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Vera Novais e José Carlos Duarte escreveram uma coisa a que o jornal Observador (não sei como funciona, não sei se tem editores que olhem para o que os jornalistas fazem e escolhem títulos, não sei se tem um director que se responsabiliza por tudo o que lá se passa, não sei, e por isso não sei quem escolheu o título) deu o seguinte título: "Ordem dos Médicos instaura processo disciplinar contra médico negacionista de Coimbra".
O que escreveram pode resumir-se no seguinte: O Observador teve acesso a denúncias recebidas pela Ordem dos Médicos que acusam o médico de pertencer a associações, dizer umas coisas e fazer umas caminhadas, o que se traduz numa campanha contra a vacinação da Covid19. Após a análise destes factos, a seccção regional do Centro da Ordem dos Médicos decidiu avançar para um processo disciplinar.
Não me interessa nada discutir estes factos em si (eu sei, deveria interessar-me saber por que razão uma ordem profissional institui processos disciplinares por delito de opinião, mas já desisti dessa discussão) mas interessa-me discutir a notícia a partir do meu ponto de observação.
Diogo Cabrita, o médico em causa, era um dos irmãos mais novos (um ano de diferença) de um dos meus colegas da escola primária (uma das pouquíssimas fotografias minhas em criança, que conheço é exactamente numa festa de anos do Pedro Cabrita), e nunca mais o vi desde 1974. Mas há poucos anos restabelecemos contacto por via electrónica, através de um amigo comum, também meu colega de turma e vizinho do lado dos Cabritas em Lourenço Marques (hoje Maputo), razão pela qual vou acompanhando o que o Diogo tem vindo a fazer e escrever.
Durante bastante tempo, no início da epidemia, o Diogo era uma das pessoas a quem mais recorria para ter informação concreta sobre o que se passava nos hospitais, exactamente porque trabalhava na urgência de um dos hospitais de referência covid, aliás o único exclusivamente dedicado à covid. Para negacionista não está mau, como experiência sobre a doença.
Também por essa proximidade acompanhei o episódio em que o Diogo esteve nos cuidados intensivos, algum tempo depois de ter sido vacinado (nada mau, para quem, de acordo com os jornalistas, faz campanhas contra a vacinação), por causa de uma reacção estranha do seu organismo. O Diogo sempre disse que não podia atribuir esse episódio, em que quase bateu a bota, à vacina, embora também não pudesse dizer que as duas coisas não tinham relação, tratava-se de uma reacção do sistema imunitário que poderia ser desencadeada por qualquer coisa que foi impossível identificar, e foi depois desse episódio que o Diogo, no contexto da sua recuperação, fez uma caminhada de Coimbra a Lisboa, defendendo que não se vacinassem crianças e adolescentes e, já agora, alterou radicalmente a sua alimentação como medida profilática, tanto quanto percebi.
Os jornalistas omitem, na sua peça, todo este contexto: compreende-se, era desagradável escrever o que escreveram ao mesmo tempo que diziam que se tratava de um médico que fazia urgências covid - a que não era obrigado - quando muitos dos seus colegas mais novos arranjavam desculpas para não se exporem ao risco de uma doença sobre a qual se sabia muito pouco na altura.
O meu problema não é bem com os jornalistas.
Acho que o direito à asneira é sagrado e com certeza os jornalistas em causa têm o direito a:
omitir quem tem feito estas queixas sistemáticas à Ordem dos Médicos;
omitir que a própria Ordem dos Médicos tinha um parecer que escondeu do público durante meses e que o presidente do Conselho Nacional de Ética e Deontologia Médica da Ordem dos Médicos (Manuel Mendes da Silva) negou peremptoriamente que existisse, para rapidamente passar a dizer que se tinha esquecido da sua existência quando confrontado com a sua assinatura no dito parecer, parecer esse que dizia basicamente o mesmo que Diogo Cabrita;
omitir todo o trabalho de Diogo Cabrita relacionado com a covid,
e o mais que quiserem.
O jornal é que, se quer ser respeitado e ter credibilidade, não pode deixar de perguntar aos jornalistas, antes da publicação:
o que é um negacionista?
quem determinou que Diogo Cabrita é negacionista?
que critérios foram usados para falar de questões laterais (quem esteve ou deixou de estar na caminhada que fez de Lisboa a Coimbra) ao mesmo tempo que se omitem questões centrais da sua actividade?
que esforços foram feitos para ouvir o visado antes de publicar a peça em causa?
e por aí fora.
Dêem as voltas que derem, isto é jornalismo de treta.
Escusam de vir com a falta de meios, com as redacções pequenas e essas coisas todas, escolher fazer esta peça assim, escolher umas informações em detrimento de outras não é uma questão de mais ou menos meios, é uma questão de brio profissional e de qualidade do que se faz.
E peças destas não têm qualidade nenhuma, são lixo.
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Olá.Obrigada pela partilha.Boa semanaMaria
Não deixa de ser irónico que uma organização de ho...
Muito obrigado Henrique.
Não me surpreendeu tanto como ao JT em virtude do ...
Realmente, fazia falta aqueles regimes da foice e...