigente e deputada do Bloco de Esquerda.
E os comentadores-maioritariamente-de-esquerda dizem ainda mais. Dizem que se um representante de direita não enunciar pelo menos 5 medidas, ele não tem ideias; e que se enunciar as medidas e, ainda por cima, as explicar, então é porque tem um discurso demasiado ideológico.
De maneira que, sendo os debates vivos, proveitosos e esclarecedores, atrevo-me a perguntar sobre moderadores e comentadores: não se pode exterminá-los, ao menos metaforicamente?
José Mendonça da Cruz
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