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Ódio , Censura, Autoritarismo e Radicalismo

por Jose Miguel Roque Martins, em 05.07.20

Hoje, lá li, mais uma mudança de nome de uma estação de metro, neste caso na  Alemanha, que, de forma aparentemente sinistra, faz referencia á rua dos mouros. Não para meu alivio, o nome será mudado para outro qualquer num futuro próximo.

Desde a trágica morte de George Floyd, que se multiplicam iniciativas que considero perigosas e em muitos casos ridículas.

A brutalidade policial, pura e simples, não é menos frequente, nem menos grave,  que qualquer motivação racista. Esqueçamo-la para todo o sempre, neste caso, tal como aconteceu em todo o mundo.

Um movimento contrario ao racismo, parece ser sempre uma boa ideia. O problema é quando se transforma num movimento assente no ódio , na perseguição e erradicação de vultos e factos históricos, na simplificação excessiva da realidade e na imposição de uma nova e única forma de ver.

As discussões sobre se certos fenómenos são de esquerda ou direita são tão infindáveis como inúteis. Independentemente de rótulos, o que é mau deve ser rejeitado ou pelo menos denunciado com a violência possível.  E é isso que não está a acontecer, prolongando os efeitos deste movimento que atingiu proporções ridículas e que se desviou completamente do seu objectivo inicial: quem se lembra ainda de George Floyd e do racismo com consequências praticas?

Sempre me pareceu o cúmulo do racismo fazer de conta que alguém não pertence a determinada etnia. Como se essa pertença factual fosse vergonhosa ou um demérito para alguém. O meu Pai, nascido em África, durante anos, só teve amigos negros. Que lhe chamavam branco, simplesmente porque ele era branco. Não por qualquer tipo de racismo, que não nasce pelo nome.  

O racismo infelizmente ainda existe, apesar de um progresso lento ao longo do ultimo século. Nos EUA as coisas foram evoluindo. Nos sentimentos e sobretudo  nos nomes. Primeiro negro. Depois preto. Finalmente afrodescendente. Certo é que, enquanto não houver uma aceitação natural de que um ser humano é um ser humano, independentemente da sua etnia, religião, sexo e outras circunstâncias, estaremos mal. Mesmo que deixemos  de aparentemente reconhecer realidades óbvias e inócuas, como o facto de existirem varias etnias á face do planeta.

Odiar policias,  racistas e essencialmente todos os que são diferentes de nós, não faz os manifestantes melhores do que o que contestam. Afinal, só o objecto do odio muda de um lado e do outro. E não há nada pior do que o Ódio e as  generalizações selvagens.

Partir estátuas ou mudar o nome de ruas, estações de metro e outros,  parece-me mais digno de trogloditas do que de seres humanos contemporâneos. Revisionismo histórico, sempre foi uma pratica de governos totalitários e um empobrecimento das memorias colectivas, nunca um passo em frente ou reparação de erros passados.

Estranha e um pouco inquietante é a forma como este movimento se tem espalhado, como se fosse um franchising, sendo os protestos, em todos os locais, idênticos e pouco adaptados á realidade local. Claro que quem não tem a rua dos pretos ou de um esclavagista, como os Alemães, pode mudar a rua dos mouros!

Agora, em Portugal, anuncia-se a monitorização dos discursos de ódio nas redes sociais, o que nos tempos do antigo regime seria, justamente, contestado como um importante passo na direção da censura. Sou contra o ódio e sei das dificuldades de o definir. Será que o que é ódio para mim, é ódio para os outros?  Mas sou absolutamente contra a perda de liberdade de expressão que fatalmente se segue á introdução de limitações e monitorizações, mesmo que de aspectos (teoricamente) menos dignos e honrosos de partilha.

Nada disto, per-si, terá consequências devastadoras no futuro imediato. São apenas manifestações ainda moderadas de censura, autoritarismo e de radicalismo, ainda numa fase preliminar de afirmação. Mesmo que provoquem uma reação de radicalismos de sinal contrario. Que provavelmente não passarão de umas cabeças negras partidas por uns grunhos neonazis.

Mas é um exemplo muito preocupante de como o radicalismo está a atingir as democracias liberais. Não apenas por movimentos radicais de esquerda ou direita, mas também  por forças politicas teoricamente democráticas.  Preocupante.


12 comentários

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De Isabel a 05.07.2020 às 16:55

Tem de actualizar a sua informação sobre a dimensão destes movimentos e as reações das ditas autoridades europeias. E americanas também. Li há dias que há uns tempos também numa esquadra nos EU um preso morreu por levar com excesso de taser. Mas como era branco, ninguém noticiou o assunto. Em França esses tratamentos diferenciados também não são raros E durante o movimento dos Gilets jaunes, misturados com intervenções estranhas bastante esquisitas, foram mortos 11 manifestantes para alem de milhares de feridos. Quem deu atenção ao assunto?
A conversa do racismo,é como o feminismo, a xenofobia, o homofobismo, etc etc. tudo pretexto para algo mais complicado. Esperemos para ver o que será.
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De Jose Miguel Roque Martins a 06.07.2020 às 20:52

concordo. o meu post de hoje é exactamente a fazer o contraste entre as vidas negras importam, e as venezuelanas, que não importam nada
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De Anónimo a 05.07.2020 às 18:09

