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Passa mais um ano em que se assinala a morte de Sir Winston Churchill. Descendente doutro Churchill notório, Lord John Churchill, primeiro duque de Marlborough, herói das guerras contra Luís XIV. Procurou as referências na genealogia, embora nem sempre com o sucesso desejado, num percurso político sinuoso, mas no final glorificante. A biografia que escreveu do ilustre antepassado não escondia o paradoxo aliciante de encarnar a missão salvífica do reino. Churchill teve o momento ideal quando defrontou Hitler, apagando um curriculum de fracassos e eliminando as fragilidades políticas que outrora o dirimiram.
Foi em tudo um aristocrata: político, escritor, historiador, soldado. Pois, aos filhos da boa fortuna, para quem a sorte já nasce determinada, a posição mais não é do que a sujeição natural a um destino. Assim cumpriu o papel esperado, mas não garantido, porquanto nem sempre a sorte favorece os audazes, mas os esclarecidos.
Enquanto a Europa via ascender figuras sinistras vindas das sombras das sociedades, os pequenos tiranetes e os aspirantes a Césares, o Reino Unido ainda produzia um escol privilegiado. Era a hierarquia e o sangue quem determinavam o sucesso. Ao espírito meritocrático das classes-médias repugna o privilégio do nascimento, mas contrariando os corolários revolucionários foi também a preparação desde o berço quem determinou a sorte dos impérios. Seria dizer pouco: o mérito existe dentro da hierarquia que sabe também dinamizar-se. Sem ter sido arrasada pelas revoluções jacobinas e comunistas e não conhecendo a destruição das instituições de forma tão violenta, como aconteceu nos últimos duzentos anos no continente europeu, o Reino Unido criava anticorpos às ditaduras e totalitarismos reinantes.
Churchill pode ter tido falhas, mas pertencia àquela geração moldada no sentido da honra e do dever que é a divisa da aristocracia. A fidelidade ao trono nunca foi posta em causa, quando noutras paragens, por muito menos, generais ambiciosos e políticos sem escrúpulos se tornaram os algozes dos seus soberanos. Para a Europa seria quase um homem do Antigo Regime - o marco historiográfico que o reino de Inglaterra dispensa porque a continuidade é segura e milenar. Ali o "Antigo Regime" corrigiu-se e desenvolveu-se (usando a feliz expressão de Renan), criticamente empossando a burguesia comercial e a aristocracia do dinheiro, arrasando a presença do catolicismo, sacrificando irlandeses e escoceses (para quem a dita Revolução Gloriosa não foi assim tão gloriosa), desenvolvendo o capitalismo nefasto e comercialista... são as contrariedades do sistema crescido dos compromissos prováveis e das circunstâncias inauditas.
Churchill foi o produto desse mundo e talvez um último vestígio da "velha guarda", moldado no espírito vitoriano do culto do Império. Educado no sentido do dever, ensinado a desempenhar o alto desígnio do sangue e a expectativa de corresponder à exigência do status. Foi um homem do seu tempo, com todas as qualidades e defeitos que pudessem ser reunidas num espírito indomável.
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