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O regresso da infantaria

por Jose Miguel Roque Martins, em 24.05.22

Ainda com a memoria da segunda grande guerra, o poder militar parecia ser um exclusivo de quem tinha armas pesadas, aviões, grandes navios e tanques, muitos tanques. A guerra da Ucrânia está a confirmar que a infantaria está de volta.

As armas ofensivas sofisticadas encontraram armas defensivas, muito mais baratas, à altura. A guerra de movimentos, em confrontos de exércitos razoavelmente equipados, parece mais difícil, volta a guerra de posições.

Para além dos misseis Stinger e afins, que já tinham demonstrado a sua eficácia na guerra do Afeganistão, os sistemas antiaéreos sofisticados evoluíram de tal forma que, não tornando redundante a aviação, a tornam num actor secundário demasiado bem pago.  Três meses depois do inicio da guerra, a Rússia, apesar da sua esmagadora superioridade, não consegue operar com eficácia visível na Ucrânia. A excepção teórica à supremacia das defesas aéreas, os aviões furtivos, não fazem parte do arsenal Ucraniano, enquanto os Russo aparentam não ter stocks de misseis inteligentes de alta precisão, lançados a grande altitude e distancia, que lhes permitiriam fazer a diferença no terreno. Aviões antigos, como o F16, estão, por isso, cada vez mais limitados nas funções que desempenham com eficácia, enquanto aviões realmente úteis, como o F-35, custam cerca de 100 milhões por unidade, sendo o preço de cada míssil exorbitante.   Já os drones, que custam uma pequena fracção do que custa um avião, dão boa conta de si, sabendo-se que os muitos que serão abatidos, têm uma relação custo-eficácia muito superior à da aviação convencional. Apenas a falta de domínio aéreo total pela Rússia, permitiu que a Ucrânia tivesse resistido como resistiu.

Também a época dos grandes navios, em confrontos entre nações bem armadas, parece estar no fim. O afundamento do Moskva, apesar de dotado de sistemas de defesa anti-mísseis, supostamente sofisticadas, faz repensar a lógica de construir armas que custam biliões e que podem ser afundadas com armas que custam uma ínfima parcela.

Nos carros de combate, apesar de as diferenças não serem tão gritantes, demonstram que Bazucas sofisticadas ( cada míssil custando perto de 80.000 euros) , são capazes de os deter, mais uma vez, com grande prejuízo económico para quem investe mais. O tempo actual parece ser de munições caras e armas baratas.

É por todas estas razões que a guerra na Ucrânia se transformou numa guerra próxima da I grande guerra, em que a infantaria e as trincheiras, regressaram em grande força.


4 comentários

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De Anónimo a 24.05.2022 às 10:24

Bem lembrado.
De facto numa época de altas tecnologias, em que quase tudo é possível, esta guerra que se poderia esperar ser o grande mostruário dessa mesma tecnologia, não é e está cada vez mais parecida com a I GG.
Só espero que o senhor Putin não se lembre se usar o nuclear, porque assim voltaríamos à guerra com paus e pedras.
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De balio a 24.05.2022 às 11:05


a guerra na Ucrânia se transformou numa guerra próxima da I grande guerra, [com] infantaria e trincheiras


Exatamente. Ainda ontem passaram na televisão imagens da guerra, com soldados ucranianos enfiados numa trincheira a dizerem que os russos estavam noutra a 400 metros de distância; se alguém punha a cabeça de fora da trincheira, arriscava-se a levar um tiro.



Também já anteriormente tinham mostrado imagens das tropas ucranianas, antes da invasão russa, em frente às áreas separatistas do Donbass. Mais uma vez, o que se via eram trincheiras com os soldados ucranianos enfiados nelas.



Isto é ainda mais assim porque o Sul da Ucrânia é terreno absolutamente plano, tal e qual como a frente franco-alemã da Primeira Guerra. Não há montes nem florestas. Num tal terreno a visibilidade é absoluta e a infantaria só pode operar em trincheiras. Qualquer potencial alvo é altamente visível e é fácil disparar contra ele.
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De Anónimo a 24.05.2022 às 22:21

"Apenas a falta de domínio aéreo total pela Rússia, permitiu que a Ucrânia tivesse resistido como resistiu." Pois é, e é essa "falta" que tem permitido à aviação ucraniana continuar a martelar incansavelmente as linhas russas... 
Incrível, meu caro! Mas não parece que vá durar quatro anos, como a 1º Guerra. Olhe, informe-se aqui, a partir dos 7',  que até os entusiastas britânicos da guerra já estão a abrir os olhos : https://www.youtube.com/watch?v=-jbJxhjgAoY


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De Martim Moniz a 25.05.2022 às 10:42

Com trincheiras ou sem trincheiras continuamos a "ignorar" o elefante na sala ou a olhar para as árvores sem ver a floresta https://www.rooshv.com/bankers-rule-the-world 

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