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O último soldado da velha guarda

por Daniel Santos Sousa, em 24.01.24

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Passa mais um ano em que se assinala a morte de Sir Winston Churchill. Descendente doutro Churchill notório, Lord John Churchill, primeiro duque de Marlborough, herói das guerras contra Luís XIV. Procurou as referências na genealogia, embora nem sempre com o sucesso desejado, num percurso político sinuoso, mas no final glorificante. A biografia que escreveu do ilustre antepassado não escondia o paradoxo aliciante de encarnar a missão salvífica do reino. Churchill teve o momento ideal quando defrontou Hitler, apagando um curriculum de fracassos e eliminando as fragilidades políticas que outrora o dirimiram.

Foi em tudo um aristocrata: político, escritor, historiador, soldado. Pois, aos filhos da boa fortuna, para quem a sorte já nasce determinada, a posição mais não é do que a sujeição natural a um destino. Assim cumpriu o papel esperado, mas não garantido, porquanto nem sempre a sorte favorece os audazes, mas os esclarecidos.

Enquanto a Europa via ascender figuras sinistras vindas das sombras das sociedades, os pequenos tiranetes e os aspirantes a Césares, o Reino Unido ainda produzia um escol privilegiado. Era a hierarquia e o sangue quem determinavam o sucesso. Ao espírito meritocrático das classes-médias repugna o privilégio do nascimento, mas contrariando os corolários revolucionários foi também a preparação desde o berço quem determinou a sorte dos impérios. Seria dizer pouco: o mérito existe dentro da hierarquia que sabe também dinamizar-se. Sem ter sido arrasada pelas revoluções jacobinas e comunistas e não conhecendo a destruição das instituições de forma tão violenta, como aconteceu nos últimos duzentos anos no continente europeu, o Reino Unido criava anticorpos às ditaduras e totalitarismos reinantes.

Churchill pode ter tido falhas, mas pertencia àquela geração moldada no sentido da honra e do dever que é a divisa da aristocracia. A fidelidade ao trono nunca foi posta em causa, quando noutras paragens, por muito menos, generais ambiciosos e políticos sem escrúpulos se tornaram os algozes dos seus soberanos. Para a Europa seria quase um homem do Antigo Regime - o marco historiográfico que o reino de Inglaterra dispensa porque a continuidade é segura e milenar. Ali o "Antigo Regime" corrigiu-se e desenvolveu-se (usando a feliz expressão de Renan), criticamente empossando a burguesia comercial e a aristocracia do dinheiro, arrasando a presença do catolicismo, sacrificando irlandeses e escoceses (para quem a dita Revolução Gloriosa não foi assim tão gloriosa), desenvolvendo o capitalismo nefasto e comercialista... são as contrariedades do sistema crescido dos compromissos prováveis e das circunstâncias inauditas.

Churchill foi o produto desse mundo e talvez um último vestígio da "velha guarda", moldado no espírito vitoriano do culto do Império. Educado no sentido do dever, ensinado a desempenhar o alto desígnio do sangue e a expectativa de corresponder à exigência do status. Foi um homem do seu tempo, com todas as qualidades e defeitos que pudessem ser reunidas num espírito indomável.


22 comentários

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De balio a 24.01.2024 às 12:00


Churchill teve o momento ideal quando defrontou Hitler, apagando um curriculum de fracassos e eliminando as fragilidades políticas que outrora o dirimiram.



Este post distingue-se por reconhecer que Churchill teve (muitos) pontos negativos. Ainda bem.
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De Costa a 24.01.2024 às 15:44

Teve, sim senhor. A perfeição não existe, muito que isso repugne ao seu ego, Lavoura. E a liberdade que você tem, em solo europeu, de disparatar impenitentemente, como o faz nas caixas de comentários dos blogues que frequenta, como a classifica? É que em grande medida a deve a ele e aos (generalizadamente tidos como cretinos, pedantes e retrógrados) ingleses. Britânicos, enfim.
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De Rodrigo Raposo a 24.01.2024 às 20:17

Grande resposta a este idiota avençado que deve ter a profissão de dizer alarvidades nas caixas de comentários dos blogues ... 
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De Anonimo a 25.01.2024 às 12:28

Avençado por quem?
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De Figueiredo a 24.01.2024 às 16:04

Foi um destacado liberal/mação, racista, xenófobo, e genocida, apoiante do Nacional-Socialismo e de Hitler.


Com a vitória da União Soviética na Segunda Guerra Mundial e a derrota do Nacional-Socialismo e os seus Aliados, Winston Churchill sugeriu que se atacasse a União Soviética.


Era o homem do Estado Profundo («Deep State») nos Estados Unidos da América. 


«...o Reino Unido criava anticorpos às ditaduras e totalitarismos reinantes...»



A Casa de Windsor riu-se.
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De RR a 24.01.2024 às 20:14

Mais tabaco na mistura; mais tabaco ... 
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De passante a 24.01.2024 às 21:24

Uma boa razão para ratar na casaca do Churchill é que ele serve de inspiração a fulanos como o Boris Johnson, que depois vai cheio de empáfia churchilliana para a Ucrânia, e sabota o acordo de paz que quase houve em 2022.


Dois anos depois temos a Ucrânia despovoada e a Europa com a jugular cortada.


E é com pena que ponho o Churchill e o Johnson na categoria de facínoras, gostava de ler o que escreviam.
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De Figueiredo a 25.01.2024 às 12:16

O objectivo da Inglaterra (os Anglo-Sionistas) sempre foi destruir a Europa e escravizar os Europeus.
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De Luis a 24.01.2024 às 23:43

Claro e os camaradas da URSS esses sim foram uns opositores ao Nacional-Socialismo de Hitler e ainda antes da guerra com o pacto Molotov-Ribbentrop.





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De Figueiredo a 25.01.2024 às 12:15

O Pacto Molotov-Ribbentrop surge na recusa por parte da Inglaterra e da França em entrar na coligação militar proposta por Estaline para neutralizar o Exército da Alemanha Nacional-Socialista e evitar a 2ª Guerra Mundial.
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De Licínio Bingre do Amaral a 25.01.2024 às 02:35

Informe-se melhor, antes de escrever informações incorrectas.
Churchill desde o primeiro momento foi um opositor ao regime nazi. Logo em 1933 começou a chamar a atenção para os perigos do totalitarismo na Alemanha e foi um forte crítico do apaziguamento seguido pelo Governo Britânico. 
Em 1940, já Primeiro Ministro, resistiu isoladamente contra a Hitler, numa altura em que Stalin e a URSS eram aliados e tinham dividido a Polónia.
Churchill representa a resistência ao totalitarismo e a defesa da democracia.
A sua memória deve ser recordada com orgulho por todos os europeus e todos os democratas pelo mundo.
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De Figueiredo a 25.01.2024 às 12:11

Não seja mentiroso(a).
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De Licínio Bingre do Amaral a 25.01.2024 às 19:39

O seu comentário apenas prova o seu desconhecimento da história europeia ou então um facciosismo e subserviência ao comunismo na versão moscovita.


Sem Churchill liderando sozinho a luta da Europa contra o totalitarismo nazi de Junho de 1940 até Junho de 1941 e recusando-se a compromissos hoje provavelmente teríamos uma Europa diferente, talvez dividida entre a opressão nazi e a opressão comunista.


Churchill é e continuará a ser uma figura ímpar entre os líderes democráticos da Europa e do Mundo.
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De Figueiredo a 26.01.2024 às 11:14

E continua a mentir.
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De Licínio Bingre do Amaral a 27.01.2024 às 08:58

Não é por repetir monocordicamente as suas afirmações que elas não continuam a ser falsas.
Leia, estude, aprenda e talvez assim possa deixar de ser ignorante e faccioso.
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De Figueiredo a 28.01.2024 às 08:29

Da mesma forma que você repete a mentira, a verdade também será repetida.
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De Licínio Bingre do Amaral a 28.01.2024 às 10:54

Temos um ditado popular que diz que o pior cego é o que não quer ver e temo que seja esse o seu caso.
Contudo, para ver se se deixa informa correctamente e fica esclarecido, recomendo-lhe a leitura de duas biografias: “Churchill uma Vida”, de Martin Gilbert e “Churchill Caminhando com o Destino de Andrew Roberts”.
Com a leitura destas obras verá que as suas afirmações são completamente falsas.
Espero que leia, se informe e aprenda, pois isso é fácil se o quisermos.


Pela minha parte termino, certo que lhe dei as pistas necessárias para que possa conhecer a realidade dos factos. 
Se se vai informar ou não isso já é consigo.
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De Figueiredo a 29.01.2024 às 10:59

Vá estudar História.
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De urinator a 25.01.2024 às 09:52

Alguém disse:
«mataram o Porco errado!»
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De João Brandão a 27.01.2024 às 17:06

E respostas a este comentário, ninguém dá?
Nem os fervorosos apoiantes ... nem os 'desprezí(á)veis' 'desapoiantes' ???


Gostei do comentário.
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De urinator a 25.01.2024 às 09:50

muito melhor a aristocracia do ps:
soares, sócrates, costa, pns
« É um ver se te avias!»
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De Luis a 25.01.2024 às 12:39

É como comparar uma carro de bois com um ferrari para mal dos nossos pecados.

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