Depois de destruir uma série de escolas de que os pais gostavam mais (não discuto se são melhores ou não, limito-me a constatar que os principais interessados as preferiam às alternativas) e que saíam mais baratas ao contribuinte, o actual governo pretende usar o mesmo tipo de mentiras que usou sobre os contratos de associação para fazer a vontade ao PC e BE, à custa da prestação de serviços sociais básicos, agora na saúde (como aliás também fez nos transportes públicos, logo que chegou).
Tanto quanto sei (e sei pouco sobre o assunto, excepto que o serviço tem sido considerado muito bom, e o preço é muito em conta), o que se passa no hospital de Braga é que grande parte das cirurgias, quando foi feita a concessão, eram feitas com internamento, cujo pagamento estava previsto no contrato.
As coisas evoluíram desde a concessão, e grande parte das cirurgias passaram a ser feitas em ambulatório havendo actos médicos inerentes a essas cirurgias a ser prestados de borla porque não estavam previstos no contrato, o que o concessionário tem vindo a contestar, pretendendo renegociar o contrato original para o adequar à prática real.
O Governo não tem querido renegociar, o concessionário manteve o cumprimento do contrato nestas circunstâncias, mas não está disponível para o manter para lá do tempo contratual previsto (tudo informações a confirmar, é muito difícil saber se é realmente isto que está em causa, para um leigo como eu).
Como o Estado não acautelou um novo concurso para concessão em tempo útil, pretende estender o tempo de concessão nas actuais circunstâncias, até ter o concurso (ou reverter o hospital para a gestão directa do Estado), situação para a qual o concessionário, legitimamente, não está disponível.
Tal como nos contratos de associação o que é arrepiante não são as opções e o resultado final, o que é arrepiante é toda a discussão pública sobre o assunto ser feita sem informação de base objectiva, sobre a qual cada um possa formar a sua opinião, baseando-se essencialmente em afirmações de partes interessadas, muito pouco escrutinadas (ou em bitaites pouco fundamentados, como os que estou aqui a debitar, por não saber como pode um mané qualquer ter informação de confiança, facilmente acessível e legível por leigos sobre o assunto).
Por causa desta cultura é que o Público, para saber exactamente as condições em que foi autorizado o pagamento antecipado ao FMI teve de ir lê-las no site do parlamento alemão.
É esta opacidade (que é possível por causa do Estado de bovinidade geral da imprensa, que ouve este e aquele e acha que isso a dispensa de ir à procura dos factos) que está na base da manutenção do principal problema económico do país: a captura do Estado pelos interesses privados ou, na definição certeira de João César das Neves, o facto de vivermos num capitalismo de compadres.
Nos últimos anos melhorou-se francamente a transparência da actuação financeira do Estado, é certo e é bom, mas infelizmente quase toda essa melhoria decorreu de imposições da Troica, sendo activamente combatida por este Governo, no que me parece um dos resultados mais perniciosos da geringonça, quer no enfraquecimento dos reguladores, quer na sistemática desvalorização dos orgãos que lhe escapam do controlo, quer na retenção de informação, quer na manipulação de informação, quer na activa e evidente ocupação dos cargos de decisão relevantes por generais prussianos.
É por isso que eu já só peço uma coisa: por favor, deixem-me votar na Troica.