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Estas fotografias são a base do comunicado da Milvoz sobre o facto da Bio-Reserva Integral do Vale da Aveleira ter ardido por estes dias.
A Milvoz é uma associação por quem tenho bastante simpatia, apoiei os seus primeiros crowdfunding para comprar terrenos, mas o sentimento de simpatia não é recíproco, penso eu, porque os dirigentes da Milvoz (em rigor, não diria que é associação unipessoal, mas assenta grandemente na preserverança e dedicação de Manuel Malva) se incomodam com as diferenças de opinião que existem entre eles e eu.
A lógica de gestão desta área, tanto quanto consigo perceber, em especial pelo seu nome, é uma lógica de não intervenção, reserva integral, mas assenta num pressuposto fundamental errado, o de que é possível excluir dos ecossistemas naturais um dos seus processos ecológicos mais relevantes, o fogo.
Na gestão de sistemas naturais, há três possibilidades racionais diferentes, mas a exclusão do fogo não é uma delas, a exclusão do fogo filia-se no pensamento mágico, não na racionalidade.
Uma das possibilidades racionais, e que faz sentido em alguns sistemas (por exemplo, em muitos zimbrais), aproxima-se da exclusão do fogo, requerendo uma gestão intensa da envolvente para diminuição do combustível disponível e uma atenção às projecções em caso de fogo intenso nas proximidades (dois, três quilómetros de raio, pelo menos). Nessa opção o que se pretende é mesmo excluir o fogo, pelo menos por largos períodos e limitar os seus efeitos, no caso de atingir essas áreas. Como disse, justifica-se para pequenas manchas de habitats que são mais susceptíveis ao fogo, mas é uma opção de risco e que não faz sentido na generalidade do território.
As duas opções racionais restantes (a Montis usa as duas) prendem-se com a gestão das características do fogo, isto é, frequência e intensidade.
A primeira consiste numa gestão contínua da quantidade e estrutura de combustíveis, de modo a que o fogo que atinja a parcela o faça em condições de baixa intensidade, se possível, e de limitação dos seus efeitos, se não for possível evitar que o fogo percorra a área com intensidades moderadas a elevadas.
A segunda consiste em gerir contando com a inevitabilidade do fogo, nas condições que calhar, procurando sobretudo ir melhorando o capital natural (solo e banco de sementes, por exemplo) de maneira a que a recuperação pós-fogo seja melhor, mais rápida e mais alinhada com os objectivos pretendidos para a área.
Nas fotografias acima é evidente uma grande severidade do fogo em grande parte da área, alguma piro-diversidade relevante, que resultam essencialmente de um relevo muito vivo, que cria condições fisiográficas bastante diferentes que, na sua interacção com o vento e influência na humidade do solo, deixam algumas áreas por arder, ou com intensidades de fogo diferentes (veja-se na parte inferior da fotografia como a combustão das folhas está longe de ser completa, indiciando baixa intensidade do fogo).
Avaliar mais que isto e dizer que este fogo representa perdas relevantes, neste momento, é precipitado, é preciso esperar pelo fim da próxima Primavera para perceber que indivíduos morreram ou não, e ver a resposta do banco de sementes e outros propágulos, só então se podendo falar verdadeiramente de avaliação dos efeitos deste fogo.
Se o objectivo é ter uma Reserva Integral, aceitar que o fogo faz parte do processo e que ciclicamente isto vai acontecer é meio caminho andado para baixar a angústia que imagens destas criam nos responsáveis pela gestão, nos sócios e doadores da associação, evitando o desânimo que faz baixar os braços a muita gente.
Pessoalmente, se eu tivesse responsabilidades de gestão, estar-me-ia nas tintas para o conceito formal de reserva integral e desenharia um programa de intervenções estruturado na resposta rápida ao risco de expansão de plantas invasoras e na retenção de solo através de técnicas de engenharia natural.
O que não me parece útil é protestar contra os efeitos de processos ecológicos fundamentais inerentes aos sistemas naturais.
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