CARO sENHOR


Para sua tranquilidade, a dita senhora que irá "monitorizar" o discurso de ódio é filha daquele velhinho simpático ( na aparência) que monitorizava a sustentabilidade da segurança social: em quinze anos garantiu três vezes a mesma para os próximos 50 anos...!
Não terá grande eficácia: É apenas mais um bonito para Inglês (comunistas, bloquistas e, sei lá, talvez o próprio Rio) ver. E para confirmar a vilã sabujice dos meios de comunicação a soldo


Cumprimentos


VascoSilveira
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De Jose Miguel Roque Martins a 06.07.2020 às 20:53

ainda bem que por vezes somos incompetentes !
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De voza0db a 05.07.2020 às 21:57


E de pensar que andávamos nós há uns anitos atrás a cortar cabeças em África... e a fazer outras coisas divertidas, e agora andamos a fazer de conta que somos o que não somos!


Diversão é algo que não falta, seja nos Estados Unidos do Terrorismo seja em Portróikal!
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De Manuel Vicente Galvão a 05.07.2020 às 22:11

O movimento anti racista na sequência do assassinato pela polícia de um negro faz esquecer os assassinatos perpetrados pela mesma polícia contra brancos, amarelos ou vermelhos. E não são poucos...
Toda a violência gratuita de polícias devia dar origem, isso sim, a movimentos contra a violência policial... 
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De Jose Miguel Roque Martins a 06.07.2020 às 20:54

exactamente: se o incidente da esquadra de sacavam em que tiraram a cabeça a um preso que mataram, fosse um negro era o fim. se fosse antes do 25 de abril, era fascismo. 
brutalidade policial existe, está a ser combatida , e é o problema
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De Francisco Almeida a 05.07.2020 às 23:03


Excelente post e excelente exposição.
Não foi abordada, nem teria de ser, a especificidade portuguesa que não seria racista segundo Rui Rio o que provocou a indignação de tudo, todos e mais alguns do costume.
Parece claro que o racismo existe e existirá até que possa ser superado pela cultura, meta que se me afigura longínqua mas também creio que o racismo em Portugal é mitigado em relação ao de outros povos e também creio que Portugal é integracionista como poucos ou mesmo nenhum outro país.
Recorrendo à história, nomeadamente ao ódio aos judeus que existiu de facto no final do séc XV e inícios de XVI e que teve o seu mais triste episódio nos massacres de 1506 em Lisboa mas que, na minha interpretação não era um constituinte natural do povo português mas um resultado da propaganda e influência de Castela que entrou em Portugal pelas alianças luso-castelhanas da alta nobreza e da casa real. Esgotado o ódio popular o que ficou foi a acção nefasta da Inquisição, também ela uma imposição de Castela no contrato do 3º casamento de D. Manuel I e que só seria implementada por D. João III já com a indiferença popular e contra a vontade do próprio Papa.
A Inquisição foi-se tornando cada vez mais uma espécie de "Máfia" que explorava e vivia da riqueza dos cristãos-novos que perseguia, sempre com o apoio da Coroa - que nomeava um dos 3 juízes de cada processo e executava as sentenças - e da alta nobreza, cujos filhos, com o título de Familiares do Santo Ofício, eram na realidade esbirros ao serviço dessa Máfia, porventura também para se furtarem a servir na Índia, em África ou no Brasil.
O que acho de mais notável nessa Inquisição é que na segunda geração já só existiam cristãos-novos e cristãos velhos. Assim um processado com "parte de cristão-novo" já tinha filhos cristão-novos e se um deles casasse com uma cristã-velha os filhos do casal eram meios cristão-novos. E era vulgar que aquela parte de cristão-novo correspondesse apenas a 1/4, 1/8, 1/16avos ou mesmo 1/32avos, isto é, apenas um quarto avô cristão-novo.

Ora isto é o que se passa nos Estados Unidos que recusam qualquer estatuto de mestiço - excepto aos de índios e normalmente com adjectivação ofensiva - e um indivíduo com uma única avó negra é para todos os efeitos negro. Estima-se que todos os anos entre de vinte a quarenta mil negros, consigam o estatuto social de brancos, não tendo características negróides evidentes e tendo suficiente dinheiro para poderem mudar para lugar diferente onde não sejam conhecidos. O simples facto desses milhares escolherem abandonar família e amigos para o conseguir é prova evidente que o estatuto de negro nos EUA é tão aviltante ou humilhante que justifica esse sacrifício.
Que me desculpem os politicamente correctos mas a diferença para a realidade portuguesa é tão grande que dizer que Portugal não é racista não sendo uma verdade científica, é uma coisa que se pode dizer em linguagem casual e que não deveria causar escândalo.
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De Jose Miguel Roque Martins a 06.07.2020 às 20:56

os Estados Unidos tem vindo a percorrer um caminho, mas ainda estão muito mais atrasados do que nós! 
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De Isabel a 06.07.2020 às 09:47

O problema não está entre a esquerda e a direita mas sim, simplificando, entre a manutenção e o fim das soberanias. 
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De Jose Miguel Roque Martins a 06.07.2020 às 20:58

não sei se percebo o seu comentário. A minha grande preocupação é que a democracia esteja a ser posta em causa por partidos com tradição democrática!
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De Isabel a 06.07.2020 às 21:27

Temo que, nalguns países, seja esse o caso.

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