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O post parte de um programa de rádio concreto, com pessoas concretas, mas na verdade diz respeito ao ar do tempo, não apenas às pessoas e circunstâncias concretas que lhe servem de base.
"foi o seu patriarcado que deu guarida a um criminoso internacional ... que aliás fugiu ... tudo leva a crer que aqui há fumo, e também há fogo" diz Susana Peralta, no seu estilo Chega de falar de terceiros, quando estes são acusados do que Susana Peralta entende ser inadmissível.
Não vou fazer o post sobre a forma como o assunto Ximenes Belo foi tratado neste programa, nem mesmo em relação ao paralelismo feito em relação à forma como a sociedade reagiu ao caso Casa Pia, mas não queria de deixar de realçar o reaccionarismo do que citei.
Saltemos por cima do facto de não ter havido qualquer tribunal a determinar se fulano ou sicrano é criminoso, até porque no caso de Ximenes Belo parece haver indícios mais que suficientes para, independentemente de se poder determinar juridicamente o que realmente se passou, se partir do princípio de que se passaram coisas graves e inadmissíveis, que provavelmente são crime (que, se provadas em tribunal, transformarão Ximenes Belo num criminoso).
O que me interessa é fazer notar que Susana Peralta entende que os criminosos devem ser ostracizados e castigados, são pessoas a quem não se pode dar guarida, e não podem recuperados para a sociedade porque os seus crimes são horrorosos.
É essa opção que é profundamente reaccionária.
Digamos que Susana Peralta - e grande parte da sociedade woke que reage aos crimes sexuais de forma totalmente diferente da forma como reage aos restantes crimes, isto é, um criminoso que mata um banqueiro num assalto tem direito a muitas explicações sociológicas sobre como a sociedade produziu este criminoso, mas isso não se aplica aos criminosos sexuais - está do lado dos lapidadores da mulher adúltera, rejeitando o "vai, e não tornes a pecar".
E esta é a primeira nota sobre os campeões da virtude: repetem o velhíssimo princípio de que o sistema penal serve para castigar o criminoso pelo que fez no passado, rejeitando os modernos princípios, filhos do iluminismo, de que o castigo inerente ao sistema prisional visa a futura reintegração do criminoso na sociedade, para além da prevenção de crimes futuros.
Desse ponto de vista, portanto, Susana Peralta, e grande parte da sociedade woke, parecem o Chega, que também está convencido que é com repressão, aumentos de penas e etc., que se resolvem os problemas sociais complexos associados ao facto da natureza humana ser ela, em si, imensamente diversa.
Como pegar neste exemplo nos leva demasiado depressa para campos diferentes do que me interessa, fiquemo-nos pelo que nesse programa se disse sobre Paula Amorim (mesmo esquecendo a tolice, anterior ao programa, de se defender que um imposto sucessório leonino era bom para dar a Paula Amorim um bocadinho de noção, como se o objectivo dos impostos fosse a correcção moral dos cidadãos e não o financiamento do Estado).
"ela diz com orgulho, eu deixei a escola, para quê ir para a universidade, para quê estudar ... isto é bem o retrato do que são as elites portuguesas ... ela está a dar um sinal de desvalorização total da escola ... ela seria certamente uma pessoa bem mais capaz hoje ... teria outro mundo e outra sofisticação se tivesse ido para Universidade".
Paroquialismo das elites portuguesas, diz Jorge Fernandes.
É extraordinário como a academia portuguesa é paroquial, na defesa de que ir para universidade é, em si, garantia de ser mais capaz e melhor, mais sofisticado, com mais mundo.
Bill Gates (microsoft), Mark Zuckerberg (facebook), Larry Page (google), Jack Dorsey (twitter), Henry Ford, Thomas Edison, John Rockfeller, Bob Dylan e muitos, muitos outros das elites de muitos países, também escolheram abandonar a escola.
Pelo contrário, há milhões de outras pessoas, alguns académicos encartados com doutoramentos e os mais altos graus da academia, que não valem um caracol.
Sim, é verdade que nos grandes números a escola é útil e é bom que a maior parte das pessoas frequentem a escola, mesmo que todos saibamos que seria um desperdício de talento esperar que Ronaldo acabasse um curso universitário para se poder dedicar a jogar futebol a sério.
Agora, dizer que frequenter a madrassa socialista a que dão a alcunha de sociologia do ISCTE (só para dar um exemplo), ou seguir o ensino de Boaventura Sousa Santos, torna alguém mais culto, com mais mundo, mais capaz, e etc., parece-me muito discutível.
Se se quiser criticar Paula Amorim, critique-se pelo que ela faz, agora fazer o barulho que vários académicos fizeram só porque ela escolheu, e disse que escolheu, não ir para a escola (o que é muito diferente de não estudar), isso, francamente, é a usual sinalização de virtude em que os moralistas de todos os tipos, tempos e mundos, sempre se basearam para se valorizar socialmente.
Concentrem-se em fazer melhores academias, meus caros académicos, e deixem os mexericos para as conversas com os amigos, porque como dizia alguém um dia destes, "se os meus filhos que conhecessem total e integralmente tudo o que fiz na vida, eu provavelmente morreria de vergonha".
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