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O que eu queria era poder votar na Troica

por henrique pereira dos santos, em 13.12.18

Depois de destruir uma série de escolas de que os pais gostavam mais (não discuto se são melhores ou não, limito-me a constatar que os principais interessados as preferiam às alternativas) e que saíam mais baratas ao contribuinte, o actual governo pretende usar o mesmo tipo de mentiras que usou sobre os contratos de associação para fazer a vontade ao PC e BE, à custa da prestação de serviços sociais básicos, agora na saúde (como aliás também fez nos transportes públicos, logo que chegou).

Tanto quanto sei (e sei pouco sobre o assunto, excepto que o serviço tem sido considerado muito bom, e o preço é muito em conta), o que se passa no hospital de Braga é que grande parte das cirurgias, quando foi feita a concessão, eram feitas com internamento, cujo pagamento estava previsto no contrato.

As coisas evoluíram desde a concessão, e grande parte das cirurgias passaram a ser feitas em ambulatório havendo actos médicos inerentes a essas cirurgias a ser prestados de borla porque não estavam previstos no contrato, o que o concessionário tem vindo a contestar, pretendendo renegociar o contrato original para o adequar à prática real.

O Governo não tem querido renegociar, o concessionário manteve o cumprimento do contrato nestas circunstâncias, mas não está disponível para o manter para lá do tempo contratual previsto (tudo informações a confirmar, é muito difícil saber se é realmente isto que está em causa, para um leigo como eu).

Como o Estado não acautelou um novo concurso para concessão em tempo útil, pretende estender o tempo de concessão nas actuais circunstâncias, até ter o concurso (ou reverter o hospital para a gestão directa do Estado), situação para a qual o concessionário, legitimamente, não está disponível.

Tal como nos contratos de associação o que é arrepiante não são as opções e o resultado final, o que é arrepiante é toda a discussão pública sobre o assunto ser feita sem informação de base objectiva, sobre a qual cada um possa formar a sua opinião, baseando-se essencialmente em afirmações de partes interessadas, muito pouco escrutinadas (ou em bitaites pouco fundamentados, como os que estou aqui a debitar, por não saber como pode um mané qualquer ter informação de confiança, facilmente acessível e legível por leigos sobre o assunto).

Por causa desta cultura é que o Público, para saber exactamente as condições em que foi autorizado o pagamento antecipado ao FMI teve de ir lê-las no site do parlamento alemão.

É esta opacidade (que é possível por causa do Estado de bovinidade geral da imprensa, que ouve este e aquele e acha que isso a dispensa de ir à procura dos factos) que está na base da manutenção do principal problema económico do país: a captura do Estado pelos interesses privados ou, na definição certeira de João César das Neves, o facto de vivermos num capitalismo de compadres.

Nos últimos anos melhorou-se francamente a transparência da actuação financeira do Estado, é certo e é bom, mas infelizmente quase toda essa melhoria decorreu de imposições da Troica, sendo activamente combatida por este Governo, no que me parece um dos resultados mais perniciosos da geringonça, quer no enfraquecimento dos reguladores, quer na sistemática desvalorização dos orgãos que lhe escapam do controlo, quer na retenção de informação, quer na manipulação de informação, quer na activa e evidente ocupação dos cargos de decisão relevantes por generais prussianos.

É por isso que eu já só peço uma coisa: por favor, deixem-me votar na Troica.


8 comentários

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De António Maria a 13.12.2018 às 09:54

Eu também preferiria votar na troica, dada a minha "condição-de-sem-abrigo-eleitoral" como a Maria João Avilez escreveu no Observador.
Actualmente estou inclinado para a Aliança. Do mal o menos......
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De Luís Lavoura a 13.12.2018 às 10:53

o que é arrepiante é toda a discussão pública sobre o assunto ser feita sem informação de base objectiva, sobre a qual cada um possa formar a sua opinião, baseando-se essencialmente em afirmações de partes interessadas, muito pouco escrutinada

Pois, eu diria que essa é quase sempre a situação em Portugal.

Por exemplo sobre as greves, eu não sei que opinião possa formar, porque nunca tenho confiança nas "informações" que ouço sobre as verdadeiras condições de trabalho na empresa em greve.
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De Luís Lavoura a 13.12.2018 às 10:56

destruir uma série de escolas de que os pais gostavam mais

Admira-me que o Henrique compre esse argumento, porque considero que o Henrique é a favor de um Estado com decisões justas e escrutináveis.

Ora, a verdade é que os contratos de associação foram concedidos e mantidos de forma não escrutinável, em alguns casos com indícios de corrupção.

A questão não é saber quais as escolas de que os pais gostam mais, mas sim saber porque é que certas escolas de que os pais gostam mais recebem contrato de associação e outras escolas de que os pais gostam mais não recebem.
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De henrique pereira dos santos a 13.12.2018 às 13:01

Luís, estou inteiramente de acordo contigo: desde que os custos sejam semelhantes (e, neste caso, até eram mais baixos) para o contribuinte, todos os pais que o quisessem deveriam poder fazer contratos de associação para ter as escolas que entendem que são melhores.
O problema é que o Estado, em Portugal, entende que os pais não são de confiança e não podem decidir sobre a educação dos filhos, e por isso prefere proibir uma solução de que os pais gostam mais e que sai mais barata aos contribuintes, para impor a sua solução, de que os sindicatos gostam mais e que sai mais cara aos contribuintes.
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De José Lopes da Silva a 13.12.2018 às 11:35

Luís, só te admira (a ti, que te sigo nos blogs há mais de uma década) porque ainda encaras os blogues como um espaço de debate aberto. Os blogues embruteceram ao longo da última década e copiaram o estilo das páginas de Facebook; não há debate, só combate político. "saíam mais baratas ao contribuinte"? A sério?
Debate aberto, só no Pedro Arroja. Mas claro, ele deixou o debate há uns tempos porque se dedicou a meter as mãos na massa e enfrentar lobbies...
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De henrique pereira dos santos a 13.12.2018 às 12:58

Sim, no caso do hospital de Braga, saem 33 milhões de euros por ano mais barato, no caso das escolas, é ir ler os relatórios sobre o assunto, quer do tribunal de contas, quer outro mais específico.
Não é uma questão de opinião, é uma realidade verificável.
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De Anónimo a 13.12.2018 às 13:12

Henrique,
Eu, outro mané com boa informação que, no entanto, precisaria de confirmação, acrescentarei este bitaite: o governo disse ao grupo Mello que para a renovação do contrato pagaria menos 30%. Então, «os privados» disseram que não estão interessados.
Se a proposta do governo vem de infantilidade ou fanatismo ideológico, não sei.
Se a bovinidade dos media perante os acontecimentos no hospital persistentemente qualificado como melhor e mais barato resulta de estupidez ou deliberada omissão, não sei também. 
Mas pode-se escolher.
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De António Lencastre a 14.12.2018 às 19:33

Um povo que não tem inteligência coletiva...é assim.
...  enxameiam os tribunais com lcd´s ! Sim..., perante a inércia  de todos ... tv., e vão chamar ...reforma. Comarcas ? Autarcas...é ver o número de julgamentos nas terrinhas que nos custam um dinheirão...o tal interior amado tem custos...


O MP lança greve ... nova modalidade: a greve por hipótese. 
Dizem que O CENTRÃO quer tomar conta da corrupção...
Bolas, que cegueira...
Sim, não adianta dar loas à ex-PGR, é preciso ...julgamentos, sentenças, ..prova...e não andarem atrás do CM Jornal e do circo,  conhece o paciente leitor alguma decisão?

